The xx experimenta elementos em novo disco
E lá se foram cinco anos. Após o início tímido em “xx” (2009) e a estabilidade de “Coexist” (2012), o The xx retorna mais maduro e com novas experiências em “I see you” (2017).
Para falar destas mudanças, impossível não citar o responsável e esqueleto deste álbum: Jamie xx. Produtor e DJ da banda, o britânico dos beats minimalistas trouxe o potencial de “In colour” (2015), seu primeiro projeto solo, para o lançamento da banda. Foi um gatilho para o que vinha em 2017. Aqueles que escutaram seu disco já entenderam a ideia de “I see you”.
Entre as inspirações está o rapper Drake. O grupo disse em recente entrevista para a revista “Rolling Stone” que o nome do álbum foi inspirado no momento em que Drake voava sob o público na Summer Sixteen Tour. “Nós estávamos no show, e ele simplesmente começou a chamar todas aqueles pessoas diferentes – ‘Estou vendo você aí de blusa roxa, estou te vendo’ -, foi muito divertido e acolhedor, é uma afirmação de que você está sentindo a presença da pessoa. Você se sente compreendido e não se sente sozinho”, disse a vocalista Romy Madley Croft. Detalhe que, novamente entre as novas tentativas de Jamie, está um sample da faixa “Do it wrong“, do álbum “Take care” (2011), de Drake, citada nos créditos do álbum.
Já na primeira faixa, o primeiro tiro: “Dangerous”. Sirenes, beats metálicos dançantes, a mudança da voz de Oliver Sim (baixo) para uma sonoridade mais confiante e um fundo de sinceridade nas letras românticas entrelaçadas com Romy Madley Croft (guitarra), que esbanja um temporal amoroso entre a química dos dois. “Dizem que estamos em perigo. Mas eu discordo…Você teve fé em mim. Eu não vou fugir. Se tudo desmoronar, você terá sido o meu erro favorito”. As novas provas de Jamie chegam a seu ápice em “Say something loving”. O dueto de Romy e Oliver entra em novas órbitas com o sample de “Do you feel it?” (1976), da dupla pop americana Alessi Brothers. E é aí que o disco ganha seu primeiro hit. A melodia empolga com seu ritmo suave, elementos tirados lá dos anos 70 e um toque do pop moderno atual.
Em “Lips”, as batidas variadas dão um ar selvagem no início, mas em seguida o produtor e DJ eleva os riffs com beats diferenciados que encaixam nos samples e na voz elegante de Romy. Dá pra gente só balançar a cabeça lentamente enquanto o diálogo do duo se encontra fora de sua zona de conforto, revelando as qualidades do grupo. O The xx mudou.
Mas espera lá. Dando início a um “unboxing” de sentimentos passados, a sombria “A violent noise” coloca aquela energia anterior em um status morno. Oliver começa a canção fazendo perguntas e mostrando incertezas sob uma melodia de beats massivos e distorcidos em alguns trechos. O trio volta com um “roteiro musical” difícil de entender e cheia de questionamentos. “Performance”, apesar de continuar na dor de uma paixão melancólica, traz Romy sorumbática e confissões dolorosas no ar durante os últimos minutos econômicos de sonoridade, que leva arranjos sobrepostos e a aparição de um violino.
Em “Replica”, as características do passado retornam. Apesar dos beats, há uma pausa eletrônica (bem diferente de “Dangerous”), continuando no genérico já visto nas outras produções: guitarras intercaladas com os beats e a companhia do duo vocal, assim como a canção seguinte, “Brave for you”. E quando você acha que o disco vai acabar de modo sorrateiro, vem aquele tapa: “On hold”. Mais um hit. Pop grudento, primeiro single e com assinatura característica de Jamie, mais sampling. Romy e Oliver dão à introdução um clima frio, “Agora você encontrou uma nova estrela para orbitar. Poderia ser amor. Acho que é muito cedo para nos chamar de passado. Quando e onde nos esfriamos? Eu achava que tinha você na espera”. Boom! Daryl Hall & John Oates, dupla pop americana dos anos 80, entra na canção com pequenas viradas nos vocais de “I can’t go for that (No can do)“, single lançado em 1981 pelos cantores.
“I dare you” promete um single distante e lembra que, apesar da originalidade, o The xx segue com fórmulas que variam entre o r&b e o pop. Encerrando, “Test me” caminha lentamente, revelando os problemas que o trio teve nos últimos anos, mas sem deixar uma harmonia entre os arranjos e os vocais. Emblemático até na capa, “I see you” experimenta diferentes angulações, retratando a mudança provocada por Jamie xx e as influências de Romy e Oliver. A chegada dos samples acrescentam um novo elemento que parece ter se relacionado bem com a raízes do grupo, que não teve medo de dar um passo no escuro.
The xx – “I see you”
CD/Digital/Vinyl
Lançamento: 13 de janeiro de 2017
Gravadora: Young Turks
Gênero: Indie pop/R&B/Eletrônica
Faixas: 10
Duração: 39:15
Escute: ‘Say something loving’, ‘On hold’, ‘I dare you’ e ‘Replica’
Escute o disco na íntegra: