Defesa Civil destina R$ 2 milhões para obras de contenção de encostas em JF
Pontos que recebem intervenções estão localizados nos bairros Santo Antônio, Ponte Preta, São Tarcísio e Jardim de Alá
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A Defesa Civil Nacional destinou mais de R$ 2 milhões para obras de contenção de encostas em Juiz de Fora. Segundo a Prefeitura, os contratos para o início das intervenções já foram assinados pela prefeita Margarida Salomão (PT). A verba será distribuída para ações em quatro pontos da cidade: as ruas Francisco Rodrigues Silva, no Bairro Santo Antônio; João Abreu Filho, no Ponte Preta; Augusto Vicente Vieira, no Bairro São Tarcísio; e Alberto Agapito, no Jardim de Alá. De acordo com a PJF, essas intervenções têm como objetivo a estabilidade do solo nas respectivas regiões, garantindo maior segurança à população.
A conclusão de todas as obras está prevista para seis meses após o início das intervenções. Foi contratada para a execução do serviço a empresa GML Engenharia Ltda, representada por Carlos Pezarini. “São obras muito necessárias na nossa cidade. É um recurso que chega da Defesa Civil Nacional por conta do trabalho que foi feito pela Defesa Civil aqui. Isso é imprescindível em uma cidade feito Juiz de Fora que, como todos nós sabemos, é construída em morros”, destacou a prefeita Margarida Salomão.
Segundo a secretária de Obras (SO), Bruna Ferreira da Rocha, há, ainda, a importância das ações diante do cenário de mudanças climáticas. “São muros de flexão, solo grampeado, diversos tipos de contenção e obras rápidas. No final do ano, poderemos contar com elas para dar segurança às famílias”. Conforme o subsecretário de Proteção e Defesa Civil, Luís Fernando Martins, é a primeira vez que a Defesa Civil conseguiu captar recursos para a execução de obras de contenção na nossa cidade.
A verba anunciada será distribuída da seguinte forma: Rua Francisco Rodrigues Silva receberá R$ 254.314,53; Rua João Abreu Filho contará com R$ 414.226,34; Rua Augusto Vicente Vieira terá R$ 812.684,04; e Rua Alberto Agapito será contemplada com R$ 537.327,00.
Agravamento dos deslizamentos
Para Márcio Marangon, doutor em Geotecnia e professor da Faculdade de Engenharia da UFJF, Juiz de Fora enfrenta um agravamento dos deslizamentos devido a seu relevo naturalmente crítico. A cidade já possui, desde sua formação, um terreno irregular, com muitas áreas íngremes e acidentadas. No entanto, o principal fator de risco não é apenas a geografia, mas sim a ocupação desordenada das encostas ao longo das décadas.
Marangon explica que essa ocupação ocorreu de maneira inadequada, desrespeitando Áreas de Proteção Permanente (APPs) e avançando sobre terrenos extremamente íngremes, topos de morros e regiões de alta declividade, que deveriam ter sido preservadas. Como consequência, muitas dessas áreas hoje apresentam riscos significativos para a população.
“A Zona Leste, segundo estudos e estatísticas, é a região mais crítica da cidade. Apesar de o solo em si não ser o maior problema, ele é mais vulnerável a rupturas e instabilidades. O fator determinante para os deslizamentos, no entanto, é a ação humana: desmatamento, escavações, modificações no terreno e construções feitas sem planejamento adequado aumentam consideravelmente os riscos”, alerta o professor.
Para enfrentar esse cenário, Marangon defende que não basta investir apenas em políticas emergenciais de Defesa Civil. É necessário um plano de gestão de encostas mais amplo, incluindo políticas habitacionais que contemplem a retirada de moradores de áreas de risco e a criação de loteamentos populares seguros. Dessa forma, seria possível prevenir deslizamentos antes que eles aconteçam, sem depender exclusivamente de obras de contenção, que, muitas vezes, são soluções caras e pontuais.
Além disso, o professor alerta para a tendência de agravamento do problema. O crescimento populacional e a expansão desordenada da cidade aumentam a pressão sobre o solo, intensificando os riscos. O cenário se torna ainda mais imprevisível diante das mudanças climáticas, que têm provocado eventos extremos, como chuvas volumosas e estiagens prolongadas, dificultando a administração dos desastres, explica.
Segundo Marangon, obras estruturais devem ser aplicadas apenas quando não há mais alternativas para garantir a segurança da população. Ele destaca que essas intervenções exigem investimentos elevados e, por serem soluções localizadas, não eliminam o problema de forma definitiva. Para ele, o ideal seria priorizar ações preventivas e planejamento urbano eficiente, evitando que novos pontos de risco sejam criados e reduzindo a necessidade de medidas emergenciais no futuro.
Outras obras já foram realizadas
Em julho de 2022, a Prefeitura informou a arrecadação de R$ 7.774.538,08 milhões em recursos federais que seriam aplicados na reconstrução de áreas afetadas pelas chuvas de janeiro daquele ano. O valor seria empregado em oito obras, realizadas nos seguintes bairros: Ponte Preta, Santa Luzia, Santo Antônio, São Tarcísio, Grajaú, Linhares e Três Moinhos.
A Tribuna questionou a Prefeitura sobre a conclusão das obras e a previsão para o início das novas intervenções e foi informada que “em função da urgência e alto grau de risco, as intervenções na Rua Rosa Sffeir, no Grajaú, foram priorizadas, e o Executivo utilizou de outra fonte, de mais rápida aplicação. Esta intervenção estava prevista no conjunto anunciado em 2022. A obra já foi entregue”.
O Município também informou que novo anúncio de obras nos quatro bairros será realizado com os recursos arrecadados em 2022, os quais ainda serão repassados à Prefeitura neste ano, após a aprovação dos contratos assinados nesta terça-feira, 11, pela Defesa Civil Nacional. Após a conclusão desse processo, as obras terão início.
*estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa
Tópicos: defesa civil / encostas