Múmias encontradas em Goianá estavam em acervo do Museu Nacional
Cadáveres foram doados no século XIX ao museu incendiado no domingo, no Rio de Janeiro
A mulher teria cerca de 24 anos, media um metro e meio. Uma criança teria cerca de um mês e, a outra, um ano de vida. Viveram há mais de 600 anos, antes da chegada dos europeus à Zona da Mata mineira. Sobreviveram por todos esses anos até o último domingo, 2 de setembro, quando o fogo consumiu o prédio do Museu Nacional, da UFRJ, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Doadas ao imperador Dom Pedro II no final do século XIX, pela cafeicultora Maria José de Sant’Anna, dona da Fazenda Fortaleza de Sant’Anna, as múmias foram descobertas na Caverna da Babilônia, que pertence à famosa fazenda de Goianá, e integravam o setor de arqueologia pré-colombiana, um dos atingidos pelas chamas que também podem ter reduzido a pó o fóssil da mais antiga brasileira já encontrada, Luzia.
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De acordo com informações do site do Museu Nacional, a preservação natural no Brasil é rara devido ao clima tropical e ao solo ácido, que aceleram a decomposição dos corpos, o que dimensiona a importância das múmias localizadas nas terras herdadas por Mariano Procópio, filho da Baronesa de Sant’Anna, título póstumo. “Seus corpos foram amarrados junto a ossos, bolsas trançadas em fibras, rede de dormir, uma conta grossa e uma cruz de fios. Estes objetos e o local dos achados indicam que ela seria do grupo botocudo, da etnia Maxakali, Kanacam ou Makuni”, pontua o banco de dados da instituição que completou 200 anos em 2018.
Segundo o artigo “‘Cavernas da Babilônia’ – Narrativas e intervenções: vestígios funerários pré-coloniais na microrregião de Juiz de Fora”, de autoria dos pesquisadores André Vieira Colombo e Ângelo Alves Corrêa, as atividades no sítio arqueológico contaram com a participação de importantes nomes da arqueologia nacional, que surge, justamente, no período em que as múmias foram descobertas. “Foi Basílio de Furtado, correspondente do Museu Nacional, quem promoveu as primeiras escavações visando à retirada de esqueletos, corpos mumificados e seus acompanhamentos funerários. Várias teriam sido as incursões do naturalista acompanhado pelo conselheiro Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque e Rozendo Muniz, promovendo a remoção dos vestígios que iam sendo localizados. Diogo Velho, genro e inventariante da matriarca Baronesa de Sant’Anna, era um homem de formação erudita e enciclopédica e de grande prestígio junto ao Imperador, tendo sido presidente de diversas províncias, deputado, ministro, membro de liceus e institutos, como o Instituto Histórico da Bahia, Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Instituto Arqueológico de Pernambuco e Museu Nacional”, aponta o trabalho publicado na Revista do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas.