Todo mundo que conheço diz estar muito cansado, ou melhor, extremamente cansado. Eu também me sinto assim. Não se trata de um cansaço só físico. É algo que vai além e acaba, muitas vezes, refletindo não apenas no corpo, mas no desejo de seguir adiante. Uma vontade de não sair da cama ou de voltar para ela tão logo seja possível. É como se estivéssemos todos sem energia, sendo consumidos pelas tarefas, pelos compromissos e pela pressão do dia a dia, que virou, como dizem, máquina de moer gente.
Às vezes, não nos damos conta de que estamos improvisando lanche rápido no lugar do almoço. Que chegamos em casa, mas não nos desplugamos do trabalho, que o mês acaba sem que tenhamos dado conta da chegada dele. Estamos vivendo no olho do furacão dia após dia, sem direito a refresco e ainda intoxicados pelo mundo digital. Já repararam que, às vezes, mesmo nos alimentando, estamos de olho na tela do celular, com o notebook aberto e a televisão ligada ao mesmo tempo?
Essa imagem do homem moderno pode até parecer progresso, mas na verdade representa muito mais um retrocesso de nossa condição humana. O filósofo coreano Byung-Chul Han, da Universidade de Berlim, na Alemanha, é autor do livro “A sociedade do cansaço”, sobre o qual eu já escrevi aqui neste espaço. Na obra, ele faz um alerta: “Um animal ocupado em mastigar a presa deve tomar cuidado para que, ao comer, ele próprio não acabe comido”.
A advertência do filósofo é bem-vinda: ou temos cuidado ou acabaremos comidos, consumidos, pelo monstro que estamos criando. A impressão que tenho é de que estamos vivendo em abundância e sofrendo de uma crônica necessidade de ser eficiente e de ser feliz. Não existe espaço para a tristeza. É como se ela não fizesse parte da nossa essência: um processo que também é necessário na busca pela nossa paz. Não me entendam mal. Não estou fazendo uma ode à melancolia, apenas querendo dizer que a incessante procura pela tal felicidade também cansa.
É preciso pisar no freio, porque, se já não conseguimos enxergar o quão caótica está a nossa volta, é porque já estamos pagando o preço pela nossa falta de repouso. Mas, para não ser tachado de pessimista, vou lembrar da Fênix, aquela ave lendária que se imolava no fogo para renascer, como metáfora do nosso renascimento dos momentos difíceis. Primeiro, é preciso ter a certeza de que estamos vivos, apesar dessa vida abundante, e de que nossa reconstrução pode se dar por meio das cinzas. Se existe crueldade, também existe beleza. Se há trevas, há caminhos iluminados. Se tem rancor, tem também o perdão. Para o caos, existe o silêncio. É preciso saber escolher quando for possível. Caso não seja, é tentar encarar o que vier, e de forma menos traumática.
Em meio a tanta fadiga, é preciso se permitir receber e dar afeto. Tomar aquele café com o amigo no meio do trabalho, ouvir a voz de quem se ama mesmo que seja pelo telefone ou por mensagem de áudio. Se as palavras são difíceis, quem sabe um gesto? Um olhar? Apenas um abraço? O negócio é se reconectar com a vida, conosco e com quem esteve e está ao nosso lado. Não há cansaço que resista ao incontrolável desejo da Fênix de voar sempre mais uma vez.