O jogo da desinformação
Propagar notícias falsas deixou de ser um gesto ingênuo que se esgota nos boatos. Por trás das fake news há sempre algum tipo de interesse
Ainda é raso estabelecer a diferença entre boato e fake news, mas algumas considerações já podem ser levadas em conta quando se trata do objetivo. O boato pode ser até mesmo um gesto ingênuo sob o viés da fofoca. A fake news, não. Em boa parte, tem por trás um interesse econômico ou político na sua gênese, o que faz dela um elemento disseminador de informações falsas em plataformas sociais, especialmente o WhatsApp.
Os recentes acontecimentos de Brumadinho formaram a base para uma série de desinformações com danos, inclusive psicológicos, cuja dimensão ainda não dá para ser avaliada. Na última sexta-feira, a Tribuna e o Corpo de Bombeiros receberam ligações de pessoas preocupadas com o possível risco de rompimento da barragem de Miraí. Essa “informação” teria transitado pelas redes sociais como um fato real. Não há fundamento nisso, mas o mal já estava feito.
Drama semelhante viveram os moradores de Guarani, a 70 quilômetros de Juiz de Fora, preocupados com a possibilidade de rompimento de uma represa. Até o prefeito foi obrigado a se manifestar. Num cenário de tantos acontecimentos, a notícia falsa se espalha.
Como a Tribuna mostrou na edição de quinta-feira, de acordo com matéria publicada pela Agência Estado, na última segunda-feira (4), pelo menos 30% das notícias mais divulgadas sobre a tragédia de Brumadinho na última semana eram falsas ou incorretas. Os dados foram apontados em um estudo da Diretoria de Análises de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Não se sabe quem ganha com tal postura, mas é certo que quem perde é a própria população, que fica à mercê de propagadores com algum tipo de interesse. Como bem destacou a professora Tereza Neves, só com educação qualificada é possível encontrar antídotos para enfrentar tal problema, que não é recente nem tem sinais de acabar.
Some-se a isso a importância de se recorrer aos meios formais de informação. Com o compromisso de apurar e estabelecer o contraditório, os jornais – só para ficar numa só mídia – são a fonte ideal para restabelecimento dos verdadeiros fatos.