Dez minutos ou dois gols
Queria eu pegar uma carona com destino ao passado, para desembarcar nas peladas de moleque. Aquelas em que podíamos jogar de Conga ou Kichute, com tênis de marca ou até de chinelo. Descalço ou vestido. O dedão machucado do asfalto, da areia, do terrão, da quadra da pracinha, da bolha da chuteira nova. Não importava a cor do seu pé, e sim o gol que ele fazia.
E se fizesse também o segundo gol, acabava ali, era a hora do “próximo time”. Está certo que algumas resenhas continuavam no caminho de casa, num papo pós-pelada: a bola que saiu, ou aquela que entrou mas não valeu, a mão que não foi, as boas traquinagens do futebol. Na memória só ficava o seu golaço, a zoada no “amigo-rival” e o beijo na camisa imaginária para uma arquibancada inexistente, a alegria do futebol na criatividade, na raiz.
A camisa imaginária que carregava nas costas o número do ídolo e na frente o “escudo” da Seleção, com uma sigla que eu pouco entendia. O significado daquelas três letras não fazia diferença. O que eu não imaginava na minha infância era homens de terno no futebol, que entendem muito de dinheiro e poder, que levam o espetáculo das quatros linhas além da resenha pós-futebol. Mas eles não entendem o significado dos “dez minutos ou dois gols”. Já deu os “dez minutos” desses caras. Eles matam a alegria do futebol.