Depois da aula
Uma das causas para tantos licenciamentos está no risco da profissão, ora com ameaças, ora com agressões praticadas por alunos ou algum parente
O expressivo número de atestados médicos, 2.269 só este ano, para professores de Juiz de Fora é a face mais emblemática de um problema que se arrasta há anos e que ganhou novos componentes, como o atraso de pagamentos. A Tribuna, em várias ocasiões, vem apontando a mudança de padrão da vida do magistério. Se antes o professor era reverenciado pelos alunos e pelos pais, hoje há uma inversão de valores. Em outros tempos, quando o aluno ia mal, os pais cobravam dele mais estudos; hoje, se ele não se apresenta adequadamente, são os pais que cobram dos professores, inclusive no viés disciplinar.
Confrontar os professores tornou-se uma rotina nas escolas com desdobramentos para o depois da aula. Vários deles já foram ameaçados ou agredidos e, sem meios de defesa, enfrentam os danos colaterais que se apresentam, especialmente, na saúde. O número de profissionais com sintomas de depressão é preocupante, criando um passivo para as próprias instituições.
Nos últimos quatro anos, a rede estadual de ensino criou um novo problema. Sem condições de fechar o mês, o Governo parcelou os salários. Os que têm nas aulas a sua única fonte de renda tiveram que se adaptar ao novo cenário. Mais um agravante para uma categoria tão desprestigiada no país.
Regiões que mudaram o seu perfil, como a Coreia do Sul e o Japão, entre outros, têm no professor uma referência. Ele é reverenciado por conta de sua profissão. O Brasil, se quiser vencer o quadro do desemprego, da segurança e do déficit de saúde precisa, necessariamente, dedicar-se à educação, mas isso só será possível com investimentos, inclusive, na qualificação dos profissionais, algo de difícil execução hoje ante o baixo salário e seu posterior parcelamento.