SALVADOR DA PÁTRIA
Em tempos em que a sociedade procura por lideranças, e a política anda pela contramão, o surgimento de figuras carismáticas é recorrente e preocupante. Muitas, por conta de suas ações, são citadas, sobretudo nas redes sociais, como o tipo ideal para assumir cargos relevantes, especialmente a Presidência da República. Foi assim com o ministro do STF, Joaquim Barbosa, durante o mensalão, e, agora, com o juiz Sérgio Moro, condutor da operação Lava Jato. Em entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo”, publicada no domingo, ele descartou a possibilidade de se tornar político, antecipando que, sem qualquer demérito deste segmento, prefere continuar na magistratura.
A antecipação desta posição é pedagógica, pois tira da agenda das ruas uma discussão que se apresentava preocupante. Moro não é e nem pretende ser candidato a presidente da República, mas as redes sociais o consideram o salvador da Pátria por conta das condenações na instância de Curitiba.
Nos anos 1980, sob a regência de José Sarney, a inflação corroía os salários, e a corrupção já era sistêmica. Em Maceió, o governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, fazia ações “espetaculares”, tornando-se o caçador de marajá, com um discurso comprado pela sociedade e que o levaria, depois, ao comando do país. Deu no que deu. Collor foi apeado pela própria rua que o elegeu e é um dos envolvidos na série de denúncias de corrupção que perpassa o noticiário.
A própria política é responsável por tais figuras, uma vez que, além de não acompanhar o sentimento de mudança, insiste em velhas práticas, olhando apenas para o próprio umbigo. Em busca de um norte, a sociedade elege tais salvadores, mesmo com os riscos que a proposta comporta.