É preciso enterrar os fios
Todos os estudos apontam as vantagens de redes subterrâneas, que, a despeito do elevado custo, têm maior confiabilidade, menor risco de queda de energia, maior vida útil e paisagem urbana mais limpa
Na queda de braço entre a Enel e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, uma das questões levantadas para o blackout registrado na maior cidade da América Latina foi a queda de árvores, que afetou fiações e ampliou ainda mais o problema, que continua afetando mais de cem mil pessoas. A concessionária jogou a culpa na zeladoria da prefeitura, que não estaria atenta ao problema. A empresa argumentou que é necessário aumentar a distribuição de energia por redes subterrâneas, que na capital paulista tem apenas 7% de cabeamento enterrado. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, em termos nacionais, os indicadores estão bem abaixo, ficando em torno de 1%. Com 11%, o Rio de Janeiro tem o melhor desempenho.
Entre o ideal e o real há o fator financeiro. Todos os especialistas apontam para importância da rede subterrânea, mas reconhecem que os custos são proibitivos em algumas regiões. Em Juiz de Fora há o agravante da topografia e do mapeamento do subsolo. Uma das dificuldades encontradas pela Gasmig para implementar a distribuição de gás encanado foi a ausência de mapas apontando por onde passam as redes de água, pluviais e de esgoto. A fiação teria a mesma dificuldade.
A questão é buscar financiamento para ampliar os serviços ante os benefícios. Quando remodelou plenamente a Avenida Rio Branco – reinaugurada em 1982 -, o então prefeito Mello Reis insistiu nessa questão e mandou retirar os postes com fiação entre os bairros Manoel Honório e Alto dos Passos. Mas foi apenas um passo quando a expectativa era de que os demais governos complementassem a área central, o que não ocorreu plenamente.
Simples ações apontam até para a mudança estética. Quando estava à frente da Câmara Municipal, o vereador Juraci Scheffer, reeleito para mais um mandato, resolveu tirar um poste que ficava diante do Palácio Barbosa Lima – sede do Legislativo. Mas não ficou só nisso. Tirou o poste e passou toda a fiação para a via subterrânea no trecho até a Rua Santo Antônio. Mudou a paisagem.
É fato que se tratou de um pequeno trecho, mas é preciso insistir em projetos de tal monta ante os benefícios. As metrópoles, especialmente, vira e mexe registram falta de energia em decorrência de quedas de árvores, e, quando isso ocorre em cidades do porte de São Paulo, a situação chega a níveis críticos.
Como os municípios não têm recursos, o Governo federal, diante do que ocorreu em São Paulo, deveria fazer parte da solução e encontrar meios de financiar projetos que tratem do tema. Resolve-se o problema da fiação e, ao mesmo tempo, dá margem para solução de outra demanda: o excesso de fios que ocupam a rede elétrica.
No caso de Juiz de Fora, a Câmara Municipal fez uma audiência pública para tratar da matéria, ocasião em que se constatou que quase uma centena de operadores ocupam os postes sob concessão da Cemig, mas apenas seis ou sete tinham esse uso permitido oficialmente. A matéria voltou à pauta com a exigência desse cadastramento, mas quase nada mudou.
As cidades de modo geral registram o uso indevido dos postes com o agravante dos riscos com linhas energizadas que também entram nesse pacote. A despeito de todos os alertas, o dado preocupante é que não se percebe qualquer mudança.