Gasolina cai 30% nas refinarias, mas queda nos postos de JF é de 0,2%
Diminuição acumulada do preço do combustível em 2020 não é sentida pelo consumidor juiz-forano nas bombas
Mesmo com os anúncios da Petrobras de redução dos preços do óleo diesel e da gasolina nas refinarias, os consumidores juiz-foranos ainda não sentiram a queda dos valores de forma significativa. Até 19 de março deste ano, a empresa estatal acumulava redução de preço de 29,1% para o óleo diesel e de 30,1% para a gasolina nas refinarias. Levantamento realizado pela Tribuna, com base nos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mostrou que, comparando a média dos preços dos combustíveis em janeiro e março deste ano, a gasolina teve uma queda de 0,2%, enquanto o diesel, de 3,85% em Juiz de Fora.
Em janeiro, a gasolina foi encontrada na cidade pelo preço médio de R$ 4,873, com valor mínimo de R$ 4,65 e máximo de R$ 4,999. Já em março, o levantamento de preços da ANP mostrou que a média está a R$ 4,863, custando, no mínimo, R$ 4,599 e, no máximo, R$ 4,989. A última pesquisa da Agência em Juiz de Fora, entre 15 e 21 de março, mostrou que a gasolina vale, em média, R$ 4,853. Na semana de referência, os consumidores encontraram o combustível entre R$ 4,788 e R$ 4,989.
Já o óleo diesel estava sendo comercializado na cidade, em janeiro, pelo preço médio de R$ 3,838, variando entre R$ 3,699 e R$ 3,999. Em março, o valor médio está a R$ 3,69, com mínimo de R$ 3,499 e máximo de R$ 3,899.
Na semana passada, a Petrobras anunciou novos reajustes nos preços em suas refinarias, sendo que o diesel teria nova queda de 7,5%, e a gasolina, de 12%. Isto levou ao acumulado do ano, no qual a redução de preço de óleo diesel é de 29,1%, e de gasolina, de 30,1%.
Impostos e custos logísticos influenciam valor do combustível
O preço final de combustíveis, passado aos consumidores, leva em consideração não só o preço do produto em si, mas de outros componentes, como impostos e custos logísticos de deslocamento, de acordo com a professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernanda Finotti. Desta forma, quando há redução nas refinarias, o valor só incide sobre a parte referente ao combustível. “Vamos imaginar que o custo do combustível seja 50% do preço da bomba. Em um litro de R$ 5, R$ 2,50 é gasolina. Os outros R$ 2,50 são outros gastos: custo de transporte, impostos, remuneração do posto etc. Então, quanto tem uma redução, por exemplo, de 30%, esses 30% só vão incidir sobre os R$ 2,50. Então 30% de R$2,50 vão dar R$ 0,75. Não é para você esperar uma redução de 30% nos R$ 5, caindo para R$ 3,50, e sim uma redução só nos R$ 2,50”, exemplifica.
Além disso, em Juiz de Fora, a especialista aponta que a realidade de estrutura dos postos é “cartelizada”, onde os estabelecimentos cobram preços semelhantes. “Em uma estrutura desse tipo, que simula um monopólio – como se fosse apenas um posto oferecendo, porque todos praticam a mesma política e é o que a gente chama de cartel -, eles têm muita resistência em baixar preço, porque, ao baixar preço, eles diminuem a margem.”
Disputa pelo petróleo
O valor dos combustíveis tem sido impactado, de maneira geral, por outros fatores, como a concorrência pelo petróleo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), da qual a Arábia Saudita é a maior produtora, e a Rússia. A disputa geopolítica levou a Arábia Saudita a reduzir o valor do barril. Segundo Fernanda Finotti, a “guerra de preços” ocorreu por uma previsão de recessão global, somada à pandemia do coronavírus no mundo. “A Arábia Saudita queria manter esses preços artificialmente, fazendo também um cartel na produção para não deixar o preço cair. Isso é impossível, porque tem as forças de mercado, o preço cai”, explica. “Por exemplo, essa semana eu não abasteci, porque não saí de casa. Várias indústrias não queimaram o combustível porque não operaram. Então, quando você não demanda um item, o preço dele, naturalmente, cai. Caiu lá atrás, na expectativa da recessão.”
Apesar do cenário, onde grande parte da população se mantém em regime de isolamento social para evitar contaminação pelo coronavírus, a professora da UFJF alerta para o fato de que haverá soluções futuras. “O isolamento social deve ser mantido, pelo menos nessas próximas duas semanas, que vai ser o pico do coronavírus. Mas as pessoas não precisam acreditar que medidas de correções técnicas não virão. Nós temos equipes de economistas e de formuladores de política voltadas só para verificar os efeitos disso e minimizar. Ainda que seja com subsídios, com política de renda mínima… então não é para as pessoas se desesperarem. A solução virá, mas virá daqui a pouco. Primeiro o isolamento, depois a correção do problema.”
Postos dependem de decisões e repasses, diz Minaspetro
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), entidade que representa os cerca de 4 mil postos de combustíveis do estado, os estabelecimentos responsáveis pela revenda dos produtos integram a cadeia de comercialização, composta por “players” durante todo o processo, que vai desde o refino à disponibilização do combustível ao consumidor. Desta forma, segundo a categoria, “os postos, sendo o último e mais visado elo no segmento de distribuição e revenda, dependem de decisões e repasses – caso estes aconteçam – por parte dos outros agentes do setor; ou seja, Governo, refinarias, usinas de etanol e companhias distribuidoras”.
O Minaspetro explica, ainda, que não estima o período para que determinadas baixas ou altas de preço dos combustíveis nas refinarias, aumento de impostos e/ou quaisquer decisões políticas ou de cunho comercial tenham impacto direto nas bombas, por não ser papel sindical, por não realizarem pesquisas de preço, estoque, volume de compra ou qualquer outra informação de cunho comercial, e por não existir tabelamento do setor. A entidade reforçou que demonstra insatisfação “em relação à alta tributação incidente sobre os combustíveis, que sufoca o empresário, fecham dezenas de estabelecimentos em todo o Brasil e impedem o crescimento sustentável do país.”
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