Morre Franco Groia, cineasta e professor juiz-forano
Groia estava internado em decorrência de pneumonia e teve morte encefálica após complicações
Morreu, nesta quinta-feira (30), aos 48 anos, o cineasta, roteirista, produtor audiovisual, montador, diretor de fotografia e professor universitário Franco Groia, nascido em Juiz de Fora. Ele estava hospitalizado por complicações decorrentes de uma pneumonia desde a semana passada. Na terça-feira (28), teve morte encefálica, condição irreversível em que todas as funções cerebrais param. ele foi sepultado às 16h30 no Cemitério Municipal.
Groia era graduado em Comunicação Social, com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Na cidade em que nasceu e morou, desenvolveu uma série de atividades que foram importantes para o desenvolvimento cinematográfico da população e da região, como foi o caso do Festival Primeiro Plano, do qual ele foi um dos fundadores.
Além disso, como diretor, realizou os curtas-metragens “Calçadão – Onde tudo acontece” e “Chave”. Groia também foi responsável pelos DVDs “Dudu Lima – Ouro de Minas” e “20 anos de pura música”, também do músico juiz-forano Dudu Lima.
Atualmente, era coordenador geral do portal “História do cinema brasileiro”, que divulga e escreve sobre filmes nacionais e funciona como uma enciclopédia do cinema, sendo, também, seu criador.
Amigos e colegas de profissão lamentam a perda
A morte de Franco Groia foi lamentada por amigos e colegas de profissão. Um dos idealizadores do Festival Primeiro Plano, Aleques Eiterer destacou o empenho de cineasta para que o evento se tornasse realidade, assim como para a produção cinematográfica local como um todo.
“O Franco era um incansável lutador pelo audiovisual de Juiz de Fora. Ele queria muito que a cidade se tornasse um polo de cinema, e também brigava muito para que os cinemas de rua não fossem fechados. Em 2001, trabalhamos juntos, e sua força política foi muito importante para que o Primeiro Plano começasse a acontecer em 2002. A cidade e o cinema perdem muito com sua partida”, declarou.
Colega do cineasta nos tempos de faculdade, o diretor e produtor peruano Carlos Solano conviveu com ele entre 1995 e 2000, quando morou em Juiz de Fora, e conta terem realizado vários projetos juntos na universidade, e, mesmo depois, foram parceiros em outras iniciativas. “Na época de estudantes, trabalhamos juntos em vários curtas, documentários, e depois colaborei com ele procurando curtas produzidos no Peru para o Primeiro Plano, na mesma época em que eu organizava um festival de cinema em animação em Lima”, relembra.
“O Franco era uma figura singular; para mim, sempre foi sinônimo de tenacidade e superação, jamais parava perante uma meta ou desafio. Foi uma pessoa realmente iluminada, que sempre teve uma força e intuição muito grandes, lutando sempre pelas suas paixões, que eram o cinema e o ativismo político. Como vocês dizem no Brasil, era uma ‘figuraça'”. Mesmo à distância, Carlos pôde observar a forte ligação que o amigo tinha com sua terra natal. “O Franco era um gestor e ativista cultural que sempre teve um carinho por Juiz de Fora, por sua memória e história. Agora, chegou a nossa vez de honrar a memória dele.”
Também contemporâneo à época da universidade, o cineasta Cleisson Vidal, que trabalhou com Groia no curta “Calçadão – Onde tudo acontece”, é mais um a lamentar a morte do diretor, que, para ele, representava a expressão do bem querer e da luta pela vida. “Eu o conheci quando já era cadeirante, pois sofria de uma doença autoimune, e isso não era uma barreira para ele. Sempre tinha um sorriso largo no rosto, era perseverante e não tinha limitações em seus sonhos”, diz. “Foi uma pessoa que nunca se fez de coitado e que sempre lutou pelos direitos das pessoas com deficiência.”
Cleisson lembra, ainda, que Franco Groia passou por várias internações durante a vida, mas que assim que era possível avisava a todos que já estava de volta – e sempre ativo. “O Franco passou por perrengues por causa dos problemas de saúde, mas sempre foi muito aberto, sempre sonhador, com desafios a fazer e ideias para acontecer. Foi um choque (receber a notícia), mas espero que ele seja sempre lembrado como um cara de muita energia, muita luta.”
Repercussão na música e na política
Franco Groia foi importante não apenas para o cinema, mas também para a música. Ele foi o diretor dos DVDs ao vivo “Dudu Lima – Ouro de Minas” e “20 anos de pura música”, de Dudu Lima. Mesmo triste com a notícia da morte do diretor, ele se apega à gratidão pelo apoio que recebeu de Franco quando foi realizar seu primeiro projeto audiovisual.
“Nossa relação começou em 2004, quando começamos a produção do meu primeiro DVD, em comemoração aos meus 20 anos de carreira. O Franco foi uma pessoa muito importante nesse processo, abriu as portas da sua produtora quando a gente estava produzindo sem patrocínio, abraçou o projeto junto com a Ligya Alcantarino, minha produtora. Ele teve grande empenho, dedicação e generosidade com o projeto, e foi decisivo para iniciar meus registros em DVD, tendo trabalhado comigo, ainda, no ‘Ouro de Minas’, conta. “Mesmo distantes, sempre tivemos um laço de amizade. Quando nos encontrávamos, era um momento de alegria, de bons sentimentos, graças a tudo que realizamos juntos
A prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão, publicou uma mensagem nas redes sociais lamentando a morte de Franco Groia. “Passou o nosso querido companheiro Franco Groia. Perdi o meu querido amigo Franco. Sua vida, tão breve e tão corajosa, tão brilhante, vai sempre ser uma luz nesses tempos escuros. Meu abraço à sua mãe Adriana, minha colega de colégio e de curso de Letras. Minha referência também a seu saudoso pai Roberto, meu contemporâneo no Machado Sobrinho, na Universidade. Meu abraço a todo mundo que sente como eu a perda do Franco, militante, artista, lutador sem tréguas em favor da cultura democrática e da democratização da cultura”, declarou.