Precisamos falar sobre o Legislativo
A separação constitucional dos três poderes não garante que nossa atenção seja dividida igualmente entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Pelo contrário: na lógica da espetacularização da política em que vivemos, é natural que o peso dado ao Executivo (e seus representantes) seja muito maior – inclusive pelos veículos de comunicação.
A tendência de foco ao Poder Executivo não é atual – e, portanto, independe dos debates recentes sobre “pedaladas” ou supostos crimes de responsabilidade. O que se percebe, em todas as campanhas e os mandatos eleitorais, são especulações e comentários sobre os candidatos ou eleitos à Presidência, governos estaduais ou municipais. Enquanto isso, pouco se debate o pensamento daqueles que desejam legislar e que, por isso, são fundamentais para garantir a governabilidade e o avanço de propostas de interesse coletivo.
Presidentes, governadores e prefeitos não agem sozinhos. Na verdade, sem a devida sustentação legislativa, eles são os que menos governam, ficando à mercê dos humores daqueles que foram deixados de lado por nós na hora do voto. Ignorar qual será a composição do Legislativo e esperar que o Executivo resolva os problemas por conta própria é desconhecer o funcionamento básico do próprio sistema eleitoral – e esta é uma ingenuidade que devemos eliminar a qualquer custo, inclusive na política municipal.
Por isso, é preciso coerência ideológica na escolha dos votos – tanto para o Executivo quanto para o Legislativo. Caso contrário, estaremos sempre presos a uma política egocêntrica e restrita apenas às demandas de alguns blocos ou grupos, que, na maioria das vezes, desconsideram o interesse público. Foi o que vimos (majoritariamente) na Câmara dos Deputados no domingo, dia 17. Aproveitando a visibilidade nacional, muitos parlamentares se esqueceram de suas atribuições e dedicaram abraços às próprias famílias, regurgitando frases prontas que serão utilizadas nas próximas campanhas eleitorais. É o que queremos?
Os deputados foram eleitos democraticamente, mas certamente com um rigor ideológico muito menor do que a Presidência da República. Desta forma, não é raro esquecermos os nomes daqueles que elegemos para o Legislativo, enquanto buscamos soluções apenas no Executivo. Por isso, precisamos falar (e refletir), também, sobre o Legislativo. Sem governabilidade, só nos restam os espetáculos personalizados e a certeza de que o país é mero coadjuvante em um show de horrores.