Penhor da igualdade


Por Jorge Sanglard, jornalista e pesquisador. Gerente do Acervo Técnico do Museu Mariano Procópio

02/08/2018 às 07h00- Atualizada 02/08/2018 às 07h44

A morte do artista plástico, escultor e gravador baiano Mario Cravo Júnior, no dia 1º de agosto, suscita a lembrança de um momento triste e vergonhoso vivenciado durante a ditadura em Juiz de Fora entre 1976 e 1978. A obra “Penhor da igualdade”, de Lincoln Volpini, em 1976, foi retirada da galeria do IV Salão Global de Inverno, realizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, por ordem da Polícia Federal, sob a alegação de divulgar conteúdo subversivo. O júri – formado pelo crítico de arte Frederico Morais e pelos artistas plásticos Rubens Gerchman, Mario Cravo Júnior e Carybé – havia premiado a obra “Penhor da igualdade”, de autoria do jovem artista belo-horizontino Lincoln Volpini, mas foi considerada subversiva pela ditadura militar e foi apreendida no dia da inauguração do Salão por agentes da Polícia Federal.

O artista premiado e todos os membros do júri foram denunciados e incursos na Lei de Segurança Nacional, estando sujeitos a prisão. Sofreram um processo na Auditoria Militar em Juiz de Fora, que durou mais de um ano, e, ao final, após inúmeras denúncias de arbitrariedade e de censura às artes, a Comissão Julgadora foi absolvida. O artista foi condenado a um ano de prisão, cumprida em liberdade, por ele ser réu primário, com direito a sursis.

O IV Salão Global de Inverno, numa segunda fase, se transferia de Belo Horizonte para Ouro Preto, integrando as atividades do Festival de Inverno, que passava a movimentar a cidade histórica mineira.

Durante o julgamento, Rubens Gerchman, que era diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, aproveitou para fazer vários croquis que resultaram num grande painel com relevos de madeira, a que foi dado o título de “O Julgamento” (1979). Ironicamente, a obra de Gerchman acabou representando a Justiça Militar, sendo julgada pelo artista.

No dia 1º de agosto, aos 95 anos, morreu o artista plástico, escultor e gravador baiano Mario Cravo Júnior (Salvador, 13 de abril de 1923 – Salvador, 1º de agosto de 2018), considerado o último modernista baiano e que era pai do fotógrafo e escultor Mario Cravo Neto (Salvador, 20 de abril de 1947 – Salvador, 9 de agosto de 2009). Ao retratar ritos afro-brasileiros, ganhou notoriedade e, além de ser reconhecido internacionalmente por sua fotografia, muitas de suas obras de arte em escultura estão em praças e parques de Salvador. A “Fonte da Rampa do Mercado” foi construída com fibra de vidro em 1970, tem 16 metros de altura, na Praça Cairu, bem ao lado do elevador Lacerda e do Mercado Modelo, dois dos mais significativos marcos arquitetônicos da capital baiana.

Frederico Morais nasceu em Belo Horizonte, em 25 de janeiro de 1936, e está radicado no Rio de Janeiro desde 1966; Rubens Gerchman nasceu no Rio de Janeiro em 10 de janeiro de 1942 e morreu em São Paulo, em 29 de janeiro de 2008; Carybé (Hector Julio Páride Bernabó) nasceu em Lanús, Argentina, em 7 de fevereiro de 1911 e morreu em 2 de outubro de 1997, aos 86 anos, em Salvador.

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