Entenda o que é sticker e conheça juiz-foranos que têm seus trabalhos espalhados pelas ruas
Prática da colagem ganha as ruas de Juiz de Fora e um encontro de fazedores no Occa Ponto
O bar Occa Ponto criou um espaço todo direcionado aos stickers: adesivos autocolantes que vêm crescendo nas ruas de Juiz de Fora. Eles surgiram durante a década de 1990, nos Estados Unidos, sendo uma manifestação artística pós-moderna ligada ao movimento de arte urbana. A troca de adesivos para a sua disseminação é chamada de packes, e é, geralmente, feita pelos Correios ou durante eventos.
Diferente do graffiti, que depende da presença física do artista, a sticker art se trata de um trabalho sem fronteiras e bastante colaborativo. E foi nesse espírito colaborativo que aconteceu o primeiro encontro de coladores de stickers da cidade, no Occa Ponto, quando muitos deles se viram pessoalmente pela primeira vez, apesar de já conhecerem os trabalhos uns dos outros.
“Acredito que é uma forma de manifestação artística que não está presente em alguns espaços tradicionais de exposição, como museus e galerias. Isso tem que ter um espaço de contemplação e fruição, por isso achamos legal fazer este encontro aqui. É uma forma de dar mais heterogeneidade para a paisagem urbana. É uma oportunidade de a gente observar a paisagem urbana ser modificada por outros agentes que não o capital”, analisa o arquiteto Luiz Vergara, 30 anos, sócio do espaço ao lado dos também arquitetos Caio Paro, Letícia Ramalho, Mariana Soldati e Henrique D’ávila.
Quem faz sticker
Fernanda de Façanha e Campos é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e tem se dedicado a estudar a arte urbana. “A partir das vivências que já tive no graffiti, enquanto uma das linguagens do Movimento Hip Hop, os stickers sempre estão presentes como um complemento a essa cultura. A diferença entre o sticker e o graffiti é que, na verdade, um é complemento ao outro. Os adesivos autocolantes são usados como maneira de divulgar a tag, assinatura, ou até o personagem do grafiteiro ou grafiteira, no formato de pequenos adesivos para serem colados em diferentes locais da cidade. Ele impacta, sendo uma forma simples e leve de transitar os graffiti para diferentes lugares. A distribuição dos stickers de um grafiteiro ou grafiteira pode ser uma forma de estar presente e marcar presença em diferentes lugares pelo Brasil e pelo mundo”, analisa.
Camila Campos, 26 anos, é assistente social de formação e atua como designer. Bissexual, ela é a criadora da Sapinhos Club, que espalha diversas versões da personagem sapinha por aí, desde junho. “Eu já seguia uma (pessoa) de fora que fazia. Eu tinha uma vontade de fazer há muito tempo, só que eu não sabia o que fazer. Até veio a ideia de fazer um sapo. Fiquei um tempão desenhando e aí nasceu, foi meio sem querer. E tem esse intercâmbio também entre as pessoas que colam, né? A galera faz troca de arte, faz colab de arte, desenha junto a outro artista”, conta a artista.
Quem observa bem as ruas já leu, em alguma parede, o nome do artista Conduta escrito em centenas de caligrafias diferentes. Conduta é Gabriel Alvim, 25, há dez anos atuando como grafiteiro em Juiz de Fora. “O graffiti já vem com essa estética de ter adesivo, tag: tudo é uma criatividade que aflora em todos os cantos. Eu faço o meu adesivo, imprimo e colo. Com certeza, é uma forma de arte. A gente faz um desenho com tempo de fazer para depois colar na rua. O adesivo, quando a gente está com o tempo, a gente usa a criatividade sem a adrenalina, mas só depois cola a arte”, explica.
Mais conhecido, nas paredes e nas ruas, como Nefasto, Kauê Marques, 24 anos, é tatuador e abriu uma marca de adesivos com o sucesso da cultura sticker. Esse seu trabalho começou sob a alcunha NotSafe, há dois anos, o mesmo tempo que tem se dedicado à tatuagem. Ele usa um “pau de selfie” para colar os adesivos bem alto, aumentando a durabilidade. “Isso aí já vem dos ‘manos’ bem mais antigos. Eles que desenvolveram essa técnica para colar nas placas mais altas, e a gente acaba reproduzindo. Qualquer forma que seja de se expressar e que causa impacto em alguém, seja negativo ou positivo, para mim, é arte. Seja incomodando ou a pessoa admirando. Eu, particularmente, uso até como forma de me localizar dentro da cidade”, conta.
O designer gráfico e ilustrador Mateus Alberto de Oliveira Santana, 28 anos, é conhecido nas ruas como Mtsábio.“Faço sticker há oito anos, desde quando conheci o graffiti e a arte urbana. Você pode colar em vários lugares, mesmo não estando presente. Hoje em dia, eu vendo esse trabalho. Sticker é forma de arte, mas também é propaganda e marketing. Mas, com certeza, é uma forma de arte sim”, esclarece.