O que fazer ao encontrar um animal abandonado?
Especialistas dão dicas para ajudar cães e gatos que estejam nas ruas e saber quando é necessário solicitar o recolhimento deles
Ao deparar com algum animal doméstico solto nas ruas, muita gente sente vontade de ajudá-lo, seja levando-o para sua casa ou encaminhando-o às entidades de proteção animal. Logo pensamos que aquele gato ou cachorro foi abandonado e dificilmente passa pela nossa cabeça que ele pode estar apenas perdido. Ou, como costuma acontecer, tratam-se de animais já adaptados a viver daquela forma. Para conscientizar a população sobre quais procedimentos tomar nestas situações, especialistas da área animal compartilharam, a pedido da Tribuna, algumas dicas para evitar problemas e chegar a um final feliz.
Animais de rua tanto podem estar perdidos como abandonados. Atentar-se à aparência e ao comportamento deles é o primeiro passo para ajudá-los (Foto: Leonardo Costa)A primeira coisa a ser observada é a aparência do animal. Segundo a médica veterinária Márcia Rezende, a mesma pode indicar se o cão ou o gato possuem dono ou são frutos de um abandono. Animais com tutores tendem a apresentar coleira com identificação, pelos brilhantes e bem cuidados e peso dentro da normalidade. Dentro dessas condições, o animal não é recolhido pelos órgãos de proteção animal, mas podem ficar sujeitos a equívocos por parte de protetores independentes ou de pessoas sem experiência, causando transtornos.
“Percebemos que os animais estão sendo recolhidos de maneira intempestiva. Ou seja, aquele gatinho bonito sentado do lado de fora de sua própria casa é recolhido e encaminhado para algum lugar. Por estar com boa aparência, rapidamente ele é adotado e é neste momento que começa o desgaste, pois a pessoa que o perdeu sai em busca dele. A mesma coisa acontece com os cães. Ao ver um animal circulante, a pessoa se desespera, mas, na verdade, trata-se de um animal que já se adaptou naquele ambiente”, explica a presidente da Sociedade Juizforense de Proteção aos Animais e ao Meio Ambiente (SJPA), Maria Elisa de Souza.
Uma forma de ajudar um animal já habituado na rua é dar água e comida. “Ao entregar comida a ele, é bom se afastar. Ele come e vai embora. Se ele for mais afetuoso, vai ficar próximo de você”, comenta. O recolhimento do animal de rua, para Elisa, é necessário, mas do animal da rua, que circula pelo bairro e, muitas vezes, é cuidado por várias pessoas (animal comunitário), não. “É preciso trabalhar a cabeça das pessoas para retirar essa urgência de encontrar um lar de forma imediata. A urgência é quando há riscos”, aponta.
Para tentar minimizar esses problemas, tanto a Sociedade Juizforense de Proteção aos Animais quanto o Canil Municipal de Juiz de Fora adotam critérios específicos para realizar o recolhimento, e a prioridade é por aquele animal que esteja em situações de risco, bem como animais doentes, feridos, atropelados, que sofrem ameaças e fêmeas que estejam no cio, prenhas ou com filhotes. “O ideal seria recolher todos os animais, mas não temos condições, por isso damos prioridade a esses casos. O número de adoções aumentou, e o de recolhimento diminuiu. O grande problema que enfrentamos hoje são as ordens judiciais contra os acumuladores de animais, em decorrência de denúncias de maus-tratos. São situações muito difíceis, pois, na cabeça dessas pessoas, elas estão fazendo o bem, mas não estão. Já encontramos lugares com 60 animais, muitas vezes, amarrados em correntes e em péssimas condições”, ressalta a gerente do Departamento de Controle Animal, Miriam Neder.
Ela acrescenta que o abandono não aumentou, pois ele sempre existiu, mas a divulgação sim, pois as pessoas têm tirado mais fotos e colocado nas redes sociais. “O que falta hoje não é um canil maior, mas sim a conscientização das pessoas. Cem por cento do sofrimento do animal é fruto da maldade e da ignorância humana, pois as pessoas continuam os colocando para fora de casa”, aponta.
Saúde e adoção
Caso você decida retirar o animal por conta própria, independentemente se ele esteja doente ou saudável, a veterinária Márcia Rezende orienta buscar atendimento médico. “No caso do doente é para tratá-lo. Já no aparentemente saudável, é para descartar que ele possa transmitir alguma doença, desde viroses a ectoparasitas (pulgas e carrapatos) para os animais que já se tenha em casa. É preciso que ele fique um tempo de quarentena, separado desses animais” pontua.
Se a pessoa optar por adotá-lo, Márcia ressalta que é preciso ter em mente as necessidades básicas do animal, que são os cuidados médicos (vacinas, consultas, vermifugação, castração), alimentação de boa qualidade de acordo com a idade e necessidades específicas (alergia alimentar, animal castrado, gestante ou lactante). “Ter tempo para dar atenção ao animal para brincar e passear com ele, ter um local adequado com abrigo para dormir e descansar livre de medo, seja ele real ou imaginário, e de temperaturas extremas (muito frio ou muito quente), além de espaço para correr e brincar”, enumera.
Mas, se não puder ficar com o cão ou o com gato, a veterinária indica buscar um bom adotante que possa suprir essas demandas. “As redes sociais são um ótimo meio para divulgar fotos e compartilhar com um maior número de pessoas”, finaliza.