Leonard Nimoy, o Sr. Spock, morre aos 83 anos

Muitos são os artistas, esportistas e políticos que são lembrados por suas frases e gestos. Poucos, porém, conseguiram ter ambos imortalizados no panteão da cultura pop: este é o caso da célebre saudação vulcana acompanhada da frase “vida longa e próspera”, dita incontáveis vezes pelo ator norte-americano Leonard Nimoy em quase uma centena de episódios e sete filmes da franquia “Jornada nas estrelas”, em que foi o primeiro intérprete do personagem Sr. Spock. Agora, porém, tanto a saudação quanto a frase fazem parte dos arquivos da TV e do cinema, após o anúncio ontem, em Los Angeles, da morte de Nimoy, aos 83 anos, em decorrência de uma doença pulmonar crônica obstrutiva. A notícia foi dada por sua esposa, Susan Bay Nimoy.
A doença que o vitimou foi revelada pelo próprio Leonard Nimoy em fevereiro do ano passado – segundo ele, resultado do vício em cigarros, mesmo tendo parado de fumar há cerca de 30 anos. O ator foi internado devido à doença na última semana, dentro de uma sequência de frequentes visitas ao hospital nos últimos meses. A enfermidade tem como sintomas falta de ar, insuficiência respiratória e fadiga muscular.
Logo que a morte do ator foi anunciada, uma torrente de mensagens de fãs, companheiros de profissão e amigos tomou a internet. George Takei, o Sr. Sulu da Série Clássica, declarou no Facebook: “Hoje o mundo perdeu um grande homem, e eu perdi um grande amigo. Voltamos às estrelas, Leonard. Você nos ensinou a ‘vida longa e próspera’ e você a fez de fato, meu amigo. Sentirei a sua falta de muitas, muitas maneiras”. Na página oficial da série, a www.startrek.com, a notícia foi dada com “profunda tristeza”. Também pelo Facebook, William Shatner – o Capitão Kirk da série original – disse: “eu o amava como um irmão. Sentiremos falta de seu humor, talento e capacidade de amar”.
No Twitter, atores como Elijah Wood, Seth Green, Ben Stiller e Jonathan Frakes (de “Jornada nas estrelas: A nova geração”) lamentaram a morte do ator. Zachary Quinto, que interpretou Spock nos dois últimos filmes da franquia, publicou no microblog: “Meu coração está partido. Te amo profundamente, meu querido amigo. Sentirei sua falta todos os dias”. A Nasa (agência espacial americana) divulgou: “Descanse em paz, Leonard Nimoy. Muitos de nós na Nasa fomos inspirados por ‘Jornada nas estrelas’.” O próprio Leonard Nimoy era um usuário constante do Twitter: em 20 de janeiro, ele lembrou do nascimento de DeForest Kelley, o Doutor McCoy, de quem foi grande amigo. Poucos dias antes, confessou: “Não fumem. Eu fumei. Desejava jamais ter feito isso”. Já na última terça-feira, ele publicou: “A vida é como um jardim. Momentos perfeitos podem ter acontecido, mas não preservados, exceto na memória”.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, divulgou mensagem lamentando a morte do ator e lembrou que ao conhecê-lo, em 2007, fez questão de cumprimentá-lo com a saudação vulcana.

Além da ‘fronteira final’
Nascido na cidade americana de Boston em 26 de março de 1931, Leonard Nimoy Simon era filho de imigrantes judeus da Ucrânia e desde cedo demonstrou interesse pela vida artística. O primeiro papel de protagonista no cinema veio em 1952, com “Kid Monk Baroni”, e participou de diversos filmes e séries, entre eles “Dragnet”, “Bonanza” e “Além da imaginação”. A fama, entretanto, só veio em 1966, quando passou a interpretar o cientista meio alienígena, meio humano Spock na série “Jornada nas estrelas”. Filho da união entre um vulcano e uma terráquea, Spock servia na Enterprise ao lado do Capitão Kirk, Doutor McCoy, Hikari Sulu e do alferes Pavel Chekov, entre outros. Descendente de uma raça que buscava evitar as emoções e baseava sua cultura no raciocínio lógico, Spock logo se tornou um dos personagens mais populares da série, rivalizando até hoje com o Capitão Kirk.
Várias de suas frases se tornaram célebres para a legião de trekkers (fãs de “Jornada nas estrelas”): “A lógica é apenas o início da sabedoria, e não o seu fim”; “Desculpe, eu não entendo piadas humanas”; “A mudança é o passo essencial para toda a existência”. Nenhuma delas, porém, supera a eterna “Vida longa e próspera”: mesmo quem nunca tenha assistido à série ou aos filmes deve ter dito, em algum momento, a célebre frase de saudação ou despedida vulcana. Com a frase veio a saudação de mão espalmada, sugerida pelo ator para o personagem e que é inspirada numa tradição judaica.
Após o cancelamento da série, Nimoy chegou a tentar se distanciar da legião de fãs e do próprio personagem: ele atuou na série “Missão impossível” e lançou, em 1975, o livro “Eu não sou Spock”. O tempo fez com que mudasse de opinião em relação à série e ao personagem, e ele aceitou participar do projeto que levou “Jornada nas estrelas” aos cinemas a partir de 1979, integrando o elenco das seis primeiras produções para a tela grande e também dos dois mais recentes filmes, dirigidos por J. J. Abrams. Nimoy também assumiu a direção de duas das produções de “Jornada”, “À procura de Spock” (1984) e “A volta para casa” (1986), além de participar de alguns episódios de “A nova geração”. Em 1995, ele voltou ao tema e publicou outro livro, desta vez chamado “Eu sou Spock”.
Além da ligação com “Jornada nas estrelas”, Leonard Nimoy integrou outros filmes como ator (“Invasores de corpos”) ou diretor (“Três solteirões e um bebê”, “O preço da paixão”). Mesmo tendo se aposentado dos sets em 2003, ele participou anos depois da série “Fringe” (no papel do cientista William Bell) e emprestou sua voz para um episódio da série “The Big Bang Theory”, entre outros trabalhos. Além de ator, escritor e cineasta, Leonard Nimoy dedicou-se a fotografia, poesia e pintura. Para ele, nem a morte ou o espaço jamais serão a fronteira final.