Juiz-forana Júlia Calais concorre a premiação Cannes Lions 2023
A publicitária mineira é redatora sênior e criativa do audiovisual do projeto “Uncomfortable Food”, concorrendo na categoria “Glass, The Lion for Change” e “PR”
A publicitária juiz-forana Júlia Calais está concorrendo a uma premiação em Cannes Lions 2023, festival que ocorre anualmente na cidade francesa para destacar produções na área. Ela é redatora sênior e criativa do audiovisual do projeto ‘Uncomfortable Food’, que concorre na categoria “Glass, The Lion for Change” e “PR” através da agência Soko, em que trabalha. O projeto, em tradução livre, significa “comida desconfortável”, e traz para a discussão um circuito, promovido por Stella Artois dentro do movimento Juntas na Mesa, com objetivo de promover uma gastronomia com maior protagonismo feminino e equidade de gênero.
O ‘Uncomfortable Food’ foi realizado a partir de um estudo feito pela marca de cerveja Stella Artois e pela Ipsos, que é especialista em mercado e opinião pública, em que foi evidenciado a desigualdade de gênero nos espaços de poder do universo gastronômico. Das entrevistadas, foi visto que mais de um terço já teve suas capacidades questionadas apenas por se identificarem pelo gênero feminino e uma em cada duas participantes concorda que a cozinha doméstica ainda é vista pela sociedade como um trabalho das mulheres. O levantamento está alinhado com dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD) de que, no Brasil, apesar das mulheres liderarem 96% das cozinhas em casas, de acordo com o Chefs Pencil, elas estão à frente de somente 7% das cozinhas profissionais nos restaurantes mais renomados.
Com objetivo de mudar esse cenário, a campanha reuniu 25 restaurantes em seis cidades brasileiras com a proposta de oferecer pratos especiais e que contam histórias de representatividade. O chamado ‘Circuito Uncomfortable Food’ faz com que cada uma das opções de pratos tragam uma reflexão sobre o cenário atual da gastronomia e sirva como um estímulo de mudança. Os pratos são disponibilizados por apenas um mês, por valores a partir de R$ 35 e foram criados por chefs mulheres convidadas da Ambev. Entre as participantes estão Bela Gil, Kátia Barbosa, Andressa Cabral, Bel Coelho, Cafira Foz, Bruna Martins, Kalymaracaya Nogueira, Amanda Vasconcelos, Michele Crispim e Nara Amaral.
Uma das categorias disputadas, a “Glass Lion”, tem como objetivo reconhecer trabalhos que abordam questões de desigualdade ou preconceito de gênero. É a primeira vez da mineira na premiação, e ao saber da indicação, ela conta que se sentiu muito emocionada e animada com o que estava por vir. Assim como a proposta que traz para concorrer, Júlia reforça a própria presença no time de criação como também uma conquista. “O mais legal disso tudo é que eu sou uma mulher em Cannes, e como a gente sabe, todas as áreas de todos os mercados são machistas. A publicidade também tem vários casos de machismo. Ser uma mulher e estar aqui, trazendo um pouco do talento, do profissionalismo e das minhas ideias é muito gratificante”, conta.
Carreira e transformações
Júlia Calais fez Publicidade e Propaganda em Juiz de Fora, entre 2010 e 2014. Quando se formou, não esperava sair da cidade mineira, mas foi correndo atrás de seus sonhos que acabou indo para outras cidades. Logo foi estudar no Rio de Janeiro, e também trabalhou em Nova York em uma agência de publicidade como estagiária. Ao retornar para o Brasil, escreveu um texto sobre pão de queijo e goiabada, e foi mandando o material para diversas agências em busca de uma contratação. Conta que, nesse percurso, chegou a enviar mais de cem e-mails esperando uma oportunidade.
A decisão de se aprofundar nessa área aconteceu justamente por se considerar uma pessoa “artística e comunicadora”, e perceber que poderia encontrar nesse meio uma forma de transformação social para além de sua própria vivência. “Quando decidi ser criativa e fazer Publicidade, foi por um dia almejar a oportunidade de contribuir para um mundo melhor. Criar é muito prazeroso”, diz. O que mais a fascina na profissão é poder “fazer mil coisas diferentes sobre mil assuntos”, e superar os desafios diários ganhando “dose extra de animação e felicidade”.
No caminho da juiz-forana, ainda existem muitos projetos que chamam a sua atenção e cativam para ideias futuras. Assim como no ‘Uncomfortable Food’, em que teve a oportunidade de inspirar o mercado a tratar as mulheres de forma diferente, ela revela que se atrai ainda mais por iniciativas que efetivamente ajudam a melhorar a vida das pessoas.