Bad romance
Que a Santa Deusa Cher me “dibre” de um mundo em que a gente seja obrigado a gostar das coisas e das pessoas. É apenas natural que as afinidades, preferências e a inegável – porém falível – regra de “santos que batem” sejam medidas por réguas inteiramente subjetivas, e que por isso apreciemos gamas diversas de gente e de tudo que há. Gosto, de fato, não se discute. O problema é que nem tudo é questão de gosto.
O fato de eu não gostar de uísque não me dá direito de angariar assinaturas para tentar baixar uma nova Lei Seca da bebida no país. Tampouco posso mover as turbas para tentar prevenir uma possível volta fashion das calças de cintura baixa, que odeio e me deixaram severos traumas. Acho U2 um saco, mas nem por isso protestei contra a Apple quando ela socou o novo álbum da banda goela abaixo de todos os proprietários de iPhones, iPads, iPods e afins – isso quando eu pertencia a este nicho socioeconômico. A criminalidade me assusta, mas jamais me fará defender a justiça “olho por olho, dente por dente”, que só tende a nos deixar cegos e banguelas.
Muito me preocupa que o nariz torcido de uma parcela da sociedade seja capaz de impedir o acesso democrático à arte, – que muito além de ser apreciação é, entre muitas coisas, um instrumento intelectual e de provocar a reflexão, ainda que pelo choque ou desconforto – ao passo que supremacia branca é considerada “questão de opinião”. É a versão em massa de uma birra mimada, “não gosto, tira isso daí pra ninguém ver.”
Lady Gaga cancelou seu show no Rock in Rio de véspera, deixando milhares de fãs à míngua, num tremendo “Bad romance”, como a própria diria em seus versos antológicos. Não precisa saber muito da carreira de Gaga para não se surpreender se ela fosse peça – ilustre – de um “Queermuseu”. Longe de mim causar intriga, mas do jeito que a coisa anda, será que foi atestado médico ou censura? Tem que ver isso aí…