Erro de estratégia

Carta dos governadores foi marcada por boas intenções, mas recheada de equívocos no texto, emparedando o Congresso em vez de buscar sua parceria para a aprovação da reforma da Previdência


Por Tribuna

08/06/2019 às 07h02

Os governadores estão jogando todas as fichas no pacote da Previdência, defendendo que estados e municípios sejam incluídos, por estarem convencidos de que, se deixarem para assembleias e câmaras municipais, o processo não avança. Acertaram no conteúdo e erraram na forma, mas a tempo de correções. As primeiras cartas de apoio ao Governo Federal foram eivadas de uma pretensão que só prejudicou a conversa com deputados e senadores, pois venderam a imagem de interessados no futuro do país, enquanto os parlamentares puxavam o carro para trás. Mais ainda, ao liderar o p rocesso, o governador de São Paulo, João Doria, discursava como candidato à presidência da República em 2022 – e não como o líder do estado mais rico -, mas também interessado em fazer a mudança.

Feitas as correções, a conversa avança. É necessário, porém, levar a discussão para níveis em que todos tenham a visão clara de não se tratar de um projeto para este ou aquele político e, sim, de interesse da população, especialmente dos jovens que ora ingressam no mercado de trabalho. Além disso, é fundamental dar transparência aos números que mostram a realidade da Previdência geral, mas não apontam a situação de estados e municípios, nos quais, aliás, está a ponta do problema.

A maioria das prefeituras e estados vive um cenário de pré-inadimplência, sendo obrigada a utilizar artifícios para fechar o mês. Em Juiz de Fora, por exemplo, há várias administrações, a Previdência dos servidores é socorrida com recursos do Tesouro, o que cria incertezas e ainda compromete a capacidade de investimentos da Municipalidade.

Se a discussão da Previdência sair da banca ideológica e ingressar no viés técnico, será possível fazer as correções necessárias e aprovar o texto, que foi tentado por muitos, mas deixado no meio do caminho. Se essa questão for destravada, será possível ir adiante em outras frentes, uma vez que, a despeito de ser a principal agenda, a reforma da Previdência deve ser vista como o primeiro e principal passo para outras medidas que precisam ser implementadas.

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