Polícia Federal deflagra ação contra tráfico internacional de drogas em JF
De acordo com a PF, cidade coordenava a distribuição de drogas em municípios de Minas e do Rio
Um grupo criminoso envolvido com o tráfico internacional de drogas foi desarticulado em uma operação da Polícia Federal de Juiz de Fora. Desencadeada na cidade, onde estava a maior parte dos membros e de onde era organizada a distribuição de maconha vinda do Paraguai, a “Narcos” culminou com a prisão de dez pessoas e a apreensão de cerca de uma tonelada da droga.
Todo o esquema criminoso, que incluía rotas de distribuição de maconha em cidades da região e também do Rio da Janeiro, era comandado por um homem de Juiz de Fora, de dentro da Penitenciária Gabriel Ferreira de Castilho, o Bangu 3, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. A suspeita é que o homem tenha ligação com a facção Comando Vermelho. A ação joga luz, mais uma vez, no fato de a cidade estar na rota de grandes carregamentos de drogas vindos de outros países e também de funcionar como entreposto.
Além do tráfico internacional de drogas, as investigações apontaram outros crimes praticados pelos investigados, como furto, roubo, receptação e clonagem de veículos, além de lavagem de dinheiro. O nome da operação foi inspirado na série “Narcos”, da Netflix, que trata do tráfico internacional de drogas. A manobra contou com 130 policiais federais que cumprem, com o apoio de 77 policiais militares da 4ª Região de Polícia Militar, 13 mandados de prisão preventiva e 20 mandados de busca e apreensão. Em Juiz de Fora, sete pessoas foram presas e cumpridos 11 mandados. A ação ocorreu também em Ubá, Tocantins, São Geraldo e Rodeiro. Piúma e Itapemirim, no Espírito Santo, também foram alvos, além de Nova Alvorada, no Mato Grosso do Sul. Todos os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, onde tramita a investigação.
Quadrilha atua em várias cidades da Zona da Mata
As apurações da Polícia Federal tiverem início em dezembro passado. Elas começaram depois de uma ação conjunta entre o Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público e da Polícia Militar, em Visconde do Rio Branco. De acordo com o delegado que chefiou a manobra, Helber Marques Correia, durante a ação conjunta foi identificado que havia tráfico internacional, por este motivo, a investigação seguiu para a Polícia Federal, que instaurou inquérito. “Durante estas apurações, conseguimos identificar como a organização funcionava. De dentro do presídio, este homem tinha seus gerentes, cada um com sua função, motoristas e pessoas que guardavam. A maioria deles estava em Juiz de Fora, mas havia envolvidos em Ubá, Rodeiro, São Geraldo e Tocantins. Alguns alvos se mudaram para o Espírito Santo e Mato Grosso do Sul”, disse o delegado. A esposa do chefe da quadrilha, responsável por toda parte contábil do grupo, foi presa em Piúma.
Conforme a Polícia Federal, a maconha era comprada em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Ela entrava no Brasil pela cidade de Ponta Porã (MS), de onde era transportada para de Juiz de Fora. Parte da droga era destinada ao município. Uma das bases ficava no Bairro Sagrado Coração, Zona Sul da cidade. A outra parte, segundo as apurações policiais, era distribuída para os comparsas de Ubá, Tocantins, São Geraldo e Rodeiro, e também em São Gonçalo e Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro.
Esquema incluía furto, roubo e clonagem de veículos
O inquérito da Polícia Federal conseguiu revelar uma especificidade do grupo. Os carros usados pela quadrilha eram furtados e roubados no estado do Rio de Janeiro. De lá, eles vinham para Juiz de Fora, onde eram clonados. “Eles usavam estes carros para transportar as drogas e também como parte do pagamento da compra no Paraguai. Usando estes carros furtados e roubados, em caso de serem flagrados, o prejuízo financeiro era menor para eles”, comentou o delegado Helber Marques. De acordo com ele, vários automóveis foram apreendidos ao longo das investigações.
Cerca de uma tonelada de maconha foi apreendida durante a apuração. A última ação ocorreu há cerca de três semanas. “Nesta terça-feira não apreendemos drogas. Já sabíamos que eles estavam desabastecidos. Foram pegos celulares, computadores, armas e veículos. Os celulares e computadores serão enviados para perícia. Depois desta análise, é possível que o número de membros da quadrilha cresça”, apontou Helber.
A Polícia Militar deu apoio no cumprimento de todos os mandados. Conforme o chefe da Seção de Planejamento e Emprego da 4ª Região da PM, major Yoshio Yamaguchi, o suporte da corporação foi operacional. “A PM já vinha participando junto com Gaeco e também durante as investigações da Polícia Federal, com policiais, viaturas e cães”, comentou.
Com o objetivo de desarticular o poder econômico da facção criminosa, outras medidas judiciais foram tomadas, como o sequestro de todos os bens imóveis, veículos e ativos financeiros em nome dos investigados, que, uma vez condenados, estarão sujeitos a penas que podem superar 30 anos de reclusão. O chefe da quadrilha era dono de granjas e diversos imóveis em Juiz de Fora. Seis carros dele também foram apreendidos.
Localização ‘estratégica’ de JF para rota de drogas
Esta não é a primeira vez que Juiz de Fora aparece como rota do tráfico internacional de drogas. No fim do mês passado, uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal e a PM culminou na apreensão de duas toneladas de maconha na BR-267, nas proximidades do Bairro Igrejinha, Zona Norte. O entorpecente, que foi localizado escondido em meio a sacos de farelo durante fiscalização de rotina da Polícia Rodoviária Federal (PRF), pode ter sido trazido do Paraguai dentro de um esquema de tráfico internacional. Nos tabletes de maconha foi verificada a existência de etiquetas do Paraguai com inscrições em espanhol e guarani. A carreta tinha placa de Foz do Iguaçu (PR).
Uma semana antes, a Polícia Civil de Juiz de Fora, por meio da Inspetoria Regional de Investigadores e da Delegacia Especializada Antidrogas (DEA), deflagrou a “Operação Murum“, que culminou na maior apreensão de drogas e armas da história da cidade e a maior em Minas Gerais este ano. Foram apreendidas três toneladas de maconha, oito fuzis, duas escopetas calibre 12, 23 pistolas 9mm – sendo que seis destas estavam modificadas com kit rajada para funcionarem como submetralhadoras -, dois revólveres, uma mira telescópica, uma mira holográfica e uma grande quantidade de munições. A suspeita é de que o material apreendido teria procedência do Paraguai e seria distribuído para Juiz de Fora e região, além de outros estados.
Além das duas recentes ações, a Polícia Federal da cidade já desarticulou vários esquemas de tráfico intencional. Um deles, em junho de 2014, terminou com empresários e um juiz preso. A operação “Athos” descobriu que Juiz de Fora enviava drogas até para a Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. De acordo com o delegado chefe substituto da delegacia da Polícia Federal de Juiz de Fora, Carlos Henrique Macedo, a cidade é estratégica para a atuação de quadrilhas. “Pela localização geográfica, a proximidade com grandes centros, Juiz de Fora é uma cidade estratégica para o consumo e para o transporte, passagem destes entorpecentes para os estados circunvizinhos. A Polícia Federal, junto com os demais órgãos de segurança, o judiciário e o Ministério Público, vem atuando diuturnamente, acompanhando todas as ações destas quadrilhas”, comentou.
O delegado Helber Marques destacou a importância do trabalho em conjunto com outras forças de segurança. “A cidade de Juiz de Fora, pela localização e tamanho, realmente é um local onde há possibilidade de mercado para esta droga, além de ser ponto chave para distribuir para outros estados. É importante trabalhar em conjunto, dessa forma conseguimos combater o crime de forma mais eficiente. Porém, é preciso ter outras mudanças, como fortalecer os órgãos de segurança, a parte legislativa e haver mudanças no sistema prisional. No caso de hoje, por exemplo, a polícia já havia retirado o criminoso das ruas, mas de dentro da cadeia ele continuava na atividade criminosa. Polícia tira (das ruas), coloca dentro (da cadeia), mas ele continua sua atividade criminosa”, finalizou.