O Brasil que Bolsonaro queria
“Os radicais – e as radicais, claro – precisam ser afastados. Os radicais, diz a velha sabedoria política, servem para ajudar a vencer eleições. Não servem para ajudar a governar.”
Em sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid falou o que todo mundo tinha certeza, mas que só agora o ex-assessor de Bolsonaro confessou com todas as letras: o ex-presidente queria mesmo dar o golpe e só não conseguiu porque altas patentes militares não compactuaram com ele. Fica assim bem claro que a baderna de 8 de janeiro, depredando o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, tinha o bolsonarismo por trás.
Ninguém tem mais dúvidas de que não era uma simples baderna de um grupo de irresponsáveis. Agiram ali fanáticos políticos, analfabetos políticos e falsos radicais regiamente remunerados por sugadores do Poder. Os responsáveis – ou irresponsáveis, como queiram – têm que pagar. Não queriam a posse do presidente legitimamente eleito. Agora, Lula, com sua decantada genialidade política, tem que procurar unir novamente o Brasil. E isto só será possível se deixar de lado o discurso raivoso, o desejo de vingança. Adotar o velho provérbio latino “palavras loucas, ouvido mouco” e prestar atenção apenas aos que querem o bem dele e do Brasil. Afastar-se dos raivosos.
A economia, por mais que muitos ainda não queiram, está ajudando Lula a superar as desconfianças, sob o comando do ministro Fernando Haddad. As negociações com o Congresso para aprovar as emendas necessárias caminham, é bem verdade que com a chantagem de grupos. Apesar das dificuldades, nosso país tem tudo para crescer. Lula, em suas viagens, como recentemente em Nova York, tem encontrado investidores que estão, novamente, acreditando no Brasil, como o ministro Haddad admitiu em conversas reservadas. Mas o presidente Lula tem que abrir os olhos e se afastar daqueles que só olham um lado. Que rezam em cartilhas antigas. Os radicais – e as radicais, claro – precisam ser afastados. Os radicais, diz a velha sabedoria política, servem para ajudar a vencer eleições. Não servem para ajudar a governar.
Mas a lembrança de que o ódio e a radicalização em nada contribuem para a recuperação do país não serve apenas a Lula. É preciso que a oposição também aja com bom senso. Não se cobra adesismos, mas racionalidade nas ações dos oposicionistas. É certo que foi o próprio Lula que abriu os palanques de 2026 ao admitir uma nova candidatura, mas é insensatez colocar campanhas nas ruas desde já como estão fazendo governistas e oposicionistas.