O Dogma da Santíssima Trindade

“Inseparáveis naquilo que são, da mesma forma o são naquilo que fazem. Mas na única operação divina, cada uma delas manifesta o que lhe é próprio na Trindade (…)”


Por Luís Eugênio Sanábio e Souza, Escritor

18/07/2024 às 06h00

Como devemos entender a relação entre as pessoas divinas, isto é, entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo?

A Igreja ensina que a unidade divina é trina. Não existem três Deus, mas um só Deus em três pessoas. No ano de 553, o II Concílio de Constantinopla chamou esta unidade divina de “Trindade consubstancial”. O termo “substância” designa o ser divino em sua unidade. Assim, as pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro. Portanto, “cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina” (IV Concílio de Latrão, do ano 1215). “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza” (XI Concílio de Toledo, do ano 675).

A Igreja também ensina que as pessoas divinas são realmente distintas entre si: “Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho” (XI Concílio de Toledo, do ano 675). São distintos entre si por suas relações de origem: “É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede” (IV Concílio de Latrão, do ano 1215). Inseparáveis naquilo que são, da mesma forma o são naquilo que fazem. Mas na única operação divina, cada uma delas manifesta o que lhe é próprio na Trindade, sobretudo nas missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo. Por exemplo: a Igreja explica que “pela sua união com a Sabedoria divina na pessoa do Verbo Encarnado, o conhecimento humano de Cristo gozava, em plenitude, da ciência dos desígnios eternos que tinha vindo revelar (Marcos 8,31; 9,31; 10,33-34; 14,18-20. 26-30). O que neste domínio Ele reconhece ignorar (Marcos 13,32) declara, noutro ponto, não ter a missão de o revelar (At, 1,7)” (Catecismo da Igreja Católica nº 474). “A natureza humana do Filho de Deus, não por si mesma, mas pela sua união ao Verbo, conhecia e manifestava nela tudo o que convém a Deus” (dizia São Máximo, teólogo do século XI).
O antigo Credo de Santo Atanásio, denominado “Quicumque”, que reafirmou a doutrina cristã tradicional da Trindade, conclui assim: “A fé católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as Pessoas nem dividir a substância: porque uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade” (Catecismo da Igreja Católica nº 266).

Em que sentido Deus é “Pai”? A Igreja explica que “ao designar Deus com o nome de “Pai”, a linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade transcendente, e, ao mesmo tempo, que é bondade e solicitude amorosa para com todos os seus filhos. Esta ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade (Isaías 66, 13; Salmo 131, 2), que indica melhor a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura. Convém lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Ele não é homem nem mulher: é Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade humanas (Salmo 27,10), sem deixar de ser de ambas a origem e a medida (Efésios 3,14-15: Isaías 49,15).

Ninguém é pai como Deus o é. Jesus revelou que Deus é “Pai” num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador, é Pai eternamente em relação ao seu Filho único, o qual, eternamente, só é Filho em relação ao Pai. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11, 27).

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