“O que está em conformidade com os fatos ou com a realidade”. Assim o sabe-tudo Aurélio define a palavra verdade. Um conceito que anda muito esgarçado nos últimos tempos. Imagino que, para os editores do dicionário Aurélio, não deve ser fácil acompanhar as notícias, pois, a cada dia, a ideia de verdade que é anunciada na boca de autoridades políticas em nada se parece com o que eles registraram no livrão, que é tido como o dicionário mais famoso do Brasil.
Fiquei pensando aqui se as pessoas ainda têm o hábito de consultar o dicionário como antigamente. Eu aprendi na escola, lá nos primeiros anos, como manuseá-lo a fim de encontrar algum verbete. Lembro que a professora me ensinou que, ao abrir uma página, a primeira coisa que tinha que perceber era a presença de duas palavras que se destacavam nos cantos direito e esquerdo. Elas serviam como palavras-chave para orientar a minha consulta, para encontrar o termo procurado. Mas, hoje em dia, com a facilidade da internet, principalmente do Google, desconfio que a procura dos significados das palavras já não seja mais assim.
Talvez hoje as crianças já não tenham tanta intimidade com os dicionários, o que é uma pena! Para mim, naquela época em que estava aprendendo a usá-lo, o livro de palavras miúdas era como se fosse um espelho, pois todos os vocábulos que ouvia ou que lia em algum anúncio, eu podia ver refletido ali, e o melhor de tudo, com o seu significado logo em seguida. Lembro-me, inclusive, de fazer joguinhos com o dicionário, tipo: ganha quem encontrar uma palavra primeiro ou ganha quem acertar o significado de uma palavra desconhecida.
Ficava imaginando como deveria ser difícil escrever um livro que tinha a obrigação de ter todas as palavras conhecidas e desconhecidas. Deve dar um trabalhão fazer um dicionário, escolher palavras que devem entrar nele, uma vez que a língua é “viva” e muda o tempo todo. Tanto é verdade que, na minha época de criança, não existia a expressão “fake news”, que é amplamente usada atualmente e já consta lá no Aurélio na sua versão on-line, onde pude consultá-la. Segundo ele, o termo, que tem origem no inglês, significa “qualquer notícia ou informação falsa ou mentirosa que é compartilhada como se fosse real e verdadeira, divulgada em contextos virtuais, especialmente em redes sociais ou em aplicativos para compartilhamento de mensagens”.
Por falar em redes sociais, não é que o Facebook, o Instagram e o YouTube derrubaram a live do chefe do Executivo do Brasil por propagar conteúdo mentiroso, algo que já passava da hora. Usando das famigeradas “fake news”, o mandatário do governo, sem nenhum constrangimento pós-CPI da Covid, afirmou aos seus seguidores que pessoas que tomaram duas doses da vacinas contra o coronavírus no Reino Unido estariam desenvolvendo o vírus da Aids. Imediatamente, ele foi desmentido por cientistas do mundo inteiro e pelo próprio governo britânico.
Apesar das mais de 600 mil mortes por Covid-19 na pandemia, do aumento da pobreza e das novas projeções de recessão em 2022, aquele que ocupa a cadeira de presidente continua agindo de forma criminosa. Provavelmente, ele nunca soube usar o dicionário e desconhece que a verdade está em conformidade com os fatos, como bem define o Aurélio.