Haja braço para encarar o Omnibus de Conan
Oi, gente.
A republicação de histórias clássicas ou populares entre os fãs de quadrinhos é um filão que as editoras descobriram há décadas e que tem ganhado novos e diferentes formatos (capa dura, papel de primeira qualidade, nova colorização, extras) desde então. Um dos mais conhecidos lá fora é o Omnibus da Marvel, que começou em 2005 com a republicação das primeiras histórias do Quarteto Fantástico.
A linha tem formato maior que o americano, toda a perfumaria citada no parágrafo anterior e pode reunir a reimpressão de um título essencial, uma saga clássica, os crossovers, a fase de um escritor/ilustrador com determinado personagem. Como a qualidade tem que dividir espaço com a popularidade, a linha Omnibus pode ter na mesma prateleira “A saga da Fênix Negra” e desgraças como “Guerras Secretas II”. O número de páginas é variável, indo das 360 páginas de “Jovens Vingadores” às inacreditáveis 1.576 páginas de “A Guerra das Armaduras” _ e aí haja braço, como comentaremos mais à frente.
No Brasil, a Marvel Omnibus chegou apenas no final de 2020 e com dois lançamentos de peso, tanto no sentido literal quanto metafórico. O primeiro deles foi “Conan, o Bárbaro _ A era Marvel”, seguido pelo primeiro volume de “Quarteto Fantástico por John Byrne”. A coleção de histórias do cimério tem 782 páginas, enquanto que a da Primeira Família da Marvel bate impressionantes 1.096 páginas. Por enquanto, vamos tratar do Omnibus de Conan, que a Panini enviou para nossas considerações consideráveis.
As quase 800 páginas do encadernado reúnem as primeiras histórias de Conan pela Marvel, que adquiriu os direitos do personagem para os quadrinhos no final da década de 1960. O primeiro título do cimério na Marvel, “Conan The Barbarian”, estreou em outubro de 1970 e foi publicado até 1993, totalizando 275 edições. Esse material já foi republicado no formato Omnibus até a edição 115, totalizando quatro volumes, sendo que o quinto deve sair nos Estados Unidos em março.
O volume inicial traz as primeiras 26 edições do título, além de versões em preto e branco de duas histórias publicadas em “Savage Tales” 1 e 4 e uma história curta com Starr, o Matador, na quarta edição de “Chamber of Darkness”. Esta última entra como curiosidade, por ter sido a primeira parceria entre o roteirista Roy Thomas e o ilustrador Barry Windsor-Smith, que seria a dupla responsável por “Conan The Barbarian”, e também por ser claramente inspirada no personagem criado em 1932 por Robert E. Howard.
E o que podemos dizer sobre o primeiro Omnibus do Conan? Tratar do valor histórico é óbvio, pois ali estão as primeiras histórias em quadrinhos oficiais do cimério, que havia sido publicado de forma ilegal no México nos anos 50, e é uma emoção diferente ler como tudo começou. Ainda mais porque, provavelmente, é o primeiro contato de muitos com esse material _ pelo menos no meu caso foi assim com a maioria das histórias, algumas havia lido em edições especiais publicadas pela Abril há muito tempo.
É também a oportunidade de observar a evolução do Conan em seus anos na Marvel, tanto no roteiro quanto nas ilustrações. Apesar de ser um dos maiores nomes dos quadrinhos em todos os tempos, Roy Thomas ainda era um sujeito preso à fórmula das HQs de super-heróis quando assumiu o desafio de escrever “Conan”, um personagem até então literário. Fica evidente nas primeiras edições que o roteirista repetia muitos dos clichês dos quadrinhos Marvel _ e nem é o caso das falas expositivas do tipo “Crom! Preciso me desviar dessa flecha venenosa se quiser sobreviver!” que marcara as HQs por décadas.
O mesmo vale para a arte de Barry Windsor-Smith, que desenhou a grande maioria dos números do volume _ as outras têm arte de Gil Kane e a estreia de John Buscema, que viria a se tornar o responsável pelo visual definitivo do bárbaro em “Savage Sword of Conan”. As primeiras edições ilustradas pelo inglês mostram Conan com o traço mais esguio e atlético imaginado pelo artista inglês, porém ainda rudimentar. O trabalho do ilustrador melhora sensivelmente com o tempo, principalmente quando ele ou Dan Adkins são os responsáveis pela arte-final ao final de sua passagem pelo título.
Com isso, a melhora de “Conan The Barbarian” salta aos olhos através das edições. Se os primeiros números traziam histórias isoladas, aos poucos elas vão se tornando interligadas, com personagens reaparecendo mais à frente, além dos primeiros arcos que formaram a mitologia de Conan, como o que vai das edições 20 a 26.
O Omnibus traz ainda as primeiras adaptações de contos e poemas de Conan escritos por Howard, como “A torre do elefante”, “A filha do gigante de gelo” e “Os espelhos de Tuzun Tune”, a primeira aparição de Sonja nos quadrinhos e quase 200 páginas de extras, incluindo reproduções de páginas e roteiros originais, textos de apresentação do próprio Roy Thomas, capas de coletâneas e textos em inglês tirados das edições norte-americanas, entre outros.
Para os mais velhos, a edição especial é um retorno emocional à década de 1980, quando o personagem se tornou popular por aqui graças aos filmes estrelados por Arnold Schwarzenegger, a ponto de “A espada selvagem de Conan” se tornar um dos títulos mais populares publicados pela Editora Abril. Eram histórias publicadas em preto e branco, assim como nos Estados Unidos, e em formato maior que o tradicional, tão populares que tiveram as 57 primeiras edições _ de um total de 205 _ republicadas pela Abril nos anos 90. Dá aquela vontade de tirar da caixa as histórias clássicas da dupla Roy Thomas/John Buscema, como a saga “A rainha da Costa Negra”, e reler tudo mais uma vez.
Recomendamos o Omnibus de Conan? Com certeza, pois o material vale o peso da publicação. E já que falamos de peso, que os fãs fiquem preparados: a revista pesa quase três quilos e não dá para levar para qualquer lugar ou ler/carregar de qualquer jeito. Prepare sua melhor poltrona e cuide muito bem de seu punho, pois “Conan, o Bárbaro _ A era Marvel” é literalmente uma publicação de peso. Haja braço!
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
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