Fotógrafa de Muriaé é indicada ao Prêmio Lente de Ouro 2023
Duas fotos de Ludmila Gusman fizeram com que ela concorresse na categoria ‘família’ e tivesse pontuação elevada
A fotógrafa Ludmila Gusman foi indicada ao Prêmio Lente de Ouro 2023, conhecido como ‘Oscar da Fotografia e Vídeo de Casamento e Família’, para concorrer entre os treze brasileiros indicados. Ela trabalha com fotografias de partos há 10 anos, quando descobriu essa paixão a partir de uma vontade pessoal, e nunca tinha se inscrito em um concurso fotográfico antes. Até que, neste ano, uma de suas fotos viralizou: era de um bebê empelicado. “Como já tinha autorização da mãe e do pai, coloquei a foto no meu instagram. De repente, começaram a aparecer várias curtidas. Quando fui ver, viralizou, estava rodando o mundo. Foi feita no susto e foi um susto”, conta sobre os bastidores. Além dessa, também conseguiu inscrever outra foto da qual gostava muito. A cerimônia de premiação mundial é realizada pela Inspiration Photographers anualmente, em Balneário Camboriú, no estado de Santa Catarina, prevista para acontecer em 22 novembro.
Nascida em Muriaé e formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ela começou a trabalhar com esse tipo de foto depois de ter tido sua primeira filha. Nessa ocasião, o hospital em que sua filha nasceu não permitia fotógrafos no centro cirúrgico, mas seu irmão, que é médico, conseguiu tirar uma foto do parto para ela. “Quando eu vi aquele material, fiquei encantada com a possibilidade de poder ver situações assim. Comecei a querer fotografar os partos das cunhadas e das amigas”, conta. Na época, no entanto, os hospitais ainda não autorizavam esse tipo de trabalho, mas ela conseguiu que um médico topasse abrir em Muriaé essa possibilidade a partir de uma taxa para poder controlar quem vai fotografar.
Apesar de já ter trabalho em diversas áreas, foi na fotografia que Ludmila encontrou sua maior paixão e algo que realmente a “preencheu”. “Hoje, tenho a grata satisfação de ver quantas famílias podem ter a satisfação que eu tive. A fotografia para a mulher, a criança e a família têm um valor inestimável. Quanto mais o tempo passa, mais valiosa ela fica”, conta. Para ela, esse valor também fica claro na própria vida: “A fotografia surgiu pra mim nesse momento da maternidade como uma necessidade, mas também como uma realização que busquei profissionalmente”, diz. É por isso que, como conta, sempre diz para as amigas que foi a fotografia quem a escolheu – e não o contrário.
Desde que começou, no entanto, ela foi buscando se aperfeiçoar cada vez mais para esse trabalho. “Eu fui treinando, errando, acertando e oferecendo meu trabalho para ir aprendendo”, relembra. O centro cirúrgico, por si só, já é um espaço de trabalho que tem suas próprias necessidades, como ela mesma explica: “É preciso ter uma agilidade especial, por conta da luz e da forma de se trabalhar lá. Também é preciso ter a confiança da equipe de saúde. Não basta ser só fotógrafa, é preciso ter uma preparação psicológica e técnica bem diferente do dia a dia de fotógrafa de ensaios ou de evento”. Com o tempo, no entanto, foi notando que esse nicho de mercado foi crescendo, e tem aproveitado as oportunidades que aparecem para aprender mais e também trocar experiências com outros fotógrafos de parto.
Duas fotos na categoria família
Ludmila concorre com duas fotos que alcançaram selos internacionais, sendo uma delas justamente aquela que viralizou em janeiro deste ano, durante um parto empelicado. Ela relembra o momento da foto: “Eu pesquiso muito sobre parto e sobre situações médicas que podem acontecer. Esse tipo de parto, então, me deu curiosidade e vontade de retratar, mas é algo muito raro – só acontece em 1 a cada 80 mil nascimentos. Nesses casos, a bolsa não estoura, e na hora que puxa o bebe, ela vem junto. Mas ela é muito fina, então acaba estourando fácil”. Nesse momento, foram cerca de cinco segundos até a bolsa estourar, e por isso ela explica que nem tem fotos de muitos ângulos. “Me movimentei de forma instintiva e fiz as fotos. Foi realmente um momento único”, conta.
Além dessa imagem, ela concorre também com o registro de um bebê que fez xixi, logo ao nascer, e que foi tirada há cerca de dois anos. “Acho essa foto sensacional, e pra minha surpresa também teve uma ótima aceitação técnica”, conta, já que ambas as fotos receberam pontuação elevada do júri composto por fotógrafos de vários países. A categoria família, para ela, resume bastante o seu trabalho, porque o momento em que tira essas fotos é bastante íntimo e reservado. “Eu tenho uma responsabilidade muito grande por estar ali. É um privilégio. E, a partir desse momento, acabo criando amizade com muitos clientes e fazendo o acompanhamento da vida desses filhos. Já fotografei crianças durante os seus primeiros 10 anos de vida, por exemplo”, conta.
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‘Me encontrei na fotografia de parto’
Para muito além das premiações, aquilo de que Ludmilla mais gosta em seu trabalho é da possibilidade de contar histórias: “Daqui a dez, vinte ou trinta anos, essas crianças podem conhecer mais sobre a sua história. E eu sempre me preocupo em contar tudo, com detalhes. Quem eram os médicos, quem levou a criança do berçário até o quarto, quem estava lá. Todo mundo entra nessa história”, diz.
Cada uma das fotos também carrega a sua história pessoal. “Eu me encontrei na fotografia de parto. Eu tive dificuldade de ter filhos, fiquei 6 anos fazendo tratamentos para engravidar e não conseguia, até que veio a minha primeira filha naturalmente e depois a minha segunda filha. Coloco um pouco da minha experiência pessoal dentro do trabalho, e isso me realizou e vem me realizando. Eu faço o que eu amo”, afirma. É por isso que, para ela, o reconhecimento é tão importante, ainda que tenha sido natural. “Sempre falo com as minhas clientes: eu realizo os sonhos de vocês, mas vocês também realizam os meus”, diz.