É o fim do parcelamento sem juros no cartão? Entenda as propostas
BC estuda acabar com o crédito rotativo como medida para controlar o endividamento no país
Atire a primeira pedra quem nunca fez uma compra parcelada no cartão de crédito. No cenário ideal não haveria dúvida: é melhor comprar no débito. Mas parcelar aquele celular, ou computador, em 12 prestações sem juros, às vezes acaba sendo a única forma de adquirir o produto. Na última semana, declarações do Banco Central e do Governo colocaram em pauta essa forma de pagamento tão querida pelos brasileiros. Mas, afinal, será que o parcelamento no cartão corre risco de acabar?
A discussão começou com uma declaração do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em audiência no Senado. Ele citou um incômodo do BC com o sistema atual de financiamento por cartão de crédito, que permite aos correntistas dividirem as compras em até 13 parcelas sem juros. De acordo com ele, a entidade financeira estuda uma espécie de “tarifa” para controlar a compra no crédito em muitas parcelas, o que pode levar o consumidor a perder o controle da fatura.
Conforme divulgado pela Agência Brasil, Campos Neto disse: “Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que eles fiquem um pouco mais disciplinados, numa forma bem faseada, para não afetar o consumo”. O presidente do BC ainda ressalta que o cartão de crédito hoje representa 40% do consumo no Brasil. Para ele, uma das situações que faz os juros do cartão serem tão altos é a grande utilização do parcelamento de compras por prazos mais longos. Isso aumenta o risco do crédito para as instituições financeiras e, consequentemente, os juros.
Fim do crédito rotativo?
No mesmo evento, o presidente do BC também sinalizou a possibilidade do fim do crédito rotativo. Esse tipo de modalidade entra em vigor quando o cliente não paga toda a fatura do cartão e o restante entra no crédito rotativo do cartão de crédito.
No entanto, os juros sobre o rotativo são os mais altos do mercado, podendo chegar a 454% ao ano. A proposta, conforme Campos Neto, ainda está em estudo e não foi fechada, mas em até 90 dias o BC deve apresentar uma solução para o que considera um dos “grandes problemas” do endividamento brasileiro, visto que a inadimplência no rotativo chega a ser de 52%.
No início do mês, os altos juros do crédito rotativo já tinham sido pauta para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No último dia 2, ele disse que os juros do cartão de crédito rotativo vão cair, mas que as taxas devem permanecer altas até que o Governo chegue a um consenso com os bancos e a um “sistema mais saudável”. Segundo o ministro, a redução será gradual.
Posicionamento das entidades
As discussões dos últimos dias fizeram com que diversas entidades do comércio se posicionassem a respeito da manutenção ou fim do parcelamento sem juros. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) emitiu nota, na segunda-feira (14), na qual afirmou não ter pretensão de acabar com o parcelamento no cartão. “Defendemos que o cartão de crédito deve ser mantido como relevante instrumento para o consumo, preservando a saúde financeira das famílias. Isso porque estudos indicam a necessidade de medidas de reequilíbrio do custo e do risco de crédito. Para tanto, é necessário debater a grande distorção que só no Brasil existe, em que 75% das carteiras dos emissores e 50% das compras são feitas com parcelado sem juros”, afirmou Isaac Sidney, presidente da entidade.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) também se mostrou contrária ao fim do parcelamento sem juros. Segundo a Federação, a medida “não serve como antídoto para o problema e pode prejudicar milhares de negócios, em especial os micro e pequenos.”
A Associação Brasileira de Internet (Abranet), que reúne mais de 70 milhões de clientes de serviços financeiros e empresas de maquininhas de cartão, publicou em seu site nota afirmando ser contra o projeto que limita as compras parceladas no cartão de crédito. De acordo com a Associação, o projeto encarece o pagamento parcelado e, na prática, vai desaquecer ainda mais a economia. “A entidade defende a livre concorrência e repudia a tentativa de extinção, taxação ou alteração da forma de pagamento.”