Dever de casa
A não aprovação da reforma da Previdência este ano irá repassar para o próximo Governo a missão de fazer o dever de casa com base no prestígio colhido nas urnas
O Governo joga suas últimas fichas no projeto de reforma da Previdência, devendo colocar a matéria em pauta depois do carnaval. Para tanto, até os governadores foram chamados a Brasília para uma conversa. Todos estão cientes das dificuldades e das consequências de a proposta ser rejeitada, mas ninguém dá garantias de aprovação em plenário por conta da resistência dos deputados. E não há surpresas, pois até mesmo parlamentares que conhecem de perto a questão vivem o dilema eleitoral: se votam com o Governo, correm o risco de perder o apoio das ruas. Se não votam, sabem das consequências. É uma questão de aposta.
Essa dúvida é fruto da inação do próprio Governo, que vendeu mal a reforma. O projeto chegou à opinião pública como um vilão do trabalhador, fruto não apenas do trabalho de convencimento da oposição mas também pela forma como foi tratado por Brasília. As explicações eram rasas, e as mudanças que foram feitas não melhoraram em nada a percepção dos contribuintes. Ao contrário, as muitas concessões, que foram e ainda estão sendo feitas, passam a imagem de negociação em que o conteúdo é o que menos importa. A matéria final é um clone da proposta original.
Pelo andar da carruagem, o próximo presidente ficará com a responsabilidade de fazer o que já era para ter sido feito há tempos, aproveitar o clima de vitória e fazer o dever de casa. Governos populares, em vez de aproveitar o prestígio e corrigir as distorções, jogaram para a arquibancada, mesmo cientes do que virá pela frente. A campanha eleitoral e os enfrentamentos entre os candidatos, certamente, irão jogar luzes no que cada um pensa sobre o tema. O eleitor deve ficar atento a essa discussão, porque, se nada for feito, todos perderão.