Cursos sob risco na UFJF
Os cursos do Centro de Educação a Distância (Cead) da UFJF que atendem cinco mil alunos estão comprometidos devido aos problemas enfrentados pela instituição com os terceirizados da Capital informática Soluções e Serviços e com os atrasos dos repasses das bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) a professores e tutores. A situação tem prejudicado os estudantes de administração pública, computação, educação física, física, matemática, pedagogia e química, além dos discentes das oito especializações oferecidas.
No caso da Capital, são afetados os profissionais do setor administrativo e de limpeza. Dos 90 trabalhadores da empresa, 84 estavam em greve. Alguns começaram a voltar aos postos nos últimos dias. “Somente seis servidores concursados estavam em atividade, e os módulos que deveriam ser ministrados nos polos presenciais, como aulas e provas, não estão sendo feitos porque o Cead não tem pessoal para arrumar o carro e a diária dos monitores”, afirmou um funcionário, que preferiu ter o nome preservado.
Uma aluna do curso de educação física do polo de Lagoa Santa contou que, no último dia 11, haveria um encontro presencial com os tutores. No entanto, a aula foi cancelada. “Nessas aulas presenciais, discutimos o conteúdo e temos atividades práticas, que são fundamentais para o curso. Precisamos da demonstração dos fundamentos.” No encontro que não ocorreu, seriam lecionadas as disciplinas de basquetebol e atletismo. Apesar do cancelamento de aulas, a graduanda disse que o cronograma não está atrasado. “Se for feita a reposição, não haverá atrasos. A não ser que haja outros cancelamentos de aulas presenciais.”
Outra dificuldade enfrentada recentemente pelos estudantes são as constantes falhas no funcionamento da plataforma utilizada para realização das atividades. “O Moodle ficou fora do ar de 10 a 12 de abril. Tínhamos até um trabalho para postar nos dias, mas, felizmente, o professor prorrogou o prazo”, explicou a aluna de educação física. Outro graduando, do curso de física do polo de Juiz de Fora, teve dificuldades com a liberação das disciplinas iniciais na plataforma. “Também tivemos problemas com links quebrados e fóruns que não estavam funcionando.”
Não somente o suporte técnico tem atrapalhado o ensino a distância. Segundo o estudante de física, os tutores têm ficado ausentes. “Já aconteceu com colegas de eles perguntarem alguma questão e não serem respondidos. Se a gente fica semanas sem respostas, ficamos sem saber o que fazer.”
A UFJF informou que “os cursos não estão sendo prejudicados, com exceção do de educação física, que cancelou algumas atividades presenciais por decisão da própria coordenação. Os servidores estão acumulando funções para evitar que os alunos sejam afetados”. A Tribuna também entrou em contato com a coordenadora da Universidade Aberta do Brasil (UAB) do Cead, Liamara Scortegagna, que enfatizou que o setor não irá se manifestar sobre o assunto.
Dificuldades para realização dos encontros presenciais
A situação é complexa para os funcionários da terceirizada Capital Informática Soluções e Serviços, em sua maioria, alocados no Centro de Educação a Distância (Cead). Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Asseio, Conservação e Limpeza Urbana de Juiz de Fora (Sinteac), Sérgio Félix, os funcionários da Capital receberam o pagamento correspondente a dezembro no último dia 7, mas ainda estão sem os vencimentos de janeiro, fevereiro e março.
“A UFJF fala que já rescindiu o contrato com a empresa, mas não apresenta documento comprovando, e a Capital fala que o contrato ainda não foi rescindido. Então, vamos entrar com uma ação indireta de rescisão dos trabalhadores com a firma”, diz Félix. Por meio de nota, a UFJF declarou que “por conta de decisão da Justiça, todo o valor repassado pela instituição à Capital foi depositado em juízo. A UFJF já instaurou um processo administrativo visando apurar responsabilidade da firma no ocorrido. A universidade está só esperando a análise do setor jurídico, para punir e rescindir o contrato citado”.
Uma funcionária desabafa: “Estão todos amarrados com a empresa. Muitos entraram na Justiça para tentar resolver a situação. Não há fiscalização das terceirizadas por parte da UFJF, nem antes de ganharem a licitação e nem durante a vigência do contrato.”
Para tentar sanar o déficit de pessoal, o Cead chegou a contratar pelo regime RPA (recibo de pagamento autônomo). No entanto, sem verba, os servidores foram novamente dispensados.
Professores
Além dos funcionários da terceirizada Capital, professores e tutores do Cead estão sem receber suas bolsas. Segundo a docente do Curso de Especialização em Cultura e História dos Povos Indígenas Natália Paganini, os recursos são repassados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e estão atrasados há, pelo menos, dois meses. “Estamos tendo dificuldades para realizar os encontros presenciais, com oficinas e palestras, porque não há recursos. Recebemos a informação de que o curso pode ser suspenso antes do término, que seria em novembro, por falta de verba.” Os professores e tutores do Cead recebem bolsa de acordo com a quantidade de horas trabalhadas e precisam ter vínculo público, sendo, a maioria, da própria universidade.
A UFJF informou que os recursos para pagamento de bolsas não passam pela instituição, apenas o custeio para realização dos projetos. “A UFJF tem feito reiterados contatos junto à Capes, que informa estar aguardando a liberação de recursos do Governo federal para o pagamento das bolsas.”