Pouco a celebrar
Há reconhecidos avanços, mas a discussão ambiental, a ser dividida em várias frentes, ainda não é prioridade em boa parcela dos países
O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nessa segunda-feira, deve servir de referência para as muitas discussões envolvendo o tema, sobretudo por haver um extenso passivo a ser implementado em todas as instâncias geográficas. O mundo, de forma geral, ainda não se conscientizou suficientemente para adotar medidas necessárias para garantir o equilíbrio ambiental.
Há, é fato, países que estão à frente, adotando políticas em torno de energia renovável, especialmente eólica e solar, mas a maioria ainda investe pouco em pesquisas capazes de encontrar novas fontes para substituir as principais matrizes como o petróleo, que, mais tempo, menos tempo, pode acabar. O avanço dos veículos elétricos já é uma realidade, mas em passos lentos por conta dos custos. Ademais, a infraestrutura ainda é precária, com raros pontos de carregamento. Enquanto isso, a emissão de gases continua em curva ascendente.
A questão ambiental tem várias frentes, daí a necessidade de discussões pontuais para se buscar soluções. Colocar tudo num só pacote acaba levanto a um impasse nas discussões. Na semana passada, um relatório revelou impressionantes dados em torno de resíduos plásticos jogados nos oceanos e nos rios, comprometendo ecossistemas em diversos níveis. Fala-se muito em torno de produtos biodegradáveis, mas não se percebe esforço suficiente para exigir mudanças.
Nem todos os rios chegam ao mar. Essa é outra constatação diante do assoreamento dos leitos em decorrência da falta de chuvas em diversas regiões do planeta a despeito de fenômenos inversos em outras, com chuvas em excesso. Os meteorologistas preveem problemas pela frente ante o efeito “El Niño”, que deve ocorrer no próximo período. Os últimos seis meses foram pródigos em chuvas no Brasil, mas, em outras regiões, como na vizinha Argentina, as secas já levam tempo.
A natureza tem dado indicativos, mas a mudança climática tem ficado restrita à agenda dos muitos fóruns sem que, de fato, gere medidas enfáticas dos governos. O Brasil foi um dos pioneiros com a Eco 92, quando mais de cem chefes de estado estiveram no Rio de Janeiro. De lá para cá, outros eventos de porte semelhante aconteceram, como os de Kioto e a COP-26, em Glasgow, na Escócia, no ano passado. Foram muitas as constatações; poucas as soluções.
O Congresso Nacional tem sido palco de uma série de projetos que desidratam o Ministério do Meio Ambiente, capitaneado pela ministra Marina Silva. Ante o silêncio do Governo, foram aprovados não só por conta de interlocução, mas também por não haver bases na Câmara e no Senado capazes de sustentar o discurso da ministra.
Ainda é cedo para as conclusões, mas, ao mesmo tempo que o presidente Lula anda pelo mundo afora pregando medidas em defesa do meio ambiente, no seu próprio país, a legislação tem ido na direção contrária. Chegará um momento em que ele terá que definir qual papel pretende desempenhar.