Média de isolamento em JF e na região é de 41%
Dados são de empresa de tecnologia que monitora deslocamento por meio de GPS de celulares; PJF, no entanto, aponta taxa média de 51%
A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) trabalha para ampliar as ferramentas de monitoramento do isolamento social na cidade e pretende formalizar, já em junho, um acordo com uma empresa de telefonia para obter detalhamentos sobre o deslocamento da população dentro do município, sem ter acesso a informações pessoais dos usuários. Atualmente, a PJF já faz tal mensuração com base em dados repassados pelo Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil). Tais números apontam que, entre segunda (25) e quarta-feira (27) desta semana, a taxa média de isolamento na cidade foi de 51%. Contudo, detalhamento obtido pela Tribuna a partir de monitoramento feito pela empresa Inloco, que mensura o deslocamento na cidade por meio do GPS de celulares, mostra que o percentual de pessoas que permaneceram isolados em suas residências é menor e corresponde a uma média de 41% no mesmo.
Secretário de Planejamento e Gestão da PJF, Rômulo Veiga explicou à reportagem que a divergência entre os números da taxa observada com dados do Sinditelebrasil e da Inloco se dá pela diferença na modelagem de coleta das informações. Segundo o secretário, os números obtidos pela Prefeitura são mensurados a partir dos contatos feitos pelos aparelhos telefônicos com as antenas das operadoras, identificando, assim, deslocamentos maiores, feitos de um bairro para outro, por exemplo. “Uma pessoa que vai a uma padaria não está necessariamente ferindo o isolamento. Não estamos presos dentro de casa. Isolamento é se movimentar o mínimo possível. Às vezes, o deslocamento dentro do bairro se faz necessário. As pessoas precisam ir ao mercado para comprar comida.”
Assim, a tecnologia da Inloco traz um recorte distinto dos números do isolamento social em Juiz de Fora. “É uma tecnologia de localização que está nos celulares dos brasileiros. São 60 milhões de usuários no país. A Inloco capta a localização destes aparelhos e calcula o índice de isolamento considerando aquelas pessoas que ficaram durante todo o dia em sua casas. No dia 2 de maio, por exemplo, 48% das pessoas passaram todo o dia em suas casas e 52% saíram para ir trabalhar, ir ao supermercado ou para fazer qualquer outra atividade”, explica Luciano Melo, cientista de dados da empresa.
Taxa de isolamento tem os menores indicadores desde a 2ª quinzena de março
Os números levantados pela empresa e repassados à Tribuna mostram que a curva do isolamento social, ao menos em seu aspecto mais restritivo, levando-se em consideração as pessoas que conseguem permanecer em suas casas durante todo o dia, tem traçado uma trajetória descendente. Tal tendência resulta em um maior fluxo de juiz-foranos nas ruas. Sempre considerando os dias de semana – de segunda a sexta-feira -, no hiato analisado pela reportagem, que vai de 1º de março até a última quarta-feira, é possível reparar a evolução de tal distanciamento ao longo do tempo, mesmo antes da adoção e recomendação de medidas de conscientização sobre a importância de ficar em casa.
Nas duas primeiras semanas de março, antes da adoção de medidas restritivas por parte do Município de Juiz de Fora, a média de pessoas que permaneceram em suas casas foi de 25%. A linha reta passa a apresentar aspectos de curva a partir de 16 de março, mesmo dia em que o prefeito Antônio Almas (PSDB) anunciou a suspensão das aulas da rede municipal de ensino devido à pandemia do coronavírus. Naquela semana, a média de pessoas que não saíram de suas residências foi de 36%.
A curva manteve trajetória ascendente na semana seguinte. Entre 23 e 27 de março, quando já vigoravam as regras que suspenderam o funcionamento de boa parte do comércio juiz-forano e de outras atividades de prestação de serviços, o isolamento social viveu seu ápice na cidade e, em média, 54% dos juiz-foranos permaneceram em suas casas. Nas duas semanas seguintes, o percentual se manteve próximo de 50%. A partir da segunda quinzena de abril, o indicador iniciou uma trajetória de queda e se manteve em 41% nas duas últimas semanas: menor percentual observado nos últimos três meses.
Números da Prefeitura
A reportagem também avaliou os números utilizados pela Prefeitura com base em dados do Sinditelebrasil. Neste caso, foram avaliadas informações obtidas a partir da segunda quinzena de abril. A tendência de queda na taxa de isolamento é similar no recorte. A redução é mais tênue, no entanto, e as taxas vão de 56%, entre 13 e 17 de abril, a 51% nos primeiros dias da última semana.
Cidades da região apresentam curvas semelhantes
A Tribuna também teve acesso aos dados de outros dez municípios da Zona da Mata, que são considerados polos regionais. Todos os gráficos da taxa de isolamento social apontada pela Inloco nos municípios vizinhos estão disponíveis em nosso portal (tribunademinas.com.br). Via de regra, o comportamento da curva é bastante similar ao observado em Juiz de Fora, com o pico do distanciamento social incidindo entre a segunda quinzena de março e a primeira semana de abril, quando se inicia uma trajetória de queda.
Entre as cidades analisadas, na última quarta-feira, o percentual de pessoas que permaneceram em suas casas foi de 40% em Bicas; 41% em Santos Dumont; 39% em Muriaé; 38% em Ubá; 43% em São João Nepomuceno; 40% em Leopoldina; 41% em Cataguases; 46% em Além Paraíba; 38% em Carangola; e 43% em Lima Duarte. Assim, considerando ainda os números de Juiz de Fora, a média de isolamento nas principais cidades da região também ficou em 41%.
PJF mira taxa de 60% de distanciamento social
Desde o início da pandemia, a meta de 70% de isolamento social foi considerada a ideal nas discussões de enfrentamento ao avanço da pandemia da Covid-19 tanto no Brasil como em todo o planeta. “O que foi usado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e por outros países e cidades, foi um estudo da Universidade de San Diego que analisa que as localidades que alcançaram uma média de 75% de isolamento tiveram uma circulação viral mais baixa. Então, o mundo usou este parâmetro de 70% baseado neste estudo. Porém, há hábitos culturais e características de cidades que favorecem ou desfavorecem estes resultados”, afirmou o secretário de Planejamento da PJF, Rômulo Veiga.
O secretário destacou ainda que particularidades como a etiqueta respiratória de uma sociedade e as condições de seus sistema de transporte coletivo, por exemplo, contribuem para o desempenho de uma comunidade no combate à pandemia. Neste sentido, levando-se em consideração as características atuais de Juiz de Fora, inclusive a ampliação de leitos ocorrida em meio às ações de enfrentamento da pandemia, o titular da Seplag considera que a meta de momento da cidade é atingir uma taxa de 60% de isolamento social.
O percentual almejado, todavia, leva em consideração a metodologia de mensuração adotada pela Prefeitura, que computa, por exemplo, deslocamentos entre bairros. “Estivemos próximos de 60% naquele período em que tivemos uma sequência de feriados. Estamos com uma média de 52%. Nosso objetivo é voltar a chegar na casa dos 60%. Com uma média de 50%, conseguimos controlar, de certa forma, o crescimento da pandemia. Mas hoje não temos uma situação epidemiológica tranquila, pois temos algo próximo a 80% de ocupação nas unidades de terapia intensiva, mesmo com a ampliação do número de leitos”, afirma Rômulo.
Um dos coordenadores de um grupo de modelagem epidemiológica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernando Colugnati, considera que almejar a taxa de 60% é uma baliza possível para diminuir a taxa de transmissão do coronavírus na cidade. Contudo, ao contrário do cenário considerado mais adequado, ele lembra que os números da PJF avaliados pelo colegiado mostram a tendência de queda nas taxas de isolamento social. “São ondas. No fim de semana, temos um isolamento maior, mas, ao longo dos períodos, a tendência é de queda.”
Para o professor, uma maior taxa de isolamento agora poderia resultar em uma retomada mais rápida das atividades comprometidas pelas medidas restritivas adotadas para o enfrentamento à Covid-19. “Já temos uma curva um pouca achatada, o problema é que esta situação vai se alongar, pois não nos dá segurança para retomar determinadas atividades. Nas duas primeiras semanas após o decreto, tivemos um isolamento muito bom. Se tivéssemos conseguido manter este resultado por um tempo maior, talvez a gente já tivesse saindo do isolamento”, avalia.
Convênio com operadora pode ser formalizado em junho
Para ampliar sua capacidade de monitorar o isolamento social e o deslocamento das pessoas pela cidade em meio à pandemia do coronavírus, a Prefeitura de Juiz de Fora trabalha para formalizar um contrato com uma operadora de telefonia celular. Somadas às informações do Sinditelebrasil, a parceria permitirá uma melhor compreensão do cenário. Assim, a PJF deve realizar um certame e ouvir diferentes propostas antes de validar o acordo, o que pode acontecer já em junho.
“O que vamos conseguir é um mapa de calor. Além do quantitativo total que é importante para avaliações epidemiológicas, também será possível identificar bolsões onde as pessoas mais se deslocam e, até mesmo, o deslocamento origem e destino e a movimentação entre bairros. Isto vai nos dar um cenário mais preciso”, afirma o secretário de Planejamento e Gestão do Município, Rômulo Veiga.
Sem a identificação de indivíduos ou de dados pessoais dos usuários por parte do Município, com base no contato entre aparelhos e antenas telefônicas, tais detalhamentos podem trazer ainda informações globais de faixa etária e social do conjunto de pessoas que se deslocam na cidade, o que vai auxiliar a Prefeitura a adotar ações de conscientização quanto à importância do isolamento e de fiscalização. “A entrega das telefônicas é mais segura pois não entra no nível de precisão individual”, reforça o titular da Seplag.
Tecnologia por GPS
Cientista de dados da Inloco, que também mensura o deslocamento social, Luciano Melo ressalta que a tecnologia utilizada pela empresa, com base em informações do GPS, prioriza o sigilo das informações dos usuários. “A Inloco foi fundada no princípio de proteção da privacidade dos usuários”, pontua, reforçando que a empresa se adequa às determinações da lei de proteção de dados pessoais da União Europeia, da GDPR e da Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil, a LGPD.
“Existe um lema na Inloco que a melhor forma de nos proteger e proteger os dados dos usuários é não ter estes dados. Então, apenas coletamos a localização. Nenhum outro registro civil do usuário é coletado. Mesmo a localização não é reportada aos clientes de forma individualizada”, explica o profissional.
Ainda segundo Luciano, a empresa de Recife, que tem sedes em São Paulo, São Francisco e Nova Iorque, desenvolveu a tecnologia para mensuração da taxa de isolamento social sem objetivos financeiros e já formalizou cartas de doação relacionadas aos serviços com aproximadamente 20 estados brasileiros, incluindo Minas Gerais.
A tecnologia desenvolvida pela empresa faz três tipos de amostragem: a que mede o nível de isolamento a nível estadual, disponível publicamente no mapabrasileirodacovid.inloco.com.br; a que detalha as informações por municípios; e ainda uma terceira, que subdivide as cidades em blocos de 450 metros de raio.
“Estes dados são essenciais para os prefeitos saberem se há regiões que estão aderindo mais ou menos ao isolamento e, assim, realizar ações pontuais”, explica Luciano. Ainda de acordo com o cientista de dados, a empresa está aberta a ceder as informações para outros estados e municípios interessados.
Tópicos: coronavírus