O presépio de Cristiano: um quarto que guarda o Natal
O artesão trabalha com peças recicladas para contar histórias, e faz vilas natalinas todos os anos dentro de sua casa
Em um só quarto, são muitas casinhas alemãs feitas à mão, com material reciclado, que formam uma vila inteira de Natal. É apontador que vira carrinho de pipoca, presente de amigo durante viagem que entra para história, pequenos personagens de todos os tipos também são incorporados e mais de 15 anos de história que vai se acumulando e se refazendo a cada novo Natal. Cada pequeno detalhe, uma cena: gente andando de bicicleta, lendo jornal, roubando pão, cuidando dos bichos, conversando, de mãos dadas ou indo brincar em um parque. E isso tudo se acende, com pisca-pisca e também pequenas luzes dentro das casas, para que todos possam ver quando tudo está brilhando e em movimento: esse é o presépio do artesão Cristiano Hansen.
Ele tomou gosto pelas decorações de Natal ainda pequeno, mas foi quando descobriu como montar presépios que realmente começou a se apaixonar por essa arte. Hoje, são cerca de 400 casinhas guardadas, trenzinhos e muito mais – nem cabe tudo no espaço que tem. “Eu comecei montando em cima de uma mesinha, depois coloquei na cozinha, depois foi para um quarto…cada ano cresce. Este ano, por exemplo, resolvi fazer um parque de diversão”, explica. Ao longo do ano, esse presépio é desmontado, colocado em caixinhas separadas e o mesmo quarto vira o seu ateliê. Para ele, o melhor dessa experiência é também ver que as pessoas tomam tempo para olhar cada detalhe, e se sentem tomados pela energia que o quarto traz.
Para fazer cada casinha é preciso de cerca de 15 dias, e, para montar o presépio, são necessários quase 20. Como é muito detalhista, Cristiano gosta de fazer, ele mesmo, cada detalhe, inclusive as pinturas diferentes de cada uma dessas casas. O que mais o inspira é a arquitetura alemã, por também ter uma ligação forte com essa cultura, que veio da sua família e ainda é tão presente no Bairro Borboleta. Mas, na verdade, há um pouco de tudo na vila. “Tem gente que traz presente, e eu coloco também. Tenho uma amiga, por exemplo, que me deu uma sombrinha pequenininha e eu coloquei. Assim, o presépio acaba contando a história de todo mundo. Quando esses amigos vêm aqui e percebem isso, ficam felizes”, diz.
Todas essas casinhas começaram também de uma pequena casa, presente de sua avó. Esta ele não vende, não troca e não dá – mas nunca deixa de incorporar no seu presépio. Ela é sua inspiração nesse trabalho de artesão, porque foi com ela que também aprendeu a decorar a casa inteira no Natal. Além do presépio, ele tem uma árvore grande de Natal e vários outros detalhes pela casa. “Os presépios me lembram muito a minha vó, ela sempre montava embaixo da árvore, uma coisa pequenininha. A árvore dela não tinha bola, eram bonequinhos, então fui cultivando isso”, conta. Quando ela faleceu, ele ficou um tempo sem se dedicar a essa montagem, mas logo retomou. E fez isso por ela: “O Natal para mim é muito importante, muito porque lembro dela montando a árvore comigo, falando como devia fazer”, relembra. Se não a chamasse, a avó se chateava. “Isso me emociona, porque hoje ela faleceu, mas não posso deixar isso morrer. Eu tenho que continuar e lembrar o quanto ela gostava”, diz.
Trocando ideias e peças
Todo ano o presépio muda – seja por uma pecinha diferente ou por um tema inteiro, mesmo. Este ano ele trouxe um parque de diversão para o meio do presépio, com roda gigante, carrossel e carrinho de bate-bate. A dedicação para pensar em todos os detalhes deixam até ele espantado, que confessa que de vez em quando olha tudo pronto e se surpreende: “Gente, será que fiz tudo isso mesmo?”.
Uma das coisas que mais o encorajou a continuar e ir expandindo as ideias foi ter o apoio de um grupo que também monta vilas de Natal, com gente de todo o mundo. Ele foi adicionado nesse grupo por uma conhecida, de Blumenau, que viu há muitos anos as fotos que ele postava de seu presépio. “Dessa forma, a gente consegue dividir preços e trocar ideias, dar dicas. É bom ter gente para compartilhar isso”
Ele gosta de enxergar esse quartinho, onde guarda o presépio, como uma cidade que conta a história do Natal. “Tem os personagens, as árvores que são feitas por mim, o lago, as ruas, a confecção dos telhados. Tudo é trabalhado com cuidado, faço as casinhas de acordo com uma época.” Ele explica que gosta mesmo, no artesanato, do que o desafia.
Presépio para gente ver
Mesmo dentro de casa, no período em que estávamos conversando, já chegou gente para ver o presépio de Cristiano. Logo que sua amiga chegou e pediu para ir ao quarto, levou um susto, ficou espantada. Disse que não imaginava que podia ser tão bonito. E não é só ela que vai – os amigos combinam uns com os outros, a mãe dele leva amigas da igreja, as pessoas do bairro comentam. E é por isso que ele tem vontade de deixar que o presépio tenha muito mais espaço, chegue até bem mais gente.
Há muito que ainda não cabe no quarto. “Minha vontade é expor em um lugar maior, para ter visitação do público. Isso é uma magia, né? Quem vem ver, não fica só um minuto. Fica mais de meia hora, vendo cada personagem, porque cada um tem uma história”, diz.