Conceição Evaristo: ‘Eu me inspiro nas pessoas do povo, como povo’

Por Marisa Loures

Foto Conceição Evaristo Foto divulgação 2

Li uma entrevista, publicada no site da Biblioteca Nacional, em que a escritora Conceição Evaristo diz qual é o público para o qual ela escreve. Isso foi no ano em que ela ganhou o Jabuti, na categoria contos, com “Olhos d’água” (Pallas, 116 páginas). Em resposta ao que fora questionado, ela disse: “Escrevo para os meus, mesmo sendo no nível do desejo”. Completou afirmando que cruza todos os dias com as pessoas que a inspiram e lamentou o fato de que, dificilmente, essas mesmas pessoas vão ter acesso aos livros que ela escreve. Suas histórias brotam do dia a dia das classes populares, e seus personagens nascem marcados por sua condição de mulher negra e pobre. A entrevista citada vai para cinco anos. O incômodo da autora, nascida em uma favela na Zona Sul de Belo Horizonte e que teve que conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica, persiste.

“Uma das minhas grandes preocupações é pensar justamente nisto. Os livros que eu escrevo, as personagens que crio, quais são as pessoas que vão acessar esses livros. Por exemplo, o conto “Maria”. É uma doméstica que está voltando do trabalho e que é agredida, é linchada no ônibus. Então, até que ponto as domésticas vão ter a oportunidade de ler esses livros? E se eu me inspiro nas pessoas do povo, como povo, porque eu sou uma pessoa das classes populares, como devolver essa literatura para as pessoas? Hoje, há uma possibilidade maior do que quando eu comecei, nos anos 90. Só o fato de, por exemplo, três livros meus terem feito parte do Programa Nacional do Livro e, com isso, eles chegaram às escolas. Hoje há uma possibilidade maior de esses livros chegarem às bibliotecas públicas, então, há a possibilidade de pessoas das classes populares conseguirem acessar essa leitura. Mas ainda é pouco. Na verdade, livro, leitura, se formos pensar, a grande maioria brasileira ainda não tem essa possibilidade. O livro, a leitura, eles chegam primeiro às classes privilegiadas. O livro é um objeto de luxo e hoje, cada vez mais, ele corre o risco de se tornar um objeto mais difícil de ser acessado pelas classes populares”, afirma Conceição a esta coluna.

No dia 14 de setembro, às 16h, a escritora encerra o projeto “Rodas de leitura”, promovido pelo Instituto Estação das Letras, que comemora 25 anos de atuação, em parceria com a Associação Nagai. Ao longo de três meses, cerca de 120 famílias do Morro do Alemão, da Favela da Malacacheta, no Rio de Janeiro, puderam participar da iniciativa que finaliza, agora, com o estudo da obra “Olhos d’água”, cujos contos evidenciam o dia a dia de vidas negras que sofrem com a miséria e a exclusão social. Cada roda de leitura abordou um autor e contemplou um público de faixa etária diferente. Esse último ciclo foi realizado com adolescentes e jovens entre 15 e 21 anos. De acordo com a assessoria do Estação das Letras, o encontro com a conceição Evaristo é aberto, e a transmissão será ao vivo pelo Facebook.

Nesta quarta-feira, Conceição Evaristo divide conosco um pouquinho da história que está por trás de “Olhos d´água”, conto que dá título ao livro ganhador do Jabuti, fala sobre a relação entre política e literatura, o erotismo e o homoerotismo em suas obras e destaca uma lista extensa de escritores e escritoras de autoria negra.

Marisa Loures – Impossível ler “Olhos d’água” e não se emocionar. A personagem e narradora do primeiro conto é uma mulher que se questiona o tempo todo: “Qual a cor dos olhos de minha mãe?” O texto leva-nos, para Minas Gerais, onde essa mãe criou, com muita dificuldade, sete filhas. Leio e fico imaginando a história que está por trás dessa história. Poderia dividir conosco?

Conceição Evaristo – Sim, o texto, ele pode pensar numa ambiência mineira, mas também pode pensar numa ambiência não necessariamente mineira. Tanto é que essa antologia está sendo lançada em Paris. Quer dizer, extrapola essa ambiência. Realmente, eu colho, eu relembro, são memórias ficcionalizadas. Insisto muito em dizer isto, que são memórias ficcionalizadas de alguns fatos que vivi na infância da relação com minha mãe, com minhas irmãs. Quando eu digo que são fatos ficionalizados, já tomam esse caráter de literatura. Essa brincadeira de a minha mãe repartir as nuvens de algodão doce, realmente, nós ficávamos sentadas com ela na brincadeira olhando as nuvens no céu. Quando a minha mãe repartia a comida e colocava na boca de cada uma de nós era o momento em que ela, assentada também, punha a comida numa gamela, um utensílio de madeira muito usado na roça e nas tradições africanas. E aquela comida minha mãe amassava com as mãos, formava um bolinho de comida que chamamos de capitão, e esse bolinho de comida era colocado na boca de cada uma de nós. Tenho a impressão de que, naquele momento, minha mãe fazia isso porque a comida era pouca. Então, ela transformava aquele momento de carência em um momento de ternura, de brincadeira. O bolinho virou pedaços de nuvens. Então, por isso que insisto que, sem sombra de dúvidas, tem uma realidade que me move, que inspira o conto, há uma memória dessa relação com minha mãe. Minha mãe tem realmente uma berruga na cabeça. Ao pentearmos os cabelos dela, achávamos muita graça naquela bolinha que ela tinha na cabeça. Mas, quando essa realidade passa a ser escrita, ela tem um caráter de ficcionalização muito grande.

“Se formos pensar bem, a arte que se denomina como neutra, eu não sei até que ponto há uma neutralidade, porque se você está numa sociedade em que você produz uma arte totalmente desgarrada da vida dessa sociedade, então você está considerando que a sociedade está muito boa, não há nada para se questionar, não há nada para sonhar, não há nada para fazer uma fabulação contrária do que está existindo. Então, eu acho que a arte e, no caso, a literatura, ela pode, sim, compactuar com a realidade, ela pode se compactuar com a política.”

– Também neste conto que dá título ao livro, a filha relembra histórias da infância da mãe e diz que, às vezes, as recordações se confundiam com sua própria infância. A leitura que eu faço é a de que a desigualdade social é um problema sem fim, que se perpetua. Você é uma escritora que se posiciona não só em sua obra, mas também na mídia. Como vê a relação entre arte e política, Literatura e política?

Sim, arte e política, literatura e política são instâncias independentes, mas que podem muito bem se cruzar sem prejuízo algum para a arte, sem prejuízo algum para a literatura. E, se formos pensar bem, a arte que se denomina como neutra, eu não sei até que ponto há uma neutralidade, porque se você está numa sociedade em que você produz uma arte totalmente desgarrada da vida dessa sociedade, então você está considerando que a sociedade está muito boa, não há nada para se questionar, não há nada para sonhar, não há nada para fazer uma fabulação contrária do que está existindo. Então, eu acho que a arte e, no caso, a literatura, ela pode, sim, compactuar com a realidade, ela pode se compactuar com a política. E, quando estamos falando de política, é lógico que não estamos falando aqui de uma política partidária. Até poderia ser também, a arte poderia se compactuar com uma política partidária sim, mas não é esse o caso que estamos falando. Nós estamos pensando em uma política em termos de organização de uma sociedade, em termos de lugares de poder, porque a política institui lugar de poder. Ela, inclusive, institui o próprio julgamento da arte, porque, se você for pensar, por exemplo, os lugares de poder que os críticos de arte exercem para, inclusive, definir o que é arte ou não, definir o que é uma boa arte, ou definir o que é mediocridade. Então, política, literatura, arte, acho que são instâncias autônomas, sim, mas que se confundem. E podem se confundir para o bem e para o mal. Você pode fazer, por exemplo, um texto literário e ser, inclusive, um bom texto literário, e, por exemplo, elogiar um ditador. Por que não? Pode-se fazer um poema para um ditador e ser um poema muito bem construído. A literatura aí servindo a uma política. Então, acho que há certa ingenuidade em pensar que a arte não cumpre um fim político.

– Por falar nisso, você encerra, no dia 14, o projeto de rodas de leituras do Instituto Estação das Letras, onde foi trabalhado o livro “Olhos d’água”. Na obra, transitam personagens que sofrem com a miséria e a exclusão social. Qual a importância de eventos como esse no que se refere a contribuir para romper as barreiras da desigualdade social?

Sem sombra de dúvidas, a gente pode pensar que um trabalho como esse da Estação das Letras pode ampliar o universo de leitores, e esse texto pode ampliar, inclusive, universo de expectativas, de desejos dos jovens que vão ler esses livros. Embora eu concorde que literatura e política podem caminhar e caminham juntas, não podemos ser ingênuos de pensar que um texto vai mudar o mundo. Acho que um texto muda pessoas, mas, para mim, romper as barreiras das desigualdades sociais é muito mais do que literatura. Temos falado muito desse racismo estrutural, então, é muito mais do que isso. Senão a gente pode acreditar que a escrita de um texto salva o mundo. Acho que pode levar a uma reflexão. Por exemplo, um texto que traga a realidade das classes populares pode ser um texto que convoque algumas pessoas que estão ou que têm uma interferência na estrutura de poder a pensarem os seus trabalhos de forma diferente, a pensarem em ações que possam ajudar a pensar como se organiza uma sociedade de uma maneira justa. Mas romper as barreiras das desigualdades sociais é muito além, né? Tem muito mais coisas do que isso. É preciso de uma vontade política, e aí já estou falando mesmo de políticas públicas, de pessoas que estão em cargos eletivos, pessoas que estão em setores do comando. Essas pessoas são responsáveis pela manutenção do status quo. Assim como a educação também é responsável, né?  Dependendo dos projetos educacionais que um estado pode gerir, impor, ele pode, simplesmente, estar afirmando o fosso das desigualdades sociais.

– Considera importante se dizer autora negra e mulher nos dias atuais?

Eu considero importante essa afirmativa de me dizer autora negra e mulher nos dias atuais. Acho que ainda estamos em um momento em que identidades ou processos de identificações de determinados grupos sociais ou de determinadas experiências de gênero são menosprezados, ou ainda são abafados, criticados, ou ainda são subalternizados. Então, acho importante essa afirmativa identitária, acho importante essa afirmativa desses processos de identificação. Eu me identifico como mulher, como mulher negra, como mulher oriunda das classes populares, como pessoa oriunda de culturas de uma descendência africana e sempre afirmando que os africanos e seus descendentes tiveram papéis importantíssimos na criação do Brasil, na edificação dessa nação.

“Não tenho nenhuma dúvida de que hoje eu poderia publicar com uma editora grande. Já recebi até convites, mas ainda não decidi. E, mesmo que eu decida hoje por uma editora grande, eu nunca deixaria de editar com essas editoras negras. Hoje, eu sendo publicada nos Estados Unidos, na França, tendo livro traduzido, inclusive, para o árabe, eu não deixaria nunca essas editoras que me lançaram, porque foram elas que me abriram o caminho primeiro.”

– Já ouvi você lamentar o fato de as grandes editoras fecharem as portas para livros de escritoras negras brasileiras, o que faz com que essas publicações cheguem até o público por meio de editoras de médio porte. Seu primeiro livro só foi publicado cerca de duas décadas depois de ter sido gestado, mas, hoje, você é um dos grandes nomes da nossa literatura. Isso muda alguma coisa em relação à maneira como o mercado editorial recebe seus livros?

As grandes editoras ou até mesmo as médias editoras não têm ainda muito interesse em publicar determinados textos, determinadas temáticas, determinados autores. A não ser que você tenha padrinhos, porque isso também acontece. Se você tem um escritor ou escritora que te recomende a uma editora, é mais fácil fazer essa passagem. Como eu não tive, eu começo, realmente, meu primeiro livro, “Ponciá Vicencio” (estou falando de uma publicação individual, porque eu comecei a minha primeira publicação em grupo em 1990, junto ao grupo Quilombhoje, de São Paulo. É um grupo que já surge, justamente, dessa dificuldade de publicação de autoria negra. Hoje, ele já existe há 42 anos. São 42 anos publicando autoria negra. Num ano, ele publica poemas. No outro, publica prosa. O grupo se autofinancia, e os gastos para a publicação são divididos entre as pessoas que vão participar daquela publicação. Então, eu começo ali, em 1990). Depois, a minha publicação individual vai dar em 2003 com o livro “Ponciá Vicencio”, que eu publico por uma editora negra de Belo Horizonte, a Mazza Edições. Há muito tempo, a Mazza não publica só autoria negra, mas a base do trabalho dela foi para publicar autoria negra. Em 2003, banco a publicação de “Ponciá Vicencio”. Ele tem uma boa passagem, e a editora então me convida para uma segunda publicação. Essa segunda publicação, “Becos da memória”, a editora publica por conta própria. Depois, eu continuo publicando por uma editora negra, de Belo Horizonte também, que surge com esse intuito de publicar autores negros, que é a editora Nandyala. Foram dois ou três livros. “Insubmissas lágrimas de mulheres”, eu publico também bancando a edição, e “Poemas da recordação e outros movimentos”, eu divido os custos da publicação com a editora. Depois, só mais tarde, em 2013, é que eu vou ser publicada pela primeira vez pela editora Pallas. Nesse momento, a Pallas assume a publicação sozinha, porque ela concorreu a um projeto do Ministério da Cultura voltado para a publicação de autoria negra. Ela apresenta alguns escritores e escritoras e, então, publica a coletânea “Olhos d’água”. Essa antologia vai me dar o prêmio Jabuti na categoria contos e segui então com a Pallas. Já tenho hoje três livros publicados pela Pallas, ela espera um quarto livro meu, que é o romance “Flores de Mulungo”, que já está prometido para ela. Mas, ao lado disso, também continuo publicando com outra editora negra, que é a Malê, do Rio de Janeiro. Com ela, faço uma segunda edição de “Insubmissas lágrimas de mulheres” e uma segunda edição também do livro “Poemas da recordação e outros movimentos”, e uma primeira edição do livro de contos “História de leves enganos e parecenças”. Não tenho nenhuma dúvida de que hoje eu poderia publicar com uma editora grande. Já recebi até convites, mas ainda não decidi. E, mesmo que eu decida hoje por uma editora grande, eu nunca deixaria de editar com essas editoras negras. Hoje, eu sendo publicada nos Estados Unidos, na França, tendo livro traduzido, inclusive, para o árabe, eu não deixaria nunca essas editoras que me lançaram, porque foram elas que me abriram o caminho primeiro.

– A literatura brasileira é racista. O perfil do escritor brasileiro é o homem branco. Por isso, defendo que precisamos conhecer mais autoras e autores negros brasileiros. Quais autores negros são referências para a sua escrita e que indicaria para os leitores?

A literatura brasileira é racista. Não só a literatura brasileira. Se a gente pegar, talvez, o cancioneiro brasileiro no decorrer do tempo, nós vamos perceber várias músicas racistas. E os autores negros que nós tivemos e que nós temos, há casos, como Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras, que nunca foi apontado como escritor negro. E, dentro da história da literatura brasileira, podemos pensar em Lima Barreto, gosto muito dele, Cruz e Souza, também gosto muito, Luiz Gama. E, se a gente quiser caminhar mais para a modernidade, nós temos Solano trindade, que foi um grande poeta modernista e que a história da literatura brasileira não o coloca como um poeta modernista. Se pensarmos que o primeiro romance abolicionista no Brasil e, talvez, o primeiro livro na categoria romance foi escrito por uma mulher negra, Maria Firmina dos Reis. Então, temos grandes referências na história da literatura brasileira que foram escritores negros e negras. E, na contemporaneidade, eu diria que a primeira escritora negra que conheci foi Carolina Maria de Jesus. E ainda há críticos literários que perguntam se Carolina Maria de Jesus foi escritora ou não. Outros dizem que ela foi uma escritora de um livro só, “Quarto de despejo”, porque só trabalharam com ele. Aliás, estou tendo uma experiência belíssima que é trabalhar com uma equipe que está buscando e trabalhando com os originais de Carolina Maria de Jesus, e Carolina Maria de Jesus é muito mais do que “Quarto de despejo”. Uma escritora contemporânea de que gosto muito é Geni Guimarães. Ela me seduz, a linguagem dela, que é uma linguagem ao mesmo tempo que busca as expressões populares, ela trabalha isso com uma maestria, com uma singeleza, com uma poeticidade muito grande, tanto nos textos em prosa como nos poemas. Gosto muito de Lia Vieira, de Ana Maria Gonçalves, Mel Adún, Elizandra de Souza. Eliana Alves Cruz, que também está aí com os livros dela, “Água de barrela”, “O crime do cais do Valongo”, o recente livro dela que tem um título que chama atenção, “Nada digo de ti, que em ti não veja”. Então, há uma diversidade de criação na literatura brasileira contemporânea, e essa diversidade é marcada pela presença de escritoras e de escritores negros. Pensando não só nessa escrita produzida no Brasil, eu também gosto muito da escrita, principalmente que é a que eu mais conheço, de escritoras africanas de língua portuguesa, como Paulina Chiziane, Vera Duarte e outras. Gosto muito, por exemplo, afro-americanas, como Toni Morrison, Alice Walker. Então, temos um perfil de uma literatura de autoria negra que precisa ser lida e, no caso do Brasil, eu acho que é um diferencial no sistema da literatura brasileira, como hoje também já marca esse diferencial a literatura de autoria indígena. Quando digo que marca um diferencial, é porque sai justamente desse perfil do escritor brasileiro que é o homem branco. Acho que são outras experiências, outros fazeres literários que dão uma diversidade muito bonita ao sistema literário brasileiro.

– O erotismo e o homoerotismo são tratados tanto na sua prosa quanto na poesia. Já a ouvi falando que poucas pessoas se dedicam a pesquisar esse assunto na sua obra. Talvez por preconceito. Como o erotismo e o homoerotismo manifestam-se no corpo dos seus personagens?

Talvez o erotismo e o homoerotismo não sejam muito perceptíveis nos meus textos porque, quem sabe os leitores e mesmo pesquisadores vão para esses textos, notadamente, procurando ler textos que girem em torno da questão social, da questão racial, da problemática do coletivo. E talvez haja uma pouca percepção da subjetividade dos personagens ou da subjetividade do eu lírico em se tratando de poesia. E também porque, quando os meus textos que trazem o erotismo e o homoerotismo, é uma linguagem também muito cuidada, quero dizer, não é uma linguagem explícita. É preciso, às vezes, prestar atenção ao texto. Por exemplo, o conto “Beijo na face”, que está na coletânea “Olhos d’água”, só no final, acho que no último parágrafo, é que a pessoa leitora vai descobrir que o conto inteiro trata de uma relação amorosa, de uma relação afetiva entre duas mulheres, embora, ao longo do conto, vão aparecendo alguns sinais, mas são sinais que é preciso a pessoa estar muito atenta para a percepção deles. Já o conto que aparece em “Insubmissas lágrimas de mulheres”, “Isaltina Campo Belo”, não. Em princípio, a personagem, quando ela começa a falar das memórias dela de infância, já se percebe que é uma mulher que tem uma experiência, que almeja uma vivência sexual fora da relação hétero. Eu tenho muito cuidado porque, assim como me desagrada profundamente ler um texto que traz estereótipos de negro e trabalho muito meu texto para não apresentar uma personagem negra estereotipada, eu também tenho muito cuidado em não apresentar essa personagem que vive uma experiência homoafetiva de forma estereotipada. Eu quero colocar essa personagem no texto com toda dignidade que você possa retratar um ser humano, independentemente das formas, ou das opções, ou das experiências sexuais desse sujeito. Então, eu tenho muito cuidado também na construção dessas personagens. Mas eu gosto do tema. Acho que o erotismo, o homoerotismo, tenho falado muito, né, a pulsão sexual, ela é uma pulsão de vida, como a pulsão do afeto, a busca pelo afeto, é uma pulsão de vida. Então, eu gosto de tratar desses temas com muito cuidado para não criar personagens vulgarizadas, estereotipadas.

Sala de Leitura – Toda sexta-feira, às 11h35, na Rádio CBN Juiz de Fora (FM 91,30).

capa olhos dágua

“Olhos d’água”

Autora: Conceição Evarito

Editora: Pallas, 116 páginas

Rodas de Leitura – Live com Conceição Evaristo, promovida pelo Instituto Estação das Letras em parceria com a Associação Nagai:

14 de setembro, às 16h.

Aberta ao público.

Transmissão  ao vivo pelo Facebook.

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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