Incêndio atinge galpão da Cinemateca Brasileira, em São Paulo

Prédio, já consumido por chamas em 2016, abriga o acervo fotográfico da instituição


Por João Ker (Agência Estado)

29/07/2021 às 19h36- Atualizada 29/07/2021 às 21h58

Um incêndio destruiu parte do acervo de um galpão da Cinemateca na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo, na noite desta quinta-feira (29).  Ao menos três salas do 1º andar – duas de filmes históricos e uma de material impresso e documentos – foram consumidas pelo fogo. Segundo o Corpo dos Bombeiros, as chamas começaram após manutenção de um ar-condicionado em uma sala da instituição, a mais antiga do tipo na área de cinema na América Latina. Não houve vítimas, e as chamas foram controladas. O Governo federal disse que pediu à Polícia Federal para apurar o caso.

Nos últimos anos, artistas e funcionários da Cinemateca têm alertado para a precariedade da estrutura, falta de investimentos e risco de incêndio. Ainda não há confirmação se o acervo queimado era formado por cópias ou por originais.

As chamas atingiram três salas de área entre 300m² e 400m². O andar térreo não foi afetado. “Estamos apurando o que foi queimado e o que foi preservado nessas três salas, mas provavelmente não foi preservado nada”, afirmou a capitão Karina Paula. A corporação ainda apurava se o local tinha alvará de incêndio.

Conforme a Secretaria de Cultura do Governo federal, o sistema de climatização havia passado por manutenção havia um mês. “Só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico”, declarou, em nota, a pasta.

Nas redes sociais, o secretário de Cultura, Mário Frias, escreveu que a apuração da PF vai indicar se o incêndio foi criminoso ou não. “Tenho compromisso com o acervo ali guardado, por isso mesmo quero entender o que aconteceu”, disse.

A Cinemateca tem a função de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro. É administrada pela Secretaria Nacional do Audiovisual, parte da Secretaria Especial de Cultura. Há dois anos, o contrato que a Associação Roquette Pinto (Acerp) mantinha com o Ministério da Educação para a gerência da instituição não foi renovado.

O Governo federal se comprometeu com novo edital para a função, mas a promessa não saiu do papel. Em maio de 2020, ao demitir Regina Duarte do comando Secretaria Especial da Cultura, o presidente Jair Bolsonaro declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela iria para a instituição – ela não assumiu a função. Em agosto, Frias declarou que a Cinemateca estava “protegida”, em visita ao local.

A sede da Cinemateca fica na Vila Clementino, na Zona Sul. O prédio no número 290 da rua Othão, na Vila Leopoldina, foi doado à Cinemateca em 2009, pela União. Com área total de 8.400 m², dos quais 6.356 são de área construída, passou a abrigar dois anos mais tarde as reservas específicas de guarda de acervos, áreas de processamento de acervos fílmicos e documentais, laboratório de impressão fotográfica digital e demais instalações administrativas, de apoio e serviços da instituição

Reação

“Caso se confirme que o incêndio é fruto da falta de manutenção que nós e todo o setor audiovisual já tínhamos anunciado, vamos perceber que essa é mais uma ação de ataque à cultura e ao patrimônio cultural brasileiro por parte do Governo, que tem linha ideológica completamente distanciada da cultura brasileira”, disse o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Yousseff.

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