Profetas do apocalipse
“Esqueçamos janeiro na China e transfiramos o momento para os dias atuais aqui no Brasil. Dias caóticos, vocês não acham?”
Estava tudo normal na passagem de ano, todos vestidos de branco, desejando uns aos outros felicitações de paz, saúde, amor e dinheiro no bolso. Alguns faziam planos para viagens, outros para casamentos, outros para serem pais, etc. Os horizontes estavam cuidadosamente agendados, day by day. De repente, na China, o Nada se materializou como nunca antes visto pela nossa geração. Imagine a existência como uma esteira rolante, e a realidade se materializando a cada instante. E, neste instante, você negando “n” escolhas para escolher somente uma. O Nada é aquilo que você não escolheu e, portanto, não se materializou. Não tente racionalizar, pois não conseguimos apreender o Nada, já que ele é inerente ao Ser, como já dizia Martin Heidegger no século XX.
Esqueçamos janeiro na China e transfiramos o momento para os dias atuais aqui no Brasil. Dias caóticos, vocês não acham? Isso se deve ao fato de eles ainda não estarem devidamente controlados, como desejamos fazer com tudo que conhecemos, da pessoa que amamos à cadelinha castrada que vive ao pé da sua cama. Quando estes dias caóticos passarem e os “normais” chegarem, estaremos aliviados por eles se apresentarem controlados. Percebe-se, portanto, que o homem se fundamenta pelo hábito. Se a ação desenvolvida e a causa como resultado forem boas, tendamos a fazer a mesma ação para que tenhamos o mesmo bom resultado, como já dizia o filósofo David Hume no séc. XVIII.
Agora transfiramos nosso interesse para a Covid-19 e as informações que recebemos dos vários canais de comunicação: TV, rádio, mídias socias, etc. Além das notícias, não são somente notícias, né? São, também, as malditas interpretações (leia pelo menos a Apologia de Sócrates, caro intérprete!)… Fulano diz x, Sicrano diz y, Maria diz w e José diz z! Pronto, onde está a maldita verdade? O niilismo responde!
A verdade a que estamos acostumados é a verdade relacional, criada pelos pensadores burgueses da Idade Moderna e que vale tanto quanto a interpretação de Marx para a Revolução Francesa: nada! Percebamos agora a Verdade como os gregos nos ensinaram e que esquecemos: a Aletheia. A Verdade grega é arevelada. Percebe-se, no início do fato ela velada. Aos poucos, ela vai se desvelando até se tornar a realidade desvelada. Aletheia é a Verdade no sentido de descoberta da realidade, constatação dos fatos, mas cuidado! Os fatos, todos eles, são interpretativos, como já dizia Nietzsche, século XIX.
Quem estará certo? A resposta é vazia, como vazio é o sentido da nossa existência e vazio são os nossos desejos… Mas não se preocupe tanto, a marcha civilizatória continuará por muitos e muitos anos ou até que o próximo asteroide nos dizime.
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