‘Sinfonia de um lugar’: filme será gravado no Parque Halfeld com participação popular

Projeto convida moradores a refletirem sobre Juiz de Fora e suas múltiplas identidades


Por Mariana de Souza*

05/06/2025 às 07h00- Atualizada 05/06/2025 às 14h54

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Moradores são convidados a falar sobre Juiz de Fora de forma espontânea, destacando relação com a cidade (Foto: Leonardo Costa)

As gravações do curta-metragem “Sinfonia de um lugar” serão realizadas neste sábado (7), no Parque Halfeld, em Juiz de Fora. Uma cabine de filmagem será instalada no local, e os moradores poderão participar espontaneamente da produção.

A proposta do filme é construir um retrato coletivo da cidade a partir de relatos dos próprios moradores. Os participantes serão convidados a responder perguntas sobre sua relação com Juiz de Fora, abordando o local preferido na cidade, lembranças de espaços que deixaram de existir e os motivos que os levaram a viver no município.

As entrevistas servirão como base para o curta, que será estruturado a partir dessas narrativas. A intenção é revelar diferentes perspectivas sobre a cidade, reunindo memórias, experiências pessoais e vínculos com o território.

“O projeto parte da ideia de retratar uma Juiz de Fora marcada por um tempo específico: a ‘Manchester mineira’. Aos poucos, ao longo do filme, buscamos abrir espaço para novas identidades e novos olhares sobre a cidade”, explica a diretora do filme Thais Vasconcelos, mestre em Artes, Cultura e Linguagem.

Ela destaca que o foco não é denunciar problemas, mas refletir sobre como nos relacionamos com os espaços urbanos. “Queremos coletar memórias, afetos, histórias diversas, tanto de espaços que ainda existem quanto daqueles que já desapareceram.”

O filme caminha entre dois gêneros principais: o documentário e o cinema ensaio. A estrutura narrativa parte de uma linguagem mais documental, com registros das ruas de Juiz de Fora que ainda carregam vestígios do passado industrial — imagens que habitam o imaginário coletivo da chamada “Manchester mineira”.

Audiovisual como memória e expressão

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(Foto: Divulgação)

Como destaca Pedro Carcereri, produtor executivo do projeto, o audiovisual é uma forma poderosa de registrar e entender a cidade. “O que ainda conhecemos pouco — talvez pela falta de distanciamento histórico — é a força memorial do audiovisual. À medida que mais tempo passa e mais registros são acumulados, ganhamos perspectiva sobre o que esses materiais representam.”

A escolha do Parque Halfeld como ponto de partida não é por acaso. “Por exemplo, há regiões como o Benfica que também podem ser consideradas polos centrais. Mas o Parque Halfeld continua sendo um marco simbólico e prático da cidade: ponto de memória histórica e de grande circulação de pessoas de diferentes idades, classes sociais e ocupações”, afirma Thais.

Pedro reforça que captar essa pluralidade exige escuta e abertura. “O audiovisual já não é apenas uma ferramenta técnica ou ocasional. Ele se tornou uma extensão do nosso olhar, uma maneira de enxergar e representar o mundo. Por isso, é essencial que a gente produza, assista, discuta e compartilhe filmes — e que mais pessoas possam fazer seus próprios filmes.”

Cidade cinemática

Como pesquisadora de audiovisual, Thais enxerga o projeto à luz do conceito de “cidade cinemática” — a ideia de que certas imagens e estruturas urbanas, ao serem representadas continuamente, reforçam identidades coletivas. “No caso de Juiz de Fora, essa identidade da ‘Manchester mineira’ é uma das mais recorrentes, mas não é a única. Por isso, buscamos construir um mosaico visual e afetivo, com imagens de cobertura e depoimentos de pessoas em diversas condições sociais e profissões.”

“Afinal, que identidades Juiz de Fora carrega hoje? Há a ideia da cidade universitária, com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) como referência. Há a memória industrial. Há o papel da cidade como polo regional, embora nem sempre isso se reflita no nosso próprio olhar sobre ela”, questiona Thais. “Uma das perguntas que norteiam o filme é: nosso modo de viver aqui seria diferente se estivéssemos em outro tempo?”

Ela conclui: “Juiz de Fora não é uma só. Não buscamos definir a cidade em uma identidade única. Pelo contrário: queremos escutar e mostrar as múltiplas Juiz de Foras que convivem simultaneamente. Nossa proposta não é descobrir ‘o que é Juiz de Fora’, mas sim reunir os fragmentos que formam essa cidade no plural”. 

*Estagiária sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

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