Queijo minas artesanal Serras da Ibitipoca: produção é valorizada

Reconhecimento das “Serras da Ibitipoca” como produtora de queijo minas artesanal cria oportunidades para pequenos produtores


Por Renan Ribeiro

01/01/2021 às 07h00

queijo minas artesanal Serras da Ibitipoca
O que diferencia o queijo das Serras da Ibitipoca, maturado, levemente ácido e de tom amarelo, é seu sabor, influenciado também pela água e clima serrano, e modo de fazer único (Foto: Andrea Modesto)

As Serras da Ibitipoca, que incluem municípios das regiões Sul, Sudoeste, Zona da Mata e Campo das Vertentes passaram a ser reconhecidas como produtoras de queijo minas artesanal no fim deste ano. A identificação concedida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) abre possibilidades para produtores rurais, que estão na fase de estruturação da produção de queijo local. São 15 cidades envolvidas: Andrelândia, Arantina, Bias Fortes, Bom Jardim de Minas, Lima Duarte, Olaria, Passa-Vinte, Pedro Teixeira, Rio Preto, Santa Bárbara do Monte Verde, Santa Rita do Ibitipoca, Santa Rita do Jacutinga, Santana do Garambéu, Seritinga e Serranos.

A autora do trabalho que deu origem ao processo de reconhecimento, Maria Dalva Pereira, extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), explica que o estudo conseguiu reunir uma documentação histórica, incluindo o processo de produção do queijo desde o século XVIII. Enquanto os queijos de outras regiões de Minas eram levados para São Paulo, os produzidos na Serras da Ibitipoca eram transportados para o Rio de Janeiro, onde a iguaria chegava às mesas de famílias abastadas.

“Além dos registros da produção histórica do queijo, existem pequenos produtores que ficaram sem alternativa. Então, essa é uma oportunidade. Se fizermos uma análise, o IDH da região é o mais baixo do Estado, portanto é necessário ter ações para o desenvolvimento”, observa Maria Dalva.
Com os processos de industrialização, na década de 1950, as leis que exigiam a pasteurização do leite e de seus derivados e o crescimento dos laticínios, a venda do queijo maturado, feito com leite cru, acabou caindo na informalidade. “Os pequenos produtores ficaram apertados entre a indústria e a sua própria produção. Quando os laticínios começaram a fazer o queijo fresco, o pequeno produtor também começou a fazê-lo de maneira irregular. Ou seja, ele não conseguia regularizar o queijo dele e nem conseguia fazer a receita tradicional.”

Valorização da produção de queijo minas artesanal

Com o reconhecimento, que era o primeiro passo, a segunda fase é o trabalho de estruturação e inclusão dos trabalhadores, feito pela Emater. Isso significa, segundo Maria Dalva, a adequação das queijarias e a adoção de cuidados com o rebanho, para que o queijo histórico e de qualidade possa ser disponibilizado no mercado. “Dessa forma, os pequenos produtores poderão ter uma melhoria de renda e entrar na cadeia produtiva.”

Além disso, a produção é vinculada à região das Serras da Ibitipoca, reconhecida pelo seu potencial turístico. “É importante pensar na valorização da região. Falamos do queijo Canastra, do queijo do Triângulo e de outras regiões, mas temos que trazer o olhar das pessoas para cá. O queijo minas artesanal das Serras da Ibitipoca é maturado, de qualidade e com produção histórica.” Maria Dalva ressalta que o trabalho já conta com a Associação dos Produtores de Queijo Minas Artesanal da Região das Serras da Ibitipoca (APROQ) e várias queijarias em processo de regularização.

queijo minas artesanal Serras da Ibitipoca
Trabalho realizado pela Emater-MG envolve estruturação, adequação de queijarias e orientação a produtores rurais com objetivo de estimular o desenvolvimento em 15 cidades (Foto: Andrea Modesto)

O sabor das Serras

O que diferencia o queijo minas artesanal das Serras da Ibitipoca dos demais produzidos em Minas, conforme Maria Dalva, é o sabor das Serras. “Ele carrega esse clima da região serrana, a água de excelente qualidade e, principalmente, o modo de fazer único.” O sabor do queijo maturado, levemente ácido e de tom amarelo claro tem, segundo ela, conquistado o paladar de muita gente. “Esse trabalho de resgate tem enorme potencial. Ainda não é uma produção grande, mas tem chances de crescer cada vez mais.”

O queijo minas artesanal não está sozinho nessa história, outros produtos começam a ganhar destaque, como os doces que formam um casamento perfeito. Goiabada, doce de figo, mamão, cidra, também comuns da região, se tornam produção associada. “Na época do Brasil Colônia, as tropas tinham que levar os queijos em cestos chamados jacás, que envolviam outras pessoas para produzir, assim como pessoal que ferrasse os burros. Essa produção associada também acontece hoje. Você vai precisar de alguém que produza embalagens, de alguém que faça o transporte, então movimenta uma cadeia.”

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