Dos EUA para JF: Amanda Ridings já passou mais da metade da sua vida no Brasil

Estadunidense veio para Juiz de Fora aos 17 anos; com 35, tem vida estabelecida na cidade que considera como seu segundo lar


Por Bernardo Marchiori, estagiário sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

25/03/2023 às 16h40- Atualizada 25/03/2023 às 16h44

mulheres em movimentoElegância, simpatia e cuidado. Essa é a primeira impressão que a estadunidense Amanda Ridings, de 35 anos e atual moradora de bairro São Pedro, em Juiz de Fora, passa. Ainda é possível captar leves expressões de timidez no início de uma conversa. Entretanto, não é necessário muito tempo para driblar isso. A professora de Inglês manifesta com facilidade seus sentimentos – em sua maioria, positivos. De todos os assuntos, um dos que Amanda demonstra mais claramente um semblante apaixonado enquanto fala é sobre a cidade e o país em que mora há 18 anos.

Amanda veio a Juiz de Fora pela primeira vez em 2004, aos 17 anos de idade, ainda no 2º ano do ensino médio. A estadunidense saiu de Nova York, onde nasceu e passou toda a sua infância e adolescência, para ter novas experiências acadêmicas e de vida no Brasil. Apesar de existirem outras possibilidades de destino na época, ela não pensou duas vezes antes de escolher. “Quando fiz intercâmbio, tinha duas opções: Brasil e Bolívia. Como não me interesso muito pela língua espanhola e tinha referências de uma amiga brasileira da minha mãe, que cozinhou para a gente e levou presentes daqui quando foi nos visitar nos EUA, despertou em mim uma vontade de conhecer a cultura local. No momento de escolher para onde viajar, decidi sem nem pensar que seria o Brasil”, conta, como em um caso de amor à primeira vista.

Depois de concluir o intercâmbio, no Colégio dos Jesuítas, em parceria com um programa do Rotary, Amanda já tinha total certeza de seu destino como adulta após a conclusão do ensino médio. “Como eu já conhecia a cidade e muitas pessoas, além de me sentir bem aqui, quis voltar para Juiz de Fora para iniciar minha vida adulta. Gostei muito de vir para cá”, destaca. Desde então, ela não se mudou. Já está morando no município há 18 anos – tempo que corresponde à metade do tempo de vida de Amanda. Com o habitual sorriso no rosto, a estadunidense enaltece: “eu considero Juiz de Fora meu segundo lar”.

No dia a dia, Amanda exerce a sua atual profissão como professora de inglês para passar sua experiência como nativa da língua. “Trabalho na sala de aula há aproximadamente 17 anos. Já exerci o cargo em diferentes cursos de inglês na cidade, mas atualmente só dou aulas particulares. Tenho muitos alunos que estudam comigo virtualmente, de forma on-line”, conta. Mas a estadunidense não se restringe a isso. “Além das aulas, gosto de fazer musculação, de cuidar dos meus cachorros e da casa. Nos finais de semana, aproveito com meu marido para ir na piscina, por exemplo”, completa.

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Nova-iorquina precisou decidir entre o Brasil e a Bolívia ainda no ensino médio e não teve dúvidas: optou pelo país que, hoje, mora em seu coração (Foto: Pedro Moysés)

Dificuldades na nova moradia

Apesar de levar uma vida leve e tranquila em Juiz de Fora, Amanda conta que já passou por dificuldades de adaptação após a mudança dos EUA para o Brasil. “Quando cheguei aqui, eu era muito nova. Principalmente nessa idade, é preciso muita coragem para sair de seu país e de seu conforto para morar em outro lugar, com pessoas, língua e cultura diferentes. Aprendi a falar em Português conversando com os outros no dia a dia. Também tive muita ajuda da minha primeira mãe de intercâmbio nesse sentido, por ter me tratado realmente como se fosse uma filha e me guiado. Especialmente em um momento em que ainda tentava me entender e me descobrir como mulher e como pessoa”, reconhece.

Além disso, Amanda precisou enfrentar problemas financeiros quando chegou ao Brasil. “Antes de voltar para cá, eu trabalhei nos EUA para juntar dinheiro para conseguir me estabelecer aqui. Mas acredito que pela falta de maturidade, não soube administrar essa questão financeira muito bem, então comecei a viver no novo país muito embaixo. Para piorar, não tinha experiência, então não consegui muitos empregos aqui. Foi muito difícil no início. Minha casa era muito simples, não tinha carro, então andava muito para poder economizar dinheiro. De qualquer forma, essa situação foi importante demais para o meu crescimento pessoal”.

A distância em relação à sua família e a tentativa de equilibrar a vida nos EUA e no Brasil também foram colocadas por Amanda como um dos obstáculos vividos. Com muita sinceridade no olhar, ela conta: “Todos os meus parentes ficaram lá. Eu sou a única que veio para cá. Pelo menos, consigo visitá-los todo ano. Passo por volta de três semanas fora. Sempre pensei que algo muito grande me puxaria de volta para lá, mas nunca consegui me enxergar retornando, nunca senti essa necessidade. A pandemia de Covid-19 também mexeu muito comigo. A vacinação lá foi muito mais ágil. Mas está nos meus planos essa ideia de dividir o tempo, talvez com seis meses em cada país, principalmente pela facilidade de trabalhar com internet”.

Identificação juiz-forana

Embora Amanda não negue as dificuldades passadas desde o momento em que chegou ao Brasil até atualmente, ela ressalta, de um modo verdadeiramente apaixonado, a identificação com o país e, mais especificamente, com Juiz de Fora. “Eu vi a cidade crescer, por estar aqui há tanto tempo. Foi legal acompanhar isso. É uma cidade muito boa. Acredito que consegui fazer meu nome aqui como professora de Inglês. Me sinto muito bem na cidade. Falo que minha alma é brasileira, porque amo samba, praia e a leveza que o brasileiro leva a vida. Não me sinto uma estrangeira, estou totalmente imersa em JF. Me considero 50/50, inclusive passei metade da vida aqui e metade nos EUA”, analisa.

Amanda ainda cita vários motivos que tornam a cidade um dos seus locais preferidos. “Juiz de Fora é grande, mas tem aspecto de cidade pequena. Você não demora muito tempo para chegar de carro na maioria dos lugares, então tem essa facilidade. Também não acho uma cidade violenta, me sinto segura aqui”, enumera. Outro fator que a apaixona é a alimentação. “Minas Gerais é muito conhecida pela comida – sempre muito gostosa e feita com carinho. Gosto de ir em diferentes restaurantes com meu marido, com quem sou casada há cinco anos”, complementa.

Em relação ao povo juiz-forano – e brasileiro no geral -, Amanda também ressalta com felicidade estampada no rosto o que sente. “As pessoas são muito acolhedoras. É o estereótipo de falar que o povo aqui é mais ‘quente’. Me senti muito acolhida e bem-vinda aqui. Inclusive, sempre falam que eu sou a gringa mais brasileira que existe. Realmente fui recebida de braços abertos”, exalta. Ao comparar com a sociedade estadunidense, Amanda afirmou ter percebido a diferença na união. “Aqui, fazem questão de encontrar e de se ver toda semana. Na época do intercâmbio, a família se juntava nos domingos na casa dos avós, independente do motivo. Nos EUA, o povo não preza tanto por tirar um tempo para ver os parentes, até em datas comemorativas. No Brasil, se encontram pais, primos, tias, cachorros, todo mundo”, finaliza.

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