Regras para transporte por aplicativo dividem opiniƵes
Projeto de lei elaborado pela PJF estĆ” disponĆvel no site da CĆ¢mara, com propostas sobre como cada empresa de aplicativo terĆ” que se credenciar na Settra
A CĆ¢mara Municipal deu inĆcio ao trĆ¢mite da regulamentaĆ§Ć£o do serviƧo de transporte prestado por aplicativos em Juiz de Fora, com leitura da Mensagem do Executivo em reuniĆ£o ordinĆ”ria realizada na Ćŗltima segunda-feira (17). O texto, encaminhado pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) ao Legislativo, divide opiniƵes entre as trĆŖs empresas de transporte que atuam hĆ” um tempo no municĆpio: Uber, Locomotiva 18 e Blue. Na semana passada, outra companhia, a 99, passou a funcionar na cidade e se mostrou disposta a diĆ”logos sobre as novas regras.
O Projeto de Lei elaborado pela administraĆ§Ć£o municipal estĆ” disponĆvel no site da CĆ¢mara, com propostas sobre como cada empresa de aplicativo terĆ” que se credenciar na Secretaria de Transporte e TrĆ¢nsito (Settra), renovando a licenƧa a cada 12 meses e fornecendo dados das corridas para o Ć³rgĆ£o, bem como ter que pagar 1,5% do valor total das viagens. As regras tambĆ©m irĆ£o exigir o emplacamento dos veĆculos na cidade, com atĆ© seis anos de uso, dentre outras especificaƧƵes, e limitar o nĆŗmero de veĆculos a 2,5 vezes a frota de tĆ”xi em operaĆ§Ć£o. Esse valor corresponderia a 1.625 carros por empresa, de acordo com a AssociaĆ§Ć£o dos Motoristas de Aplicativos de Juiz de Fora (Amoaplic/JF).
“Com muito motorista, tem pouca corrida. Pouca corrida, pouco dinheiro. Com pouco dinheiro, nĆ£o tem como dar a manutenĆ§Ć£o que o carro merece. Hoje os passageiros comeƧam a andar em uma frota sucateada. Tem que ter uma limitaĆ§Ć£o para que possamos ter condiĆ§Ć£o de dar uma qualidade de atendimento aos passageiros e, ao mesmo tempo, conseguirmos sobreviver com uma tranquilidade.”
SĆ³stenes JosuĆ© Ramos de Souza, vice-presidente da AssociaĆ§Ć£o dos Motoristas de Aplicativos de JF
Na reuniĆ£o ordinĆ”ria, o vereador ZĆ© MĆ”rcio Garotinho (PV), 2Āŗ vice-presidente da Mesa Diretora, informou que a documentaĆ§Ć£o seria encaminhada Ć procuradoria jurĆdica da CĆ¢mara, que irĆ” se manifestar sobre a legalidade e constitucionalidade do projeto. ApĆ³s esse processo, irĆ” passar pelas ComissƵes do Legislativo, alĆ©m de ter cĆ³pia encaminhada ao Conselho Municipal de PolĆtica Urbana (Compur). TambĆ©m presidente da ComissĆ£o de Urbanismo, Transporte, TrĆ¢nsito, Meio Ambiente e Acessibilidade, Garotinho assegurou que a representaĆ§Ć£o irĆ” requerer uma audiĆŖncia pĆŗblica para ampliar a discussĆ£o. Para se tornar lei, o projeto deverĆ” ser votado e aprovado, posteriormente, em duas discussƵes no plenĆ”rio.
Lei federal
Desde marƧo deste ano, o paĆs conta com a Lei nĀŗ 13.640, que regulamenta o transporte remunerado privado individual de passageiros. A diretriz torna possĆvel a regulamentaĆ§Ć£o e fiscalizaĆ§Ć£o do serviƧo pelos municĆpios, ponto citado, inclusive, pela Mensagem do Executivo como justificativa ao projeto. A 99, empresa de transporte que passou a funcionar em Juiz de Fora semana passada, mencionou a lei em nota Ć Tribuna sobre as mudanƧas da atividade no municĆpio. Em sua resposta, a 99 “esclarece que se coloca Ć disposiĆ§Ć£o do Poder PĆŗblico para auxiliar na construĆ§Ć£o de alternativas adequadas para a questĆ£o, pensando na cidade e visando promover serviƧo de qualidade para motoristas e passageiros.”
RepresentaĆ§Ć£o se manifesta a favor
A Amoaplic/JF se demonstrou favorĆ”vel Ć regulamentaĆ§Ć£o, jĆ” que, de acordo com o vice-presidente, SĆ³stenes JosuĆ© Ramos de Souza, serĆ” possĆvel criar parĆ¢metros sobre o que serĆ” permitido aos motoristas por aplicativos na cidade. No entanto, o representante destacou algumas ressalvas quanto Ć s novas regras, como a limitaĆ§Ć£o do nĆŗmero de motoristas e determinaĆ§Ć£o de seis anos de uso dos veĆculos, defendendo um prazo maior para as novas adaptaƧƵes. “A preocupaĆ§Ć£o Ć© em como vai se basear esse corte, qual o critĆ©rio para se chegar a 1.625 motoristas e o prazo que serĆ” dado para a pessoa se adequar”, questiona SĆ³stenes.
“Queremos que seja respeitado o direito de todos trabalharem e para as empresas exercerem sua atividade privada, porque hoje muitos motoristas trabalham Ćŗnica e exclusivamente sĆ³ com isso, sustentam sua famĆlia com isso. Se esses motoristas forem prejudicados de alguma forma, isso vai acabar gerando um problema social.”
Rosivelter Pereira, representante da Locomotiva 18
De acordo com o presidente da Amoaplic/JF, JĆŗlio CĆ©sar Peixe, caso haja um corte imediato dos veĆculos que nĆ£o se enquadram nas novas regras, mais de 60% dos motoristas ficarĆ£o desempregados. “A associaĆ§Ć£o estĆ” pedindo cinco anos de carĆŖncia. HĆ” motoristas que estĆ£o devendo em mais de trĆŖs anos seus carros ainda, entĆ£o precisam de tempo para pagar”, conta. “Ainda que alguma empresa nĆ£o tenha responsabilidade social, o municĆpio tem que ter. NĆ³s nĆ£o podemos deixar esse pessoal de fora.”
A limitaĆ§Ć£o no nĆŗmero de veĆculos, no entanto, para a entidade, traria pontos positivos tanto para os motoristas quanto para usuĆ”rios. “Com muito motorista, tem pouca corrida. Pouca corrida, pouco dinheiro. Com pouco dinheiro, nĆ£o tem como dar a manutenĆ§Ć£o que o carro merece. Hoje os passageiros comeƧam a andar em uma frota sucateada. Tem que ter uma limitaĆ§Ć£o para que possamos ter condiĆ§Ć£o de dar uma qualidade de atendimento aos passageiros e, ao mesmo tempo, conseguirmos sobreviver com uma tranquilidade”, explica o vice-presidente da associaĆ§Ć£o.
Uber questiona itens
Precursora do transporte individual por aplicativo em Juiz de Fora, a Uber informou, por meio de nota, estar aberta a discussƵes sobre benefĆcios oferecidos pela tecnologia, afirmando que “regulamentaƧƵes modernas criam ambientes de inovaĆ§Ć£o”, que garantem um direito de escolha de mobilidade pelos cidadĆ£os e “opĆ§Ć£o digna de geraĆ§Ć£o de renda para motoristas”.
No entanto, a empresa questiona alguns itens relacionados Ć s novas regras. “Ć importante ressaltar que certas limitaƧƵes, como a quantidade de veĆculos que podem se cadastrar na plataforma ou a imposiĆ§Ć£o de uma idade mĆnima veicular, servem ao Ćŗnico propĆ³sito de criar uma nova cultura de privilĆ©gio concedido a apenas um nĆŗmero determinado de pessoas.” Para a Uber, a liberdade na quantidade de veĆculos Ć© o que permite que a demanda possa ser equilibrada pela oferta. AlĆ©m disso, a entidade ainda destacou a restriĆ§Ć£o de emplacamento no municĆpio de Juiz de Fora. “Ć outra barreira que, alĆ©m de ser inconstitucional, dificulta o acesso de mais pessoas Ć plataforma”, finaliza.
Empresa se preocupa com divulgaĆ§Ć£o de informaƧƵes
HĆ” trĆŖs meses funcionando no municĆpio, a Locomotiva 18 espera que o projeto nĆ£o seja um meio de inviabilizar o serviƧo, segundo Rosivelter Pereira, representante da empresa em Juiz de Fora. “Queremos que seja respeitado o direito de todos trabalharem e para as empresas exercerem sua atividade privada, porque hoje muitos motoristas trabalham Ćŗnica e exclusivamente sĆ³ com isso, sustentam sua famĆlia com isso. Se esses motoristas forem prejudicados de alguma forma, isso vai acabar gerando um problema social.”
Para Rosivelter, a exigĆŖncia de acesso ao sistema de informaĆ§Ć£o das empresas seria uma barreira. “Isso nĆ£o pode acontecer porque seria uma violaĆ§Ć£o de propriedade intelectual e tambĆ©m vai contra as regras de propriedade privada”, explica. “Nenhuma empresa pode fornecer dados tanto de motoristas quanto de passageiros, porque tambĆ©m viola o marco civil da internet. EntĆ£o precisamos pegar o conteĆŗdo total da proposta para saber quais pontos podem ser um empecilho para a formalizaĆ§Ć£o dessa regulamentaĆ§Ć£o.”
Companhia quer mesmos direitos que taxistas
AlĆ©m de presidente da Amoaplic, JĆŗlio CĆ©sar Peixe Ć© proprietĆ”rio do Blue, aplicativo de transportes que estĆ” em funcionamento hĆ” cinco meses na cidade. Como empresĆ”rio, Peixe se demonstra a favor da regulamentaĆ§Ć£o, mas destaca a necessidade de estes motoristas tambĆ©m adquirirem direitos. “Uma vez que nĆ³s somos tambĆ©m uma empresa de mobilidade urbana na cidade, nĆ³s queremos nosso carro identificado, queremos nosso motorista com identificaĆ§Ć£o da Settra, com a vistoria tambĆ©m, queremos usar faixa exclusiva como os taxistas usam”, explica.
A questĆ£o da idade mĆ”xima de seis anos para os veĆculos Ć© um receio tambĆ©m para a empresa. “Para trocar esses carros, jĆ” que o previsto Ć© abaixo de 6 anos – e isso estĆ” certo, nĆ£o estĆ” errado – nĆ³s queremos uma carĆŖncia para dar tempo de ter essa troca, e vamos brigar por isso”, conta. “O pessoal estĆ” pagando o carro ainda. Um patrimĆ“nio que comprou, deu uma entrada, nĆ£o pode pagar e vai ter que entregar o carro de graƧa para agĆŖncia, muitos nĆ£o vĆ£o conseguir fazer isso. Minha preocupaĆ§Ć£o como empresa Ć© essa tambĆ©m.”
Taxistas apoiam regulamentaĆ§Ć£o
As novas regras podem melhorar a qualidade dos serviƧos de transportes individuais prestados no municĆpio, de acordo com o presidente do Sindicato dos Taxistas, JosĆ© Moreira de Paula (ZĆ© Paulo), graƧas Ć fiscalizaĆ§Ć£o pela administraĆ§Ć£o municipal. “Com essa regulamentaĆ§Ć£o, a Prefeitura vai ter condiƧƵes de ter conhecimento da qualidade do transporte que vĆŖm prestando, da qualidade do carro, dos motoristas, porque estĆ£o exigindo deles, nessa regulamentaĆ§Ć£o, as mesmas documentaƧƵes que exigem dos taxistas. SĆ£o exigĆŖncias que acredito que vĆ£o dar uma ordenada no serviƧo, porque hoje nĆ£o tem um controle por parte do poder pĆŗblico.”
No entanto, a categoria acredita que, mesmo com a limitaĆ§Ć£o no nĆŗmero de carros que poderĆ£o rodar por aplicativo, ainda serĆ” um volume alto e que poderĆ” afetar o equilĆbrio do serviƧo. “Hoje, com a grande quantidade de pessoas prestando serviƧo pelo aplicativo, mais os tĆ”xis, tirou a sustentabilidade tanto do serviƧo de tĆ”xi, quanto do serviƧo do aplicativo.” De acordo com o presidente, hĆ” relatos de motoristas que trabalham horas seguidas por dia para conseguir dinheiro a mais, o que pode colocar o usuĆ”rio do serviƧo em risco. “Todo mundo sabe que o motorista, passou de oito horas no volante, jĆ” nĆ£o tem os mesmos reflexos. Trabalhando horas no volante coloca a saĆŗde dele em risco, o passageiro que estĆ” com ele e atĆ© mesmo a populaĆ§Ć£o, porque pode invadir uma calƧada, atropelar um pedestre, ou provocar um acidente”, finaliza.
Procurada, a Settra informou que irĆ” aguardar o trĆ¢mite na CĆ¢mara Municipal antes de se posicionar sobre as questƵes levantadas pelos representantes e empresas de aplicativo.
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