Não precisava
O uso indevido do marketing oportunista produz resultados nem sempre esperados pelos seus autores
O constrangimento vivido na terça-feira pelo presidente Michel Temer, obrigado a sair às pressas do local em que ocorreu a tragédia de São Paulo, com o incêndio e a queda de um prédio – 44 pessoas ainda estão desaparecidas -, é a face mais perversa da política quando potenciais candidatos tentam tirar proveito de situações adversas sem o mínimo intuito de resolver o problema. Estando em São Paulo para aproveitar o fim de semana prolongado, o presidente da República, sem qualquer preparação prévia, como exige a segurança, resolveu se misturar aos comuns para ver o que estava acontecendo. As cenas que se seguiram, próprias de desrespeito à figura do chefe do Governo, foram impressionantes: seu carro foi atacado a chutes por pessoas que estavam no local.
O presidente da República não é o prefeito. No caso de Bruno Covas, sua presença era necessária e imediata por conta do próprio cargo. Tinha que encaminhar soluções para minimizar os efeitos da tragédia. O presidente, não. A despeito de o prédio ser federal, sua presença, naquele momento, era mais para a mídia do que para os familiares das vítimas. Como se trata de um espaço federal, o Governo, só a partir de agora, tem que definir o que será feito.
O uso da mídia para feitos espetaculares sempre foi uma rotina no poder. O ex-presidente Fernando Collor levou essa exposição ao limite. Todos os domingos, puxava um batalhão de repórteres pelas ruas de Brasília com corridas em que aproveitava para anunciar ações de sua administração. Em princípio, deu certo; depois, o périplo perdeu a graça. Tempos depois, ele perdeu o cargo.
Temer já escapou de duas ações na Justiça e tem uma terceira em curso, embora não haja tempo nem interesse do Congresso em levar a questão à frente ante a campanha eleitoral que já está nas ruas, mas ele precisa se convencer de que não é seu estilo fazer esse tipo de exposição. Soa falso, ficando melhor tomar as providências que se fazem necessárias no seu gabinete. O efeito será o mesmo se as famílias, vítimas, inclusive, de pressão de alguns movimentos, tiverem seus pleitos atendidos. Ademais, a tragédia mostrou o drama da habitação no país. Esse, sim, um tema que deve ser enfrentado pelo seu governo e pelo próximo.