Aviso das ruas
Desde 2013, as ruas se manifestam na busca de mudanças na instância política, e a inação do Legislativo, agora, está sendo questionada de forma mais intensa pelos eleitores
A quatro dias das eleições, os números indicam que os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) caminham para o segundo turno, estabelecendo um cenário inédito nos últimos anos, quando petistas e tucanos dividiram o protagonismo na disputa presidencial. O PSDB, com Fernando Henrique, ganhou as duas primeiras e depois acumulou quatro derrotas seguidas para Lula e Dilma Rousseff. Desta vez, o candidato tucano patina na casa de um dígito, e Bolsonaro lidera todas as intenções de voto.
Ainda é cedo para avaliar o fenômeno, especialmente num momento em que o debate se concentra na reta final de campanha, quando todas as fichas serão jogadas para desconstrução dos oponentes. Alvo preferencial da maioria, Bolsonaro não está sendo afetado por tais campanhas; ao contrário, o Ibope de segunda-feira apontou sua subida vertiginosa, enquanto Haddad estacionou, e os demais postulantes continuaram em ladeira abaixo.
Há muitas lições a serem tiradas deste pleito, a começar pela renovação que deve chegar também ao Congresso Nacional. Os políticos não perceberam – ou perceberam, mas não mudaram – que as ruas têm um novo olhar sobre os governos e as casas legislativas. As mazelas denunciadas especialmente pelo Ministério Público nos últimos dez anos provocaram um desgaste imensurável na instância política, cuja reação, em vez de rever conceitos, foi manter o status quo com uma nova roupagem.
Com as redes sociais propagando um discurso inverso, muitas vezes pautado em fake news, não há surpresa quando atos de rejeição ao atual modelo se materializam nas manifestações pelo país afora. O discurso, em vários momentos, é marcado por equívocos, a começar pela demonização da política, mas serve de alerta para a importância de mudanças que se fazem necessárias, sob o risco de, em não havendo, se caminhar para um impasse.