Vazio na arquibancada
Equipes têm que se estruturar para ter a volta dos torcedores; enquanto isso não ocorre até os investimentos ficam distantes dos projetos
Quando o então prefeito Mello Reis iniciou as primeiras conversas para construção de um estádio municipal em Juiz de Fora, o escopo era impulsionar o futebol da cidade. Uma área no alto do Bairro Borboleta – hoje um conjunto habitacional – chegou a passar por um processo de terraplanagem, mas não avançou. O foco mudou para um fábrica da Monark que também não vingou. Sucessor de Mello, também para um mandato de seis anos, o prefeito Tarcísio Delgado voltou ao tema e escolheu um terreno no Bairro Aeroporto.
Desta vez o projeto não teve solução de continuidade e, no final de seu primeiro mandato, ele entregou o estádio à cidade. Em novembro de 1988, Tupi e Sport fizeram a primeira partida, com vitória do clube alviverde por 2 a 0. A partida de fundo envolveu o Flamengo e o Argentino Juniors, com vitória do rubro-negro por 2 a 1, com dois gols de Bebeto.
Esperava-se que, a partir daí, o futebol de Juiz de Fora subisse de patamar. Afinal, tinha um estádio em condições de receber grandes públicos, estando apto, também, a ser sede para jogos do vizinho Rio de Janeiro, como, aliás, ocorreu em outras ocasiões. O mesmo Flamengo voltaria à cidade diversas vezes e fez do Municipal – agora Mário Helênio, em homenagem ao grande jornalista esportivo – o palco para despedida de seu maior ídolo. Com uma vitória de 5 a 0 sobre o Fluminense, Zico pendurou as chuteiras em Juiz de Fora.
Entretanto, as previsões de Mello Reis e de Tarcísio Delgado não se confirmaram. O Estádio tornou-se um fantasma e seus maiores públicos envolvem shows ou competições de clubes amadores, como aponta matéria da Tribuna, no último domingo. O repórter Davi Sampaio foi às ruas e elaborou planilhas apontando que a média de público fica abaixo dos 500 torcedores, longe de uma arena com capacidade para 31.863 torcedores.
São muitas as razões para essa desidratação de público, a começar pela performance dos clubes da cidade que nos últimos anos entrou em rota descendente. O Tupi, que chegou à Série B do Campeonato Brasileiro, não está sequer na fase principal do campeonato mineiro. O Tupynambás também está ausente. Como motivar o público se não há grandes jogos contra times como Cruzeiro, Atlético Mineiro e América?
Como foi mostrado pela TM, o esporte amador atrai mais públicos em razão do enfrentamento paroquial, envolvendo bairros ou comunidades. Ademais, as competições que Tupi, Tupynambás e Vila Real disputam geram uma audiência limitada, insuficiente para motivar o torcedor.
A responsabilidade é coletiva, passando por dirigentes, equipes e até mesmo o poder público, que poderia ter um canal de discussão mais frequente com as equipes. O incentivo dado ao vôlei é a face mais emblemática, mas para obtê-lo os dirigentes também precisam, necessariamente, apresentar projetos de longo e médio prazo e se mostrarem capazes de executá-los.
As últimas experiências foram preocupantes, envolvendo problemas de gestão e um noticiário com viés policial em vez de esportivo. O poder público, que tem seus controles e se submete ao olhar da Câmara Municipal, só teria meios de participar de projetos consistentes, o que não tem sido visto até agora.