Ação permanente
O combate à corrupção não se esgota na campanha eleitoral; deve ser uma ação de Estado, com capacidade de reverter as práticas pouco republicanas envolvendo público e privado
O combate à corrupção tornou-se uma questão que vai além do viés partidário. No recente encontro em Juiz de Fora, a Transparência Internacional mostrou que, na instância pública, é uma questão de Estado, e não de governos, uma vez que deve perpassar administrações e se tornar uma ação permanente no uso da coisa pública. O tema tem sido tratado de forma rasa na campanha eleitoral por diversas razões, a começar pelo envolvimento de vários atores em demandas que cabem mais à Justiça do que ao eleitor. Ademais, no momento em que as alianças são fundamentais, tratar o tema pode contrariar interesses.
Mas a sociedade, que assinou projetos populares para tratar do tema, não deve desistir. Vários segmentos já desenvolvem ações para minimizar os riscos e por entenderem que os negócios devem ser feitos sob transparência. As empresas privadas adiantaram sua pauta, e muitas delas já adotaram o modelo compliance em suas ações, por considerarem que só com medidas internas será possível o diálogo com parceiros sem riscos de negócios feitos à sombra. Ademais, as redes sociais tornaram-se ferramentas importantes nesse controle, pois, além de tudo, são arenas de divulgação dos ilícitos cometidos tanto na esfera privada quanto no segmento público.
A Transparência entende, porém, que ainda há um longo caminho a ser trilhado, o que exige a participação do eleitor na elaboração de boas escolhas para todas as instâncias. Ademais, é fundamental levar a discussão para dentro dos próprios partidos, hoje verdadeiras caixas-pretas, em que a prestação de contas é um mero detalhe no uso do dinheiro público. Como várias legendas têm dono, em vez de líderes, o controle tem que ser feito de modo rigoroso, a fim de evitar distorções.
A própria campanha eleitoral tem sido emblemática. Vários políticos são contemplados com expressivo volume de recursos, enquanto outros ficam à míngua, mesmo dentro das mesmas organizações. Como não há clareza no controle, a explicação fica pelo meio do caminho.