Nós somos o trânsito
Campanha serve de alerta, mas educação no trânsito deve ser um exercício permanente, especialmente nas escolas, para preparação das próximas gerações
A Semana Nacional do Trânsito — iniciada em Juiz de Fora com uma audiência pública — é um momento singular para se discutir um tema recorrente no dia a dia da população. O trânsito não significa apenas o traslado dos usuários de um lado para outro ou o “enfrentamento” diário entre carros e pedestres, mas também um espaço permanente de mobilidade. As cidades, cada vez mais congestionadas por automóveis, vivem o dilema do que fazer para reduzir os danos. No Brasil, especialmente, ainda prevalece a cultura do carro próprio, ampliada pelas linhas de crédito de longo prazo que aumentaram consideravelmente o volume de veículos nas ruas. Por outro lado, são poucos os estados que enfrentam o problema de forma objetiva, buscando soluções para uma demanda que só cresce.
As consequências desse incremento de carros nas ruas estão nas estatísticas. Em Juiz de Fora, de janeiro a julho deste ano, 1.238 pessoas foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde por sofrerem acidentes de transportes. De acordo com o Datasus, foram registrados, ainda, 21 óbitos no mesmo período e pelas mesmas razões. Tais dados reforçam a importância dos eventos que começaram nessa terça-feira com o tema “Nós somos o trânsito”. O título remete a responsabilidade para o viés coletivo. Não basta culpar motoristas ou pedestres por tais números quando a responsabilidade deve ser de todos. Quem está ao volante deve ter um olhar mais complacente para quem está nas ruas, por estar em desvantagem. Quem está nas ruas deve ver no motorista apenas uma pessoa que, circunstancialmente, está ocupando a direção, sendo, em outros momentos, também, um pedestre.
Esse enfrentamento só será resolvido com educação, o que implica discussão permanente sobre o trânsito, que deve começar nas escolas. Os jovens, a despeito de serem mais competitivos, têm maior facilidade de absorção, sobretudo por não estarem ainda marcados pelos velhos vícios das ruas. Além disso, as campanhas devem ser diárias, o que implica, é fato, recursos para uma rubrica que não está entre as mais beneficiadas por repasses. O trânsito, porém, quando deixado à margem, é um risco permanente em vez de um benefício.
A propósito, tal discussão passa longe dos palanques tanto na disputa pelo Governo estadual quanto para a Presidência da República. A mobilidade urbana é uma questão recorrente, que não pode ser deixada à margem sob a penalidade de, em algum momento, colapsar as cidades. A engenharia de trânsito tem se desdobrado para resolver os gargalos, enquanto as retenções são crescentes a ponto de o trânsito, agora, ser matéria permanente nos veículos de comunicação. As imagens de metrópoles com quilômetros de engarrafamentos são a prova de que é preciso fazer alguma coisa enquanto ainda há tempo.