Mauro Cruz lança “O Escritor e a Lagartixa”
Em entrevista, autor reflete sobre caminhos da literatura infantil
Mauro Cruz começou a escrever histórias infantis enquanto contava clássicos para seus filhos, ainda pequenos, antes de dormir. Na época, não imaginava que se tornaria escritor, apesar de achar que todo mundo guarda um pouco dessa vontade dentro de si. Foi por influência do amigo, Eliardo França, que percebeu que a história que contava para seus pequenos já existia, e que bastava colocar no papel. Desde então, lançou “O Riacho” (2000), “O Riachinho” (2020), “Viagem ao Polo Norte” (2015/2017), “O Unicórnio das Nuvens” (2022) e “O Escritor e a Lagartixa” (2022), tendo inclusive edições bilíngues. Explorar esse universo, em sua visão, é algo capaz de evocar muitos sentimentos e oferecer perspectivas.
Foi pelo estímulo dos filhos que Mauro, que é dentista e cirurgião, começou a inventar suas próprias histórias. Ele já havia publicado dezenas de artigos científicos na sua área, mas conta que a escrita ficcional foi um desafio completamente diferente. Começou primeiro contando narrativas diferentes a partir de histórias famosas, a pedido deles, trazendo também toda uma expressividade e emoções. Logo, foi criando narrativas completamente próprias, compondo histórias a partir da memória de sua infância, em que um riacho passava próximo de sua casa. “Eu tinha vivido a minha infância à beira de um riacho, e imaginei que podia inventar histórias ali naquele lugar. Eu tinha um quintal enorme que, na minha imaginação, era o meu reino encantado”, relembra.
Criou então o personagem do riacho, que contava histórias para as crianças, e trazia cada dia “algo mais imaginativo e fantasioso”. Quando recebeu a sugestão de Eliardo, virou a madrugada escrevendo o que já estava na cabeça e depois levou cerca de um ano e meio refinando o texto. Desde então, foi pensando em histórias diferentes para esse público. “Mesmo livros que parecem simples e com pouco texto, é preciso de pesquisa e preparo. É muito importante estimular essa parte lúdica da criança e também trazer um potencial pedagógico”, diz.
Além de continuar escrevendo, ele foi estudando autores e aprendendo outras técnicas. “Criança não gosta de história ‘água com açúcar’, gosta mesmo é de coisas fortes, dramáticas, com personagens interessantes. Então, o texto tem que ser bem feito”, diz. O último e o primeiro livro publicados ganharam edições bilíngues, pensadas, inclusive, porque suas netas, para quem ele agora quer contar histórias, moram nos Estados Unidos. Também lançou “Os Cruz” (2007), “Bem-vindo a Miraí” (2009) e “Mar e Sertão” (2012/2014).
Potencial educativo
Além dos lançamentos, Mauro também costuma participar de feiras literárias e de projetos pedagógicos. Para ele, a aproximação de crianças com escritores, trazendo suas dúvidas e curiosidades, é um grande estímulo para continuar a escrever. “É um carinho que me deixa muito grato”, diz.
Uma de suas preocupações, para falar com esse público, é sempre trazer aprendizados educativos, questões comportamentais e também reflexões. As crianças, em sua visão, aprendem com o que está escrito com facilidade e absorvem conhecimentos de forma lúdica. Por isso, ele fala, por exemplo, da importância de todos os seres para o universo.”É uma porta de conexão com o mundo, vão entendendo sobre o funcionamento de tudo. Além disso, é um ensino também de princípios éticos e morais”, reflete.