Em defesa das praças


Por Gerson Romero de Oliveira Filho, geógrafo e professor

28/03/2019 às 06h21- Atualizada 28/03/2019 às 08h07

Praças são importantes espaços públicos com grande potencial para propiciar a convivência, o lazer, a atividade física e até a melhoria das condições ambientais urbanas, caso estejam adequadamente arborizadas e com jardins bem cuidados. No entanto, defender a manutenção das praças no atual estágio do desenvolvimento urbano não é tarefa fácil, principalmente quando o descaso das políticas urbanas anuncia sua obsolescência. Uma vez abandonadas, se tornam alvos fáceis de vândalos, da especulação imobiliária e de administrações negligentes, que as destroem com a justificativa de melhorar a mobilidade urbana, privilegiando o “carrocentrismo” (priorização dos automóveis individuais) em detrimento do transporte coletivo e dos pedestres.

Qual seria a importância das praças dentro de um espaço urbano cada vez mais adensado e caótico? Ao longo da história, as praças passaram por significativas mudanças em relação às suas funções, enquanto espaço público. Um exemplo foi a ágora grega, espaço destinado ao debate político e ao exercício da cidadania. Atualmente, ainda são utilizadas para comícios, lazer contemplativo, pregações religiosas, encontros, shows, festas, feiras, peças teatrais e até por barzinhos. Por serem espaços abertos, são democráticas e favorecem o convívio da população, condição fundamental para a sociabilidade. Em casos extremos, foram ocupadas ou transformadas em locais de moradia por indivíduos ou grupos sociais que lutam pela sobrevivência diária.

As praças conferem identidade simbólica a várias cidades por conterem patrimônios materiais artísticos que estetizam e impregnam a história local e de parte da população. Espaço do verde (árvores e jardinagem) e das águas (lagos e chafarizes), as praças contrastam com o cinza do concreto/asfalto que domina a monotonia e a racionalidade técnica do espaço urbano moderno.

Negligenciadas pelo Poder Público, aos poucos, as praças foram perdendo seu papel de centralidade do cotidiano urbano. Em geral, estão sujas, mal cuidadas, e muitas foram impermeabilizadas com concreto e pedra portuguesa (os mosaicos). As novas formas de lazer do mundo contemporâneo também contribuíram para torná-las desinteressantes e, em alguns casos, anacrônicas.

Mas, voltando à questão inicial, quais seriam, então, as justificativas para manutenção das praças? Além da importância da dimensão estética e do lazer, elas podem amenizar alguns problemas ambientais urbanos. Se revitalizadas, contribuirão para melhoria das condições térmicas (clima urbano) em diversos pontos da cidade, através da interferência na dinâmica da ventilação urbana ou pela criação de ilhas de frescor que contrastam com as ilhas de calor, típicas do adensamento urbano insustentável.

Praças bem cuidadas, arborizadas e com pavimentos permeáveis melhoram a drenagem das águas pluviais, uma vez que promovem uma maior infiltração. Juiz de Fora, por exemplo, possui várias praças que precisam ser bem cuidadas e criativamente integradas aos projetos de transformações estruturais da cidade. Nesse campo de ação, não podemos fazer distinções. Nos referimos tanto às praças de bairros mais periféricos quanto às do perímetro urbano central, afinal, todas são importantes. Acreditamos que ainda é possível resgatar seus valores simbólicos, revitalizando, com competência, sua estética para permitir novas formas de apropriação, compatíveis com as demandas sociais, culturais e ambientais contemporâneas.

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