Estupro: é possível ficar indiferente?


Por IONE MARIA MOREIRA BARBOSA, TITULAR DA DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO À MULHER

28/06/2016 às 07h00- Atualizada 28/06/2016 às 08h29

No dia 10 de abril deste ano, a Tribuna publicou matéria, assinada pela jornalista Daniela Arbex, relatando a grave ocorrência de estupros e de assédios na UFJF e nas instituições particulares de ensino superior de nossa cidade. Impossível não ficar indignada.

Todavia, sempre que acreditamos ter chegado a níveis insuperáveis de degradação, nesta temática, a realidade nos surpreende com situações como a experimentada pela adolescente de 16 anos, que, em maio deste ano, foi estuprada por mais de 30 “homens”, no Rio de Janeiro.

Mais do que a brutalidade e a covardia demonstradas pelos bárbaros que o protagonizaram, o fato surpreende pela mórbida iniciativa de eles próprios terem colocado na internet imagens da adolescente nua. Em áudio divulgado, ouvem-se gargalhadas, em patente desprezo ao corpo da vítima, que ali não passava de uma coisa já usada e, por isso mesmo, descartável.

Não fosse esta circunstância – a da divulgação das fotos e do áudio -, o episódio com certeza se incorporaria ao incalculável universo dos casos de estupros não levados ao conhecimento público.

Mas é exatamente com base no conjunto desses fatos (registrados e não registrados) que vem se consolidando a “cultura do estupro”, a cada dia nutrida pelo grave sentimento da indiferença social.

Não nos esqueçamos, todavia, de que “o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença”, como lucidamente nos adverte Elie Wiesel. Indiferença que não nos deixa escandalizar, mesmo quando uma mulher é covardemente violada na sua liberdade, na sua integridade, na sua essencial condição de ser humano, de pessoa, de gente.

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