Pedido visa tombamento da Casa Maternal Maria Helena no Centro Histórico de Juiz de Fora
Processo buscou entender importância histórica e simbólica do edifício; notificação foi feita aos proprietários e o Dempac está fazendo o levantamento histórico e arquitetônico do imóvel

Em 25 de abril deste ano, a historiadora e mestre em museologia e patrimônio Luciana Scanapieco e a arquiteta e urbanista Amélia Mauad entraram com o pedido de tombamento da Casa Maternal Maria Helena, onde também funcionava o Instituto Virgem Poderosa. Apesar da instituição de ensino e trabalho beneficente estar com as atividades paradas desde 2016, elas entenderam que o local tinha uma importância histórica e simbólica para a comunidade. Além disso, a construção, que remete ao movimento artístico art déco e traz características diferenciadas para uma paisagem ainda mais rica, também teria por si só a justificativa para a presença dentro de um contexto de delimitação do Centro Histórico de Juiz de Fora, que inclui a área. No momento, a notificação foi feita aos proprietários e o Departamento de Memória e Patrimônio Cultural (Dempac) da Funalfa está fazendo o levantamento histórico e arquitetônico do imóvel para instrução do processo. Depois dessa fase, o projeto vai para análise do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC).
Em 2023, a dupla envolvida no projeto de tombamento lançou o livro “Capela de São Roque e a comunidade no entorno”, que conta a história das proximidades do local. Com a proximidade com a comunidade, Ana Maddalena, que tem uma banca de jornal na frente da Casa Maternal, entrou em contato com Luciana, preocupada com os comerciantes que teriam que sair do local, na parte do térreo do edifício. “Ela entrou em contato preocupada porque ali seria comprado por uma construtora para fazer um investimento imobiliário gigantesco. Isso preocupou não só os funcionários das lojas, que ficaram preocupados em perder o ponto, mas também quem tinha uma relação afetiva com a própria casa”, explica a historiadora. Percebendo a importância para a comunidade do local, que também fez parte de suas memórias de infância, elas construíram o projeto de tombamento.
A Casa Maternal é da primeira metade do século 20 e funcionava como creche, voltada para a população carente. “Foram várias gerações de pessoas que estudaram na escolinha e que usaram os serviços da Casa Maternal. (…) O edifício ter tido essa atuação na Barão de Cataguases com a Avenida dos Andradas tem toda uma simbologia e significado, que contribuiu para a identidade do local. Ao ser transformado em um mega empreendimento imobiliário, mudaria totalmente a paisagem urbana. É uma forma de manter algo visivelmente histórico, mas também a mesma lógica de funcionamento de uma região”, explica Luciana.
Esse prédio, como entende Amélia, também ajuda a contar a história do lugar e de uma época inteira. “São vários prédios super importantes, arquitetonicamente, ali no entorno. (…) Esses prédios antigos de Juiz de Fora não são importantes apenas para a memória da cidade, mas são uma forma de manter a identidade de quem vive naquele bairro ou ambiente. Servem como uma referência”, destaca. Por isso, elas também entenderam que o envolvimento da comunidade era tão importante, já que de fato usa o espaço e tem um valor sentimental presente na rotina.

Características de art déco
As características que o prédio tem de art déco também fazem com que a Casa Maternal se destaque em relação ao entorno. “A gente encontra as formas mais retilíneas e alinhadas, muitas formas retangulares. Temos janelas em um conjunto de vidro retangular e é uma edificação bem simétrica. Se partir o prédio no meio, teremos duas partes iguais. Apesar de não ter tantos adornos, tem uma imponência e uma classe bem próprias”, explica Amélia.
Apesar das duas não terem conseguido entrar dentro do imóvel para conferir a situação em que a casa está, acreditam que as condições são favoráveis ao uso. Com o tombamento, o imóvel faria parte da cidade de forma mais permanente e poderia ser ainda mais usado pela comunidade, como acreditam.
Dentro do Centro Histórico
Essas características, na visão dela, enriquecem o Centro Histórico na cidade, delimitado este ano. O momento, então, para as duas, foi visto como emblemático para decidir o futuro da edificação: se o local vai se transformar em um empreendimento totalmente novo, perdendo essas características e atendendo à demanda imobiliária de mercado, ou se fará parte desse patrimônio preservado do Centro. “Seria uma perda muito grande logo no momento que foram definidas políticas para preservação do patrimônio histórico, perder um marco na identidade de Juiz de Fora”, defende Luciana.
Com o aprofundamento do levantamento histórico e arquitetônico do imóvel, feito pela Funalfa, e a posterior análise da COMPAC, a expectativa, para Amélia, é de que não só o prédio seja tombado — mas que continue também como referência para as próximas gerações.