Polícia investiga se tentativa de suicídio está ligada ao Baleia Azul
Hipótese foi levantada pela própria mãe de adolescente de 15 anos que ingeriu remédios
A Polícia Civil abriu inquérito nesta segunda-feira (24) para investigar se uma tentativa de suicídio envolvendo um adolescente de 15 anos pode estar ligada ao desafio Baleia Azul, no qual crianças e jovens são aliciados nas redes sociais para cumprir diversas tarefas, tendo como última etapa o autoextermínio. A hipótese foi levantada pela própria mãe da vítima, 58, durante o registro do boletim de ocorrência feito pela Polícia Militar no sábado. A família é moradora do Bairro Borboleta, na Cidade Alta.
Segundo o registro policial, por volta das 20h de sexta-feira, a mãe seguiu com o filho para a UPA de São Pedro após ele passar mal e afirmar que havia ingerido diversos medicamentos tentando suicídio. O paciente foi removido para o HPS e, segundo a assessoria da Secretaria da Saúde, permaneceu em observação no setor de psiquiatria, recebendo alta no mesmo dia.
No boletim de ocorrência, a mãe disse aos policiais acreditar que seu filho faria parte do jogo Baleia Azul, mas não soube repassar outros detalhes. O Conselho Tutelar foi acionado para acompanhar o caso. De acordo com a assessoria da Polícia Civil, a investigação está sendo conduzida pela 2ª Delegacia, responsável pelas ocorrências da Cidade Alta. Por meio da assessoria, o delegado Luciano Vidal informou que instaurou inquérito policial e que os envolvidos serão chamados para prestar depoimento.
Operação Aquarius
A ocorrência foi registrada na mesma semana em que a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão em um apartamento do Bairro Santa Helena, região central, durante investigações de participantes do jogo Baleia Azul. Batizada de operação Aquarius, a manobra partiu da Polícia Civil do Rio de Janeiro e culminou em cumprimento de mandados em 24 endereços de oito estados. Em Minas também houve ações em Belo Horizonte e Sete Lagoas.
Em Juiz de Fora a corporação não informou se o alvo seria autor ou vítima do desafio. Um computador e um celular foram analisados, “mas não foram encontrados indícios de que teriam sido utilizados no jogo”. As investigações prosseguem no Rio. Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, um jovem, 23, foi preso suspeito de aliciar 40 crianças e adolescentes para o jogo macabro. Entre os 50 desafios diários estão assistir filmes de terror psicodélicos, se manter acordado nas madrugadas e cortar os braços com lâminas. Muitas das vítimas identificadas pela polícia já estavam em depressão e prestes a cometer suicídio.
‘É preciso prestar atenção’
O desafio da Baleia Azul não desperta a preocupação apenas das autoridades policiais, ele oferece razões concretas para chamar a atenção dos pais, pois interfere de forma negativa na vida de adolescentes. De acordo com a psicóloga e professora do Centro de Estudos Superior (CES-JF) Vera Helena Barbosa Lima, é preciso pensar que os jogos virtuais são voltados a todos os adolescentes, muitos deles vulneráveis. “É preciso saber quem é esse adolescente que estamos lidando, porque há aqueles que têm uma situação familiar desfavorável, uma personalidade mais instável, com tendências à depressão, ao suicídio. Assim, para eles, esse tipo de jogo irá interferir de uma forma mais contundente. Se ele não tiver valores bem estabelecidos num contexto familiar, pode se tornar uma presa fácil para esse tipo de abordagem, seja tecnológica, seja pessoal”, pontua a especialista.
Ela afirma que os pais devem olhar os sites percorridos pelos filhos, apesar de toda a dificuldade que eles possam apresentar diante da internet. “Os filhos têm maior facilidade com a tecnologia, o que torna fácil para eles omitirem essas informações. Todavia, é importante os pais terem essa atenção. Temos visto na atualidade pais ausentes na vida dos adolescentes. Acham que eles cresceram e já podem caminhar sozinhos, mas não, precisam de orientação e regras delimitadas”, adverte Vera.
De acordo com a especialista, a partir da conduta dos filhos é possível perceber se há algo errado. Ela ressalta que o adolescente que, por exemplo, não sai do quarto, que passa o tempo todo diante do computador, é preocupante, pois pode ter sido acometido por uma compulsão de uso da tecnologia. “Outra questão é a mudança de comportamento, de humor, de relacionamento dentro de casa e com os amigos. Isso tudo pode ser observado num caso em que há a necessidade de ajuda profissional. Muitas vezes os filhos já vêm dando sinais antes da adolescência e, quando chega nesse período, que a rebeldia é maior, assim como a instabilidade de humor, é preciso prestar atenção. O adolescente que tem acompanhamento psicológico atravessa esse período de forma mais satisfatória. Ele conversa com o psicólogo assuntos que não fala com os pais, mesmo que haja liberdade. É preciso estar sempre atento”, aconselha a psicóloga.