Entardecer da vida


Por Tribuna

02/10/2018 às 07h00- Atualizada 02/10/2018 às 08h09

Não dá para celebrar durante a Semana do Idoso diante das muitas carências enfrentadas pela terceira idade; o tema também não chegou ao palanque dos candidatos ao voto nas urnas de outubro

São inegáveis os avanços nas políticas públicas de proteção ao idoso, mas é necessário reconhecer, também, que há ainda muito a ser conquistado, especialmente entre as camadas mais carentes. A Semana do Idoso, inaugurada nessa segunda-feira (1°), será o espaço adequado para apresentação de tais lacunas, a começar pelo pouco envolvimento da sociedade. O idoso, a despeito de ser o provedor num expressivo número de famílias, é considerado um estorvo, ficando à margem do atendimento dentro do próprio lar. Chega a ser isolado num quarto como se fosse um apêndice da casa, e não mais do que isso.

É fato que tal comportamento tem um forte viés cultural. Em alguns países, especialmente os asiáticos, o velho é a referência da família, servindo como conselheiro em momentos críticos por conter mais sabedoria. Tem lugar de honra em eventos e à mesa, algo incomum nas civilizações ocidentais. Além desse descaso, não é perceptível qualquer ação para reverter esse processo. Ao contrário, a qualificação de profissionais ainda é precária, gerando um passivo preocupante, já que nem todos sabem lidar com os idosos.

Nas casas de acolhimento, há um considerável número de voluntários, mas este tem se tornado aquém da necessidade diante do crescimento geométrico da população com mais de 60 anos. Como a expectativa de vida avançou, o Governo deveria, já há algum tempo, mudar o foco de suas políticas para terceira idade, sobretudo no financiamento dos produtos necessários para tal faixa.

Na prática, porém, a situação é outra. À medida que o idoso vai envelhecendo, os custos dos planos de saúde seguem a mesma proporção; os remédios vão no mesmo ritmo, e o envelhecer, que seria como o entardecer da vida, tornou-se um pesadelo, especialmente para os idosos mais carentes, que vivem à mercê da própria sorte ou de forma precária em lares com renda abaixo do necessário.

Essa pauta não chegou nem perto nos debates dos candidatos seja aos executivos seja para os postulantes a postos no Congresso ou nas assembleias legislativas. Quem falou foi exceção.

 

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