O amor só consegue crescer se existir admiração.
Essa frase de para-choque de caminhão não deve ser mentira, se você pensar bem. É provável que um amor cresça por outros motivos também, mas sem admiração emperra, empaca e chega ao fim da linha. À medida que o espaço preenchido pelo admirável se esvazia, ele passa a ser preenchido, geralmente, pelo seu oposto. Considerando a complexidade que, inevitavelmente, compõe um relacionamento, essa equação é mais simples e mais nítida a olho nu do que a transição de amor para amizade ou cumplicidade ou hábito.
Mas quando falta ou abunda a admiração é difícil disfarçar: não há muito esconderijo. Ou se admira alguém ou não. Quantas vezes já ouvi de pessoas próximas sobre seus términos de relacionamentos pautados no completo desinteresse do par. Não havia admiração e por consequência, não havia interesse. É bastante simples e inacreditavelmente direta essa relação.
Não falo aqui exclusivamente de relações amorosas, de namoro, casamento. A relação com a família e os amigos também me parece carregar esse peso. Claro, se somos admirados, seria bom poder admirar também e se isso acontece é bem mais fácil manter viva uma relação que não seja fundamentada apenas em histórias e referências passadas. Quando um amigo empaca em pensamentos sombrios, fascistas, cruéis, antiquados e cafonas é bastante difícil cultivar a amizade em tempo real. A amizade se cristaliza. Embalamos aqueles momentos preciosos no melhor corte de seda, colocamos dentro de uma caixa bonita, fechamos, amarramos belos laços e enfiamos no fundo do armário.
Mas quando há admiração é como se aquele sol continuasse a brilhar, apesar de geografias, tempos, trancos e barrancos. As manifestações de admiração podem surgir das mais diferentes frentes, de formas inesperadas. Não faz muito tempo, meu filho fazia um dever de casa onde era ensinado a preencher formulários. – Eu sei… Enfim, os ingleses.
Profissão do pai: trabalha no escritório. Não sei direito o que faz.
Profissão da mãe: escritora. Tem vários livros publicados.
O curioso é que eu não me lembro de jamais ter proclamado na minha casa: “Pessoal, olha só, eu sou escritora, tá bem? Lembrem-se disso quando, no futuro, forem preencher seus formulários.”
Mas lá estava, de surpresa, uma manifestação de amor. Uma manifestação de amor porque no formulário frio e tolo, a observação atenta do meu filho sobre o que tento fazer durante horas e horas, inclusive, e principalmente, quando não falo sobre isso.
Esta semana chegou um pacote aqui endereçado para a minha filha. Quando ela chegou da escola, me entregou o embrulho e me disse que era um presente. Abri e me surpreendi com um par de brincos enormes e no melhor tom de azul possível, aquele azul meia-noite profundo, uma beleza. Mas fiquei pensando que eu não teria comprado aquele brinco pra mim mesma. Fiquei muito agradecida, surpresa e quis mesmo saber a razão daquele mimo fora de hora. Ela me explicou que eram brincos de festa e que ela acredita que eu tenha jeito de festa. Fiquei pensando em como agora eu conseguia entender a razão de, nos trabalhos da escola, ela sempre me desenhar com uma taça colorida de roxo e em como enxergam os outros o que nós nunca vemos em nós. Eu a admiro profundamente por isso.
Mais Lidas
-
Minas
Mulher é demitida por justa causa após apresentar atestado e ir trabalhar pra outra empresa no mesmo dia
-
Região
Oito trabalhadores são resgatados em fazenda na Zona da Mata
-
Minas
Filho que trabalhava no cartório do pai comete crime, é acobertado, e ambos pegam 3 anos de prisão
-
Minas
Trabalhadores da Cemig entram em greve em todo o estado
-
Cidade
Alunos do Instituto Estadual de Educação em Juiz de Fora estão há mais de dois meses sem aulas no último horário
-
Defesa do Consumidor
Microempreendedores Individuais: novas regras para emitir notas fiscais
-
Cidade
Com pesquisadores, médicos e escritores, Semana de Kardec homenageia Isabel Salomão
-
Cidade
Mulher é encontrada morta no Palacete dos Fellet
-
Cidade
Jornalista juiz-forano Celso Noronha morre aos 62 anos
-
Previsão do Tempo
Frio dura pouco e temperaturas voltam a subir em Juiz de Fora
Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.
×